sexta-feira, 25 de abril de 2008

Legado das nossas misérias

Machado de Assis em sua fantástica obra “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, costurou uma frase que, analisada em seu contexto e aplicada na atualidade, é uma pérola: “legado das nossas misérias”.

Olhando o Brasil, à luz da mídia e tendo a massa como caixa de ressonância, causa forte impressão o episódio envolvendo o assassinato da criança de seis anos (Isabella), tendo a sua madrasta e seu pai como protagonistas principais.

A mídia, escudada pelo apoio de muitos do povo, investigou, julgou e condenou o casal em tempo recorde.

Deixo bem claro que não estou querendo fazer a apologia do casal, longe disso! Incomoda o profundo desrespeito aos princípios básicos da Justiça.

O efeito do homicídio na sociedade é imensurável, mas nem por isso as etapas do ordenamento jurídico devem ser desconsideradas. Há que se atentar para o princípio do contraditório. Uma investigação perfeita conduzirá ao (s) assassino (s) e legitimará a prisão preventiva e posterior condenação. Nada deve ser feito diferente disso sob risco de se rasgar a Constituição Federal do Brasil.

Por que, afinal, existe essa reação?

O povo está cansado da violência e tem sede de justiça imediata. Coloca, inclusive, esse crime na mesma vala comum dos muitos crimes que ocorrem no país. O caso em tela causa comoção, mas não deve ser confundido com crimes que ocorrem no trânsito e em assaltos – por exemplo. Uma situação como essa, ocorrida numa família da classe média, requer punição, claro, mas deve ser observada sob o ponto de vista da raridade. Isso mesmo! Não acontecem crimes assim todo dia, mas todo dia acontecem crimes tidos como comuns.

Eis que a sede de justiça (ou vingança) fez a massa protestar, pichar e querer linchar.

Por quê?

“Legado das nossas misérias”.
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quarta-feira, 23 de abril de 2008

Um novo sinal do fim


Existem pessoas com uma característica absurda (acreditam que seja vocação): são alarmistas. Sempre estão vendo pretextos para o fim imediato da história humana.

O papa passou pelos Estados Unidos e foi embora. Antes disso a internet foi varrida por análises proféticas alarmantes e de origem duvidosa. O “achismo” profético povoou o meio religioso protestante.

Como as previsões não foram satisfeitas a contento já surgiu um novo sinal do fim dos tempos em substituição à visita papal ao poderoso país norte americano.

O terremoto que foi sentido em várias cidades paulistas no dia 22/04/2008, às 21 horas. Eis o grande sinal!

Já existem pessoas dizendo que o fim está às portas. É como se o Brasil, de repente, tivesse passado a ser o termômetro divino indicando a temperatura febril da humanidade.

O caos devasta o mundo e um tremor de terra no Brasil passou a ser o sinal do fim. Bento XVI já era!

Cabe até uma reflexão: o caos é mais gratificante para o alarmista do que o remédio para o enfermo.

Lamentável!
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terça-feira, 15 de abril de 2008

O papa e o presidente poderoso

Bento XVI está nos Estados Unidos da América do Norte. O líder máximo da maior comunidade cristã está no País mais poderoso do planeta. O encontro dos gigantes: aquele que detém o poder temporal e o que difunde a doutrina.

Muitos entendem que esse encontro é peça fundamental do quebra-cabeça do quadro profético. Um outorgando poder ao outro. Fusão dos maiores poderes sobre a terra.

Maiores poderes? O mundo islâmico está fora disso? E as religiões orientais? As profecias para o mundo estão adstritas a um país do ocidente e um líder cristão? E os outros: estão longe da graça e da ira divinas?

Verdade ou mais algum arroubo de arrogância?

Precisamos ver o que acontecerá nessa visita papal e sua repercussão no contexto protestante.

Por enquanto é momento de ouvir, ler e falar pouco e bem depois. Bem depois mesmo! Não por omissão ou proteção de imagem anti-alarmista. Trata-se cautela.
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sexta-feira, 4 de abril de 2008

Ser rico: que vida dura!

Deparei-me com esse texto no provedor UOL e resolvi partilhar com os amigos. O ser humano é incurável! Nem mesmo o dinheiro em abundância lhe traz a tranqüilidade necessária. Recomendo a leitura.
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Não é fácil ser um bilionário
Michael Johnson - em Bordeaux, França

Um bilionário de Seattle para o qual já trabalhei enfrentou dificuldades financeiras há dois anos, quando seus negócios começaram a ruir.

Ele teve que vender sua ilha particular e se livrar de seu iate (um dos maiores do mundo) ao mergulhar em relativa pobreza.

Meu ex-empregador, um magnata da telefonia celular, agora saiu da mais recente lista de bilionários da revista "Forbes" enquanto luta para se manter. Só lhe restam algumas poucas centenas de milhões e ele não é um homem feliz.

Apesar da riqueza extraordinária deste empreendedor e outros de sua liga, ela nunca parece lhes proporcionar serenidade. Eles sabem quão rapidamente pode ser perdida, o que os faz perguntar: "Por que o suficiente não é realmente suficiente?"

Até mesmo detentores de velhas fortunas são atormentados por esta pergunta. Um consultor amigo meu, que antes trabalhava para Nelson Rockefeller, lembra de tê-lo ouvido se queixar de seus ataques recorrentes de insegurança.

A riqueza líquida pessoal de Rockefeller era de cerca de US$ 3 bilhões. Ao ser perguntado quanto precisava para poder relaxar, Rocky fez uma breve pausa e disparou: "Quatro bilhões devem dar", ele disse.

A dinastia Rothschild tinha problemas semelhantes. Trabalhando para a "Business Week", eu certa vez me encontrei separadamente com os ramos francês, britânico e suíço da família. Chamou-me a atenção a briga familiar em torno de como transformaram sua grande fortuna em pequenas fortunas.

Um membro do ramo suíço da família me confidenciou seu desprazer com seus parentes franceses, que conseguiram perder dinheiro em imóveis franceses. "É realmente preciso se esforçar para conseguir isso", ele disse.

Eu suspeito que não exista algo como ter dinheiro suficiente. Na verdade, muitos dos super-ricos concordam que quanto mais você tem, mais você se preocupa a respeito. Suas histórias estão em um grande livro, "Riquistão", de Robert Frank.

Frank cita um empreendedor americano, identificado apenas como George, como tendo dito que ele e outros bilionários (1.125 deles segundo a última contagem da "Forbes") sofrem com uma combinação de cobiça e medo. "Se as pessoas ficam preocupadas, é parte do que as motiva", George é citado como tendo dito. "Nós estamos sempre preocupados."

Certamente não basta mais ser milionário. A equipe da "Forbes" disse que já existem mais de 8 milhões de americanos nessa lista, de forma que o que importa agora é a lista dos bilionários, mesmo que apenas como esporte de espectador. Alguns dos concorrentes da Microsoft adoraram ver Bill Gates ser derrubado do topo da lista neste ano pelo investidor de Omaha, Warren Buffett (US$ 62 bilhões), e pelo magnata mexicano de telecomunicações, Carlos Slim Helu (US$ 60 bilhões). Gates caiu para terceiro, com US$ 58 bilhões.

Os bilionários não são apenas americanos. Indianos, russos e chineses estão despontando em números crescentes entre os super-ricos.

Mas com grandes riquezas pode vir grande desconforto, segundo pessoas que estudaram a psicologia da riqueza. O principal problema é a "affluenza" -a culpa em relação ao abismo entre os muito ricos e as demais pessoas.

Um segundo problema é a compulsão para continuar a acumular ainda mais. O Dr. Paul Wachtel, professor de psicologia do City College e City Graduate Center de Nova York, examinou este problema em seu famoso trabalho, "Full Pockets, Empty Lives" (bolsos cheios, vidas vazias), no "American Journal of Psychoanalysis".

Wachtel reconheceu que o dinheiro pode ser um símbolo de sucesso, mas ele identifica a inveja e a ganância como os motivadores escondidos por trás do anseio por mais e mais dinheiro.

"A busca pelo dinheiro e bens materiais como meta central da vida cobra um preço bem alto", ele escreveu. Os estudos mostram que o dinheiro exerce "um papel notavelmente pequeno" na verdadeira felicidade ou bem-estar de uma pessoa. Na verdade, a intimidade e a vida familiar são freqüentemente sacrificadas em nome do prover para a família.

E a inveja alimenta o impulso da ganância, argumentou Wachtel: "Nós podemos querer não apenas o que os outros têm, mas muito mais do que os outros têm, ou mais apenas pelo mais".

Eu falei recentemente com Wachtel e perguntei a ele para onde a cultura da riqueza estava levando. As pessoas na faixa de renda dos seis dígitos têm problema em controlar a busca por mais, ele disse: "Elas se tornam escravas da manutenção do nível material que conseguiram. Se torna uma esteira mecânica sem prazer".

Ele tinha alguns conselhos para os ricos infelizes. "Se os 5% mais ricos trabalhassem dois terços do que trabalham, e ganhassem dois terços do que ganham, suas vidas seriam imensuravelmente mais ricas", ele disse. "O tempo, eles descobririam, é um bem muito mais valioso do que o dinheiro."

*Michael Johnson é um redator da "Business Week" que vive em Bordeaux.

Tradução: George El Khouri Andolfato
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Fonte: http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/herald/2008/04/03/ult2680u667.jhtm
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sábado, 29 de março de 2008

São Paulo e a escalada do mal...

A cidade de São Paulo assiste à escalada do mal com a indiferença típica das cidades gigantes e caóticas. A locomotiva anda em direção ao precipício. Caos e desespero. A cidade dos milhões de carros está prestes a parar. Tenho enfrentado São Paulo do amanhecer ao por-do-sol, na maioria das vezes dentro do carro sob o desespero provocado pelo trânsito medonho.

Mas a escalada da maldade não está apenas na loucura de Sampa. Está na frieza crescente entre as pessoas. A iniqüidade tem prosperado e o amor de muitos vem se esfriando (conceito bíblico). O que mais pode se esperar desse gigante desengonçado?

Faz alguns dias eu ouvi um cidadão morador de rua apontando uma grave diferença entre São Paulo e uma cidade do interior do estado.

Em sua narrativa dizia que um conhecido seu, no interior, quando precisa de roupas novas, um banho, assistência médica, age da seguinte forma: despe-se e vai para a rua. No meio do trânsito e nu ele começa a esmolar. Logo aparece alguém que o conduz a um centro de convivência. Recebe um banho, roupas limpas e comida. Até exame médico lhe é garantido antes de voltar à rua.

Esse cidadão de rua paulistano resolveu fazer o mesmo numa avenida daqui. Logo foi abordado por forças truculentas que não lhe deram nada a não ser algumas pancadas.

Ele concluiu dizendo que São Paulo não é uma cidade humana.

Eis aí uma das muitas visões que se tem de São Paulo. Uma cidade que tem sido engolida pela explosão demográfica e suas conseqüências. O padecimento alcançou as demais classes sociais. Todos lacrimejam.

O desespero se acentua diante da impossibilidade de mudança. Tanto do caos quanto da cidade. Como sair daqui e ir para outro centro se o momento é desfavorável?

Em meio desse caos as pessoas se perguntam: como comportar? Só quem vive aqui tem a dimensão do fardo carregado.

Enfim o que reserva o futuro a essa metrópole? O que essa gigantesca cidade reserva aos seus moradores? Como diminuir o seu ritmo? Como impedir que ela fique travada em função do seu excesso de tudo?

Sampa caminha para a exclusão total de seus moradores, alijando-os do convívio social com moradores de outros rincões brasileiros. Somos filhos da indiferença que marca essa cidade de forma mais aguda e dia após dia. São Paulo transforma pessoas e grupos. Todos aqui são diferentes. Até os religiosos daqui não têm a mesma desenvoltura e comportamento calmos que lhe são peculiares. A metrópole a todos influiu de forma transformadora e sempre para o pior...
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quinta-feira, 27 de março de 2008

Questão de perspectiva?

Hoje eu saí do escritório, na Zona Norte de São Paulo, e fui em direção à Avenida Cruzeiro do Sul para atravessá-la. Naquele ponto ela é bem movimentada, roteiro usado por pessoas que saem do ônibus e do metrô. Parei e fiquei esperando a liberação do sinal verde próximo à via do pedestre. Fiquei olhando...

Notei que do outro lado da avenida alguém deixou cair uma laranja, que escorregou na direção da pista num ponto levemente inclinado. Curiosamente a laranja começou a rolar pela pista. A fruta rolava de lá para cá bem lentamente. Muitos carros iam passando e eu fiquei esperando para ver se ela chegaria incólume ao outro lado da pista.

E não é que chegou? Mais de um minuto rolando lentamente, percorrendo três faixas de rolamento, muitos carros passando. Finalmente a laranja parou, encostada na calçada. Não tinha como avançar mais.

Fiquei pensando:

O que diriam os estatísticos e demais observadores quanto à possibilidade de tal evento ocorrer (de novo) nas mesmas circunstâncias e com os mesmos resultados? Quem sabe os cálculos apontariam “n” possibilidades e isso tudo ficaria no universo estatístico.

Pensei mais: a laranja é uma fruta não pensante, certo? Mas se fosse um ser inteligente o que pensaria depois disso tudo? Quem sabe algo assim: milagre! Bendito milagre! Ou algo diferente?

Como posso interpretar um evento assim? Como cada um vê? Questão de perspectiva?

Pensei na laranja: ela teve sorte? E se alguém a pegar e a comer? Azar da laranja, sorte de quem a encontrou. E se esse alguém presenciando a cena e com muita vontade de saborear a fruta a tomasse depois do episódio, o que diria? Que sorte! Ou, talvez, milagre! Ou outra exclamação?

São divagações, a partir de uma simples laranja que rolou de um lado para o outro da pista movimentada e chegou inteirinha ao seu repouso provisório. Até que seja pisada, comida ou simplesmente jogada no lixo.

Para alguns: estatística do começo ao fim. Para outros: um convite à reflexão.

Finalizo perguntando:

Milagres existem? Como cada um enxerga o tema? Ou seria uma questão de perspectiva?
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quarta-feira, 26 de março de 2008

Tocaia Grande - I

Gosto de Machado de Assis, José de Alencar e, entre os mais recentes, considero de forma especial José Mauro de Vasconcelos, autor de vários livros entre eles “Meu Pé de Laranja Lima” e “Banana Brava”. Sou admirador de Érico Veríssimo. São vários e fico nesses por enquanto.

Estou agora tentando dar “atenção” especial à obra de Jorge Amado. É curioso como conheço de sua obra sem a ler. Somente filmes e novelas. Agora fui à fonte e comecei por um livro interessante: “Tocaia Grande”.

Tenho por hábito ler vários livros ao mesmo tempo. Escolho a minha leitura noturna e obrigatória conforme meu estado de espírito. Parece-me que esse livro veio sob medida.

Eis uma sinopse (wikipedia):

Tocaia Grande é a história da fundação de uma cidade no sul da Bahia numa época em que as plantações de cacau eram adubadas com sangue. A história conta a disputa pela terra e pelo domínio político entre os coronéis Boaventura Amaral e Elias Daltro.

Tudo começa quando Natário da Fonseca quer deixar de ser um simples jagunço para virar coronel. Natário se destaca comandando o grupo de Boaventura. Com esse destaque, ele ganha a patente de Capitão e, com isso, algumas terras. Natário começa a plantar cacau e incentiva a fundação de uma nova cidade cujo nome será Tocaia Grande, palco de conflitos com os coronéis de Itabuna que querem continuar dominando a região e não admitem a ascensão de Natário.

No meio da disputa, surge a prostituta Júlia Saruê, que é perseguida pelos coronéis. Júlia tem quatro filhos, que abandonou quando estes eram pequenos. São eles, Sacramento, Ressurreição, Aurélio e Bernarda.

Ressurreição, ou simplesmente Ressú, fora criada com o Padre Mariano em Itabuna. Apaixonada pelo cego Coronel Felipe Sanpaio, a moça vive com ele o romance central da história. Bernarda é apaixonada por Natário, que, juntamente com sua esposa Zilda, foi quem a criou. Com a morte de sua esposa, Natário fica livre e cai nos braços de Bernarda. Sacramento é a alegria de Coronel Boaventura, que ao morrer pede a Natário que se encarregue da moça encaminhando-a da melhor forma possível. Aurélio é vítima de sua própria revolta contra o poderio dos coronéis, que o leva a desgraça.

A morte do Coronel Boaventura traz a Tocaia Grande o seu filho, Venturinha, que é obrigado a largar de sua boa vida na Europa, e assumir as finanças e a posição política deixadas pelo pai. Ao saber que o Capitão Natário não irá mais lhe assessorar, pois o seu compromisso era com o pai e com a morte dele cessou suas obrigações, Venturinha se revolta e vai á cata de vingança.
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sexta-feira, 21 de março de 2008

Paixão de Cristo

Sexta feira santa ou como gostam alguns, sexta feira da paixão. Um dia em que muitos se julgam de luto, não comem carne vermelha e entregam-se à devoção. Outros, ainda que não professando o catolicismo, servem-se da data para fazer orações e também promover o proselitismo. De variadas formas os cristãos pelo mundo concentram-se, cheios de fé ou de tradição, neste dia, o da Paixão de Cristo.

A televisão mostrou acontecimentos no mundo inteiro. No Vaticano, em Jerusalém, várias cidades no mundo. No Brasil o destaque foi a cidade de Aparecida do Norte, São Paulo.

O que chama a atenção de forma especial?

As convicções de cada crente e/ou de cada igreja ou seita.

Interessante como cada um encontra um motivo ímpar para desenvolver a sua fé. Pessoas fazendo penitências de joelhos e outras fazendo longas caminhadas. Muito choro e muita devoção. Várias igrejas e seitas têm rituais diferentes. Algumas vêem na fé das demais a personificação da ignorância e do fanatismo. Curiosamente outros vêem nestes últimos a mesma coisa. Cada segmento com sua fé, que julga ser a genuína, adorando na sexta feira da paixão.

O que leva as pessoas a esse tipo de procedimento? A força do hábito via tradição? Convicção decorrente de verificações pertinentes? Necessidade de se apegar a algo de cunho espiritual?

Eis aqui um mistério. Será? Para muitos se trata de fé e que por si só justifica os atos humanos em busca de Deus. Outros seguem tudo isso por força do costume. Muitos apenas observam. Há os que vêem nesse movimento uma oportunidade de negócios (ovos de páscoa, santinhos e outros).

O que significa para você? E para mim? Um dia de contrição ou um feriado para descanso? Um dia para exercitar a crença ou para enxergar bem de perto a força da “frente da fé” que a muitos mobiliza? Momento de preces ou ocasião para ver o poder desse freio social que está atuando no mundo inteiro?

Penso: o que seria do mundo sem a fé, ainda que cega? Seria o caos. A religião, sendo verdadeira, é fonte permanente de esperança. E sendo falsa? Serve, pelo menos, para frear a massa, atuando como eficaz instrumento de alienação.

Vamos refletir?
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quinta-feira, 20 de março de 2008

O trabalhador e o sono

Há um texto bíblico, contido em Eclesiastes, capítulo 5, versículo 12, que tem se mostrado significativo em minha vida nos últimos dias: “doce é o sono do trabalhador, quer coma pouco quer muito; mas a fartura do rico não o deixa dormir”.

Pode parecer piegas, mas desde o dia 10/03/2008 eu tenho madrugado para enfrentar a cidade de São Paulo. O despertador me chama às cinco horas da matina e depois do desjejum sem motivação (sono) eu saio com a minha filha primogênita na direção do bairro da liberdade, capital paulista. Ela fica por ali para o cursinho pré-vestibular e eu sigo para o escritório. Chego cedo e me dedico ao trabalho e aos demais afazeres (entre eles atualizar esse blog).

Quando volto para casa (noite) eu penso neste verso acima. Na realidade eu me fixo apenas na primeira parte dele. Para quem tem tanta dificuldade para dormir (meu caso) o sono vindo à tarde e à noite, com todo o vigor, é motivo para comemoração. Nem acredito que por volta das onze horas da noite eu já estou deitado e quase dormindo...

Tenho conversado sobre isso com minha filha. Ela mesma tem dormido cedo, sentindo os efeitos dos dias corridos e do estudo puxado. É uma escola de vida, essa rotina obrigatória que se imiscui na vida do paulistano. É correr, correr e correr. O prazer chega à noite (quando possível) através do doce e merecido sono do trabalhador.

Não tento subliminar - compreenda amigo leitor, mas sinto que é necessário valorizar as pequenas coisas que nos acontecem durante ou no final do dia. É um modo de “compensar” as dificuldades e sofrimentos peculiares neste mundo louco e moderno.

Continuar a luta é preciso. Viver confortavelmente nem sempre é possível. Sabe-se que a dedicação à batalha diária nos dará, independentemente de sucesso, o direito ao sono doce – galardão do trabalhador.
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terça-feira, 18 de março de 2008

Quinze anos!

Dia dezoito de março de 1993. Maternidade Santa Joana. Eis que a minha filha, a segunda (são duas) veio à luz. As circunstâncias, se comparadas quando nasceu a primeira, eram favoráveis. Estávamos morando em casa “própria” (financiada) e em condições de oferecer uma vida com menos sobressaltos.

Estou ficando velho. Uma filha com dezoito e outra com quinze. Vejo-me no espelho, olho para minha esposa e consigo dimensionar nosso momento atual. Há muita luta à frente, mas chegamos até aqui. Não é muito? Claro que é...

No momento apenas me concentro em apreciar esse momento. O do aniversário de quinze anos da caçulinha.

Vejo no crescimento dela uma evolução em minha vida. Sinto a felicidade de estar cumprindo um papel familiar exuberante: o de ser pai. E por isso vou mais uma vez pensando: “não basta ser pai, tem que participar...”

Eis aí um pedaço da vida que vale à pena viver!

Sucessos filha!

Filosofia? Por quê?

Filosofia no currículo do ensino médio no Brasil: motivo de conforto ou de medo? Tenho lido e ouvido de tudo. Particularmente eu me sinto realizado diante dessa perspectiva. Sei de alguns que vêem na filosofia uma espécie de "bicho-papão" e certamente combaterão essa iniciativa. Outros tentarão oferecê-la de forma "disfarçada", ao arrepio do seu propósito. Com o tempo a situação ficará acomodada e veremos pessoas mais esclarecidas e dispostas a pensar por si mesmas. Digo pensar de forma mais abrangente e sem temores. Diante do objetivo permanente do meu blog, que é o convite à reflexão, apresento o artigo a seguir. Estão apontados o autor, blibliografia e a fonte na internet. Boa leitura.
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A filosofia na formação do jovem e a ressignificação de sua experiência existencial

Autor: Antônio Joaquim Severino
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Introdução

O pleito para a inclusão de componentes de caráter filosófico nos currículos dos diversos níveis de ensino é respondido, muitas vezes, com a alegação de sua não-pertinência ou da inoportunidade dos mesmos nos contextos de educação formal. Defende-se inclusive que eventuais subsídios formativos de cunho filosófico sejam trabalhados transversalmente a partir dos conteúdos dos demais componentes curriculares. A importância da filosofia nas etapas de formação, particularmente de crianças e adolescentes é vista, em muitos ambientes, sob forte ceticismo. No meu entendimento, estamos diante de um grave equívoco, pois, na verdade, a formação filosófica, em qualquer estágio escolar, é uma presença fundamental e tem muito a ver com o futuro de nossa sociedade e de nossa cultura. E, com tal demanda, um cuidadoso investimento na sua discussão, bem como na reivindicação de políticas educacionais sensíveis a essa relevância se impõe.

Do conhecimento e da ação

Todos nós sabemos, até porque sentimos na pele, das dificuldades que estamos enfrentando, no contexto mais abrangente da sociedade e no espaço mais particular da escola. É a miséria aumentando, o desemprego apertando, é a crueldade da má distribuição de renda, a corrupção generalizada, a violência, a exploração no trabalho, a deterioração das relações humanas, até mesmo no interior da família, e muitas outras formas de brutalidades, desenhando um quadro marcado pela barbárie. A sobrevivência está difícil, as pessoas deprimidas e estressadas, numa palavra, a vida humana está cada dia mais pobre de qualidade.

Diante dessas situações, procuram-se soluções mágicas ou desesperadas: pessoas mergulham fanaticamente nos misticismos religiosos, outros se perdem no hedonismo mais desenfreado, outros recorrem às drogas ou então partem para a violência, sob todas as suas formas.

Todas essas saídas são equivocadas, levando a novos impasses. Qualquer solução para os problemas humanos só pode ser produzida e encaminhada pela articulação sistemática das iniciativas das cabeças e das mãos dos homens, ou seja, ela só pode sair do conhecimento e da prática dos homens. Mas o conhecimento só pode fecundar a prática através da educação. Existe apenas uma fonte geradora, que é o conhecimento, uma ferramenta, a prática e uma mediação, a educação. O conhecimento nos permite elaborar as propostas de solução dos problemas que serão resolvidos pelas ações concretas, pela prática. Mas só pela educação nós conseguimos fazer com que o conhecimento possa tornar fecunda a prática.

Por isso, a educação é por demais importante nas nossas vidas, por ser uma mediação imprescindível, pois sem ela aquilo que nós conhecemos, pensamos, projetamos, não chega lá na ponta, não vira ação transformadora. Assim, os políticos, os administradores não vão realizar sua intervenção na sociedade para mudá-la, se eles não se apropriarem do sentido das coisas que a inteligência produziu. Se isso já é verdade quando falamos da ação técnica sobre o mundo, é muito mais verdade ainda quando queremos agir sobre as pessoas, sobre a sociedade.

Só que nós não nos apropriamos dos conhecimentos do mesmo modo que um disquete de computador é gravado. Se assim fosse, seria fácil. No caso dos homens, a aprendizagem é muito mais complexa e se acompanha de um processo muito mais sofisticado que se chama “formação”, ou seja, quando falamos de educação na escola, estamos falando não só de ensino/aprendizagem, mas também, e fundamentalmente, de formação.

O que isso quer dizer? Isso quer dizer que as pessoas, quando precisam passar por instâncias de educação formal, como a escola, não o fazem apenas para aprender, para serem ensinadas, mas também para vivenciar um processo de formação que, embora, obviamente, não ocorra só na escola, precisa ser sistematizado, incentivado, consolidado em situação de educação formal.

Às vezes, acontece que só se vê a escola como lugar de ensino e de aprendizagem e, aí, caímos no tecnicismo, naquela falsa idéia de habilitação profissional pura. Mas não há qualificação técnica, profissionalização, se não houver simultaneamente formação.

A formação como desenvolvimento ela sensibilidade para a compreensão da existência

O que vem a ser essa formação? É o amadurecimento, o desenvolvimento dos estudantes como pessoas humanas. Nós nos formamos quando nós nos damos conta do sentido de nossa existência, quando tornamos consciência do que viemos fazer no planeta, do porque vivemos. É claro que nós não nascemos sabendo disso e nem chegamos aos sete anos, na escola, na estaca zero. Embora as pessoas já venham aprendendo coisas e se formando desde o nascimento, no ambiente familiar e no ambiente social, só nas instituições formais de ensino, tornadas necessárias em decorrência da complexidade das sociedades contemporâneas, essa aprendizagem e essa formação passam a ser trabalhadas de forma intencional e sistemática. O trabalho pedagógico quer dizer isso: pedagogia como prática educativa significa exatamente conduzir a criança, o adolescente, o jovem ou o adulto, quando nos ambientes escolares, no caminho da aprendizagem e da formação.

Para tanto, a escola utiliza-se de recursos apropriados para essa dupla tarefa: de um lado, precisa levar o estudante a desenvolver sua inteligência, para dominar bem o exercício do conhecimento e, de outro, a desenvolver outras formas de sensibilidade, a desenvolver sua subjetividade em toda a gama de sensibilidades que a constituem: a inteligência (que é percepção de conceitos), a consciência ética (que é sensibilidade aos valores morais), a consciência estética (que e sensibilidade aos valores estéticos, de modo geral), a consciência social (que é sensibilidade aos valores políticos, ou seja, às relações de convivência na sociedade). É toda esta esfera do exercício da dimensão subjetiva da pessoa que nos tornam efetivamente humanos. Não bastam a integridade física, biológica, o bom funcionamento orgânico, as forças instintivas para uma adequada condução da vida humana. Sem a vivência subjetiva, continuamos como qualquer outro ser vivo puramente natural, regido por leis pré-determinadas, vale dizer, sem possibilidades de escolhas, sem flexibilidade no comportamento.

A subjetividade como processo de atribuição de sentido
Mas o que é esta dimensão de subjetividade, de consciência? É a capacidade que temos de poder identificar, de atribuir sentidos ou significações às coisas e situações e de poder agir de acordo com esses sentidos e não mecanicamente por força dos instintos ou de outros fatores físicos, químicos, biológicos, psíquicos, ou melhor, a capacidade de sobrepor a esses fatores naturais um elemento diferenciado, um motivo significador, que dá sentido a nossos atos.

A educação é então uma atividade, uma prática mediante a qual buscamos aprender a praticar essa subjetividade e encontrar aí as referências para a nossa vida, para as nossas ações que constituem de fato nossa existência real. E isso é, de um lado, o que chamamos de conhecimento, ou seja, somos capazes de representar, mediante símbolos mentais, todas as coisas que são objetos de nossas experiências, que começam pelos órgãos dos sentidos. Aí dizemos o que são as coisas, criamos os conceitos que expressamos pelas palavras; mas é também, de outro lado, percepção de valores, ou seja, atribuímos a todas as coisas que conhecemos um coeficiente valorativo (algo é bom, é bonito, é útil, é prejudicial, é sagrado etc.), ou seja, tem relação com nossos desejos, nossos interesses individuais ou coletivos, atende ou não nossos desejos.

Mas, todos esses valores se relacionam com um valor mais fundamental, que é aquilo que nós encontramos/atribuímos a nós mesmos, como pessoa individual ou como pessoa coletiva, a sociedade. Daí se falar que o valor básico é a dignidade da pessoa humana, este é o valor maior, a referência central.

Só que esse processo não é automático, não funciona de modo espontaneista, ele precisa ser conduzido, guiado. Ocorre que são muitos os obstáculos, que vão dos condicionamentos físico-biológicos, passando pelas determinações psíquicas e chegando às imposições socioculturais. Se, de um lado, há valores, de outro, há contra-valores e podemos estar ou ficar “alienados”, ou seja, nos deixar dominar por contra-valores, consciente ou inconscientemente.

O que seria, então, o verdadeiro processo formativo da educação? E todo um esforço para que saibamos nos situar nesse emaranhado todo, nesse labirinto ambíguo e contraditório, onde somos obrigados a viver, que é o habitat da espécie humana. O investimento pedagógico-educacional é este: esclarecer as pessoas para que elas possam transitar, ao longo de sua vida, procurando adequá-la aos valores positivos de modo a respeitar o valor central que é aquele da dignidade da pessoa humana, indivíduo ou comunidade. De tal modo que possamos fundar nossas opções em valores positivos, conscientemente identificados e seguidos, de tal modo que possamos decidir e apoiar nossas ações nesses valores.

Daí a atual insistência de que o grande compromisso da educação, nos dias de hoje, é com a construção da cidadania. É que este conceito, tal como visto atualmente, significa a qualidade de vida em que as pessoas, todas elas sem exceção, viveriam de acordo com sua dignidade, usufruindo de todos os bens naturais e culturais de que precisam para viver, e sendo protegidas de todas as opressões que comprometem sua dignidade.

Da necessidade da filosofia

É por tudo isso que não pode haver educação, verdadeiramente formativa, sem a participação, sem o exercício e o cultivo da filosofia, em todos os momentos de formação das pessoas, do ensino fundamental ao superior. É que só o conhecimento técnico-científico não é capaz de nos revelar todas essas dimensões dos valores da dignidade humana, da cidadania, uma vez que concentram em ensinar o que são as coisas, como elas funcionam e como o homem pode manipulá-las para fazer, construir, transformar os objetos materiais. Não há dúvida de que as ciências, como conhecimento objetivo do mundo físico e social, ajudam muito, fornecendo sobretudo referências empíricas, eliminando mil dúvidas, ignorâncias e erros. Desse modo, ajudam a que avaliemos melhor as coisas. Mas, de per si, os conhecimentos científicos não podem expressar uma razão para nossas escolhas existenciais, para formarmos nossa escala valorativa, para nos sensibilizar à dignidade da vida humana.

É preciso recorrer à modalidade do conhecimento filosófico que é onde desenvolvemos nossa visão mais abrangente do sentido das coisas e da vida, que nos permite buscar, com a devida distância crítica, a significação de nossa existência, e o lugar de cada coisa nela. É o que comumente expressamos ao nos referir ao “pensar”, ao refletir, ao argumentar, ao demonstrar, usando dos recursos naturais, comuns, da nossa subjetividade.

Nessa tarefa, a filosofia também não pode ser substituída pela religião. Costuma-se perguntar se uma determinada religião não poderia nos indicar quais são os valores mais preciosos, dispensando assim a reflexão filosófica. O ensinamento de uma doutrina religiosa não pode substituir, no caso da formação humana, a reflexão filosófica, começando pelo motivo de que a dignidade da pessoa humana implica o exercício da liberdade para que cada um possa escolher sua religião. Ainda que, antropologicamente falando, a religiosidade seja uma dimensão fundamental da existência dos homens, não se pode impor às pessoas uma forma histórica concreta de religião. A formação humana, tal qual deve ser realizada no processo educacional, é naturalmente laica, é antropológica, de tal modo que conceitos e valores aceitos pela mediação da fé não podem substituir os conceitos e valores construídos filosoficamente.

Igualmente pode-se desenvolver uma argumentação análoga com relação às ideologias políticas, igualmente de livre opção e de prática pelas pessoas e pelas famílias. Mas assim como a escola não pode ser identificada com uma igreja, ela também não pode identificar-se com o partido político, e nenhuma doutrina partidária pode ser imposta ou propagandeada no espaço propriamente pedagogico-institucional. Sem dúvida, também a experiência política é fecunda para a formação humana, ela ajuda a construir a cidadania, mas, pela sua natureza, sua intervenção pedagógica não deve ocorrer na escola.

Assim como a religiosidade, a politicidade dos homens só deve ser trabalhada na escola mediante a construção do conhecimento científico e da reflexão filosófica, e não na sua dinâmica prática e na sua funcionalidade ideológica.

Mas poder-se-ia perguntar ainda se a formação educativa não deveria ser feita através do cultivo da afetividade, da emoção. Afinal, fala-se muito atualmente que até a inteligência é emocional. Certamente, a formação dos jovens pressupõe igualmente a educação dos sentimentos mas isto só pode ser significativo se o educando entender, com os recursos de sua subjetividade, o próprio sentido de suas emoções.

A filosofia e a ressignificação da experiência nas situações de ensino

Isso nos leva ao cerne da questão do porquê da necessária iniciação à prática da filosofia na educação das pessoas de todas as idades. Se com a formação do ser humano, a educação busca passar-lhe conhecimentos, valores, normas de conduta, portanto, se está visando a uma mudança na sua vida, está-se intervindo na vida dele, propondo-lhe determinadas escolhas, o único processo legítimo de fazê-la é apresentando-lhe uma justificativa: e esta só pode ser assimilada e apropriada pelo educando se ela fizer sentido para ele, se ele a entender e compreender, pois só essa compreensão pode tornar a proposta desejada e dinâmica, ou seja, eficaz, levando-o a novas decisões e a ações coerentes com essas decisões. De qualquer outra maneira, estaríamos violentando a autonomia e a dignidade dos educandos.

Assim, se os conhecimentos científicos nos ajudam a entender as coisas, são os conhecimentos filosóficos que nos ajudam a compreendê-las, ou seja, a situá-las no conjunto de sentidos que norteiam a existência humana, a atribuir-lhes um sentido articulado numa rede maior de sentidos dessa existência, em sua complexa condição de unidade e de totalidade.

Desse modo, sendo a filosofia um imprescindível subsídio de formação, ela pode e deve estar presente desde o momento em que a pessoa tenha condições para começar a pensar. Parece, então, totalmente acertada a proposta de ensino de filosofia para crianças, desde os tempos da escola fundamental, pois toda criança é sensível a justificação, ou seja, não só é capaz de pensar mas também de compreender o pensamento. Daí a pertinência dos esforços que vêm sendo feitos, partindo da pressuposição das capacidades das crianças, com vistas a estimular e a desenvolver essa dimensão reflexiva do pensamento já com elas, no ensino fundamental, na linha de uma educação para o pensar, pois o que se tem em mente é justamente ajudar a criança a se apropriar de conceitos e valores, a praticar seu pensamento, no sentido mesmo de exercer sua subjetividade lógica, ética e estética. E isso é essencialmente formativo.

No que concerne à formação dos adolescentes no ensino médio, a formação filosófica é ainda mais imprescindível e, por isso, é preciso lutar contra os fetos e providenciar para que sejam criadas as condições para que seu ensino venha a ocorrer de forma sistemática. Para inserir-se no mundo da cultura contemporânea, ao qual estarão sendo iniciados no curso médio, os adolescentes precisam se dar conta do significado de sua existência histórica, do significado de sua paulatina inserção no mundo do trabalho, da sociabilidade e da cultura simbólica. Cabe aos componentes filosóficos ensejar um processo de análise, de reflexão e de discussão, mediante o qual eles possam lidar de maneira adequada com a própria subjetividade no enfrentamento com a objetividade das condições circunstanciais de suas vidas concretas. Só assim eles poderão ser ajudados na sua auto-construção, como sujeitos pessoais autônomos, cidadãos membros de uma sociedade histórica.

E o que não dizer da formação de nível universitário!... Neste nível, estas exigências se tornam ainda mais pertinentes, tal o papel da filosofia na tarefa de emancipação do homem. Já que o único instrumento de que o homem dispõe para se libertar, para se inserir efetivamente nas mediações históricas de sua existência real, é o conhecimento, torna-se de extrema necessidade o aporte da reflexão filosófica sobre a realidade histórica do existir humano, de modo que o profissional universitário possa se dar conta de todas as significações humanas que envolverão seu agir no âmbito da sociedade.

Conclusão

Muitos são os desafios que continuamos enfrentando no que diz respeito às mediações didático-pedagógicos para a iniciação dos sujeitos educandos, de todas as faixas etárias, à reflexão filosófica. Trata-se de um campo aberto a variadas iniciativas, criativas e críticas, para a implementação de estratégias que possam assegurar a fecundidade da formação filosófica a partir das mediações curriculares. Mas, os componentes curriculares de cunho filosófico complementam e articulam as contribuições formativas de todas as demais disciplinas e de todas as demais práticas educativas. Daí até se poder dizer que a filosofia, como postura geral de reflexão, atua como uma gestora da interdisciplinaridade, na medida em que lhe cabe assegurar uma visão integrada de todos os aspectos da existência histórica real dos educandos. Essa busca de compreensão deve ser feita mediante recursos que os levem a perceber, de maneira significativa, o mundo de sua contemporaneidade, já que este é o seu contexto existencial. Como esta cultura contemporânea só é inteligível se se acompanhar sua gênese antropológica e seu desdobramento histórico, impõe-se que se leve os estudantes a refletirem sobre a formação dessa cultura, num resgate de sua temporalidade. Entendo que a filosofia deve se fazer presente nos currículos escolares para iniciar os jovens a uma visão sintetizadora da realidade humana, tanto do ponto de vista histórico-temporal como do ponto de vista sócio-estrutural.
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FONTE NA INTERNET:
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segunda-feira, 17 de março de 2008

Culturas afro-brasileira e indígena

Publicado no Diário Oficial da União de 10/03/2008 (colaboração da professora Edleuza Teles - via mensagem eletrônica):

Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena.

O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil.

Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de educação artística e de literatura e história brasileiras.

quinta-feira, 6 de março de 2008

Dezoito anos de vida...

Lembro-me quando ela nasceu. É como se fosse hoje. Dia 04 de março de 1990. Passaram-se dezoito anos e minha primeira filha (de duas) chegou à maioridade civil.

Minha responsabilidade acabou? Não! A independência civil não caracteriza desnecessidade de responsabilidade paternal.

Fato é que o tempo passou e com o amadurecimento dos filhos notamos nosso tempo se escoar. Olhar para trás? Por que não? É uma maneira de avaliar o que passou e aplicar no presente - vislumbrando o futuro.

É uma nova etapa que surge na vida da família. Momento de reflexão. Incerteza? Esperança? Eis a porta da maioridade se abrindo para mais uma pessoa nesse nosso Brasil.

Momento de sorrir? De chorar? Sorrir de alegria e chorar de emoção? Não sei... A realidade nos espera. De braços abertos e com firmeza de propósito vamos a mais essa luta.

Felicidades filha! Estamos aqui, como sempre.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Namoro: dia, mês e ano

Foi no dia 23 de fevereiro de 1985. Dia, mês e ano. Começo do nosso namoro. Local: a pizzaria Mourisco. Lembro-me como se fosse hoje. Dizem que os homens não guardam as datas importantes na memória. Comigo não! Nunca esqueci dessa.

Depois do primeiro beijo tornou-se necessária uma praça. Início de namoro sem uma pracinha? Impossível! Fomos até aquela, da Floriano Peixoto, bairro de Santo Amaro, na Capital Paulista.

Podem crer! A praça era calma e lembrava um bucólico bairro do interior.

Hoje, 22 de fevereiro de 2008, estamos a um passo de completar vinte e três anos de namoro. Não me esqueci da data e até comprei o perfume que ela diz ser o seu favorito (pelo menos por enquanto): um Mont Blanc!

Passados vinte e três anos eu reafirmo minhas convicções: um bom relacionamento é aquele que além de respeitoso é renovado a cada dia. Eu faço a minha parte e reconheço que é o mínimo. Provavelmente o maior esforço, neste sentido, adveio da minha companheira.

Companheira? Mais que isso... Uma escudeira, quem sabe. Digo apenas esta frase para não ter que declinar muitos termos e expressões.

Vinte e três anos, duas filhas. Muita luta, vitórias e decepções. Mas eu admito: nunca estive só. Hoje sei disso e provo!

Eu desejo, amigo leitor, que me seja possível, por muitos e muitos anos poder lembrar do dia, mês e ano desse fenomenal acontecimento na minha vida, e na dela, claro!

Salve vinte e três de fevereiro!

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Desculpa esfarrapada!

Cartão corporativo. Eis o assunto da hora. Desmando e descontrole prevalecem, o povo fica perplexo e os políticos da situação propõem explicações. Os políticos oposicionistas analisam como cooptar a atenção do povo e para tanto usam vestes de cordeiro.

Um conhecido meu (PT “roxo”), já achou um argumento defensivo: “o que o PT está desviando não chega ao valor da CPMF daquilo que foi desviado pelo governo anterior”.

Que desculpa esfarrapada!

A defesa dos perversos não está escudada no bom direito, mas na comparação entre a falta de honestidade de um governo com a do outro. Daqui a pouco vão dizer que estes desvios são irrisórios ou que devem ser ignorados em face do que imaginam ter ocorrido na gestão anterior.

Assim caminha a humanidade. As pessoas mudaram o referencial. Optam pelo mal menor, desprezando a possibilidade da opção pelo bem maior.

O mundo está perdido!

Estamos assistindo à luta entre os que estão no poder e não abrem mão dele contra os que o querem a todo custo. É a permanente história da humanidade! A corrupção que, como um câncer, está no seio da sociedade. Imiscuiu-se em todas as classes sociais, incluindo as religiões. Nada mais é confiável.

Será que nosso destino é desconfiar de tudo, fugindo do maravilhoso pressuposto de “que todos estão com a razão” até prova em contrário? Parece que sim, não é possível confiar. Uma pena...

O que devemos fazer?

Esquecer por um instante o coletivo e no plano individual firmar compromisso de fazer sempre o que é correto. Motivo? Simplesmente porque é o certo.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Ubatuba, triunfo da natureza

Cidade que nos acomodou desde julho de 1989 e que nos acalentou depois de outubro daquele mesmo ano. Alguns fogem dela. Muita chuva. Muitos a amam, justamente pela quantidade de água que cai sobre ela. Uma forma de manter aquele “santuário” longe das ações deletérias dos homens.

Pretendemos morar em Ubatuba mais para frente. Ainda existe uma grande luta na Capital paulista e não iremos fugir dela.

Esperamos com ansiedade o momento de morar ali. Mar, rios e mata. Eis um trio de ouro. As cidades vizinhas são simpáticas: para um lado Caraguatatuba e para o outro é Parati. Subindo a serra cidades pequenas como São Luiz do Paraitinga e mais adiante Taubaté. Mais que isso? Não precisa. Mas para quem gosta de frio a distância para Campos do Jordão nem é grande...

Este tópico inicial é o pontapé para trazer informações a respeito daquela maravilhosa cidade.

A leitura deste tópico será compensadora.

sábado, 2 de fevereiro de 2008

Relógios mecânicos

Sou apaixonado por relógios mecânicos antigos, especialmente os de pulso. Tenho alguns e os uso com prazer. Não por vaidade, mas pelo fascínio que exercem. É algo mágico! Maravilha humana que foi aperfeiçoada ao longo de muitos anos.

Hoje os relógios (ou marcadores de tempo) existem em diversas formas. Com o advento dos modelos quartz os relógios mecânicos saíram do uso rotineiro das pessoas. Relojoaria mecânica está adstrita a apreciadores e colecionadores.

Meu fascínio aumenta quando observo, com lupa, os componentes do movimento, como este da foto. São muitas peças construídas e montadas num projeto fabuloso de engenharia. Imaginem que beleza! Um medidor de tempo todo mecânico.

Os relógios são uma biografia da vida humana. Limitada, é claro. Tem como ponto de partida a invenção do primeiro (quando?) e de lá para cá é possível calcular a obsessão humana em contar o tempo de forma perfeita.

Eu pretendo postar textos versando sobre este assunto. Tanto para leigos curiosos quanto para pessoas que querem informações mais técnicas.

Por enquanto tome um tempinho para pensar no esforço despendido para construir estas pequenas maravilhas.

Até breve.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Folha verde

Creio que foi em 1976, não sei direito. A ditadura militar estava por aqui no torrão natal. Eu estudei em várias escolas públicas e me lembro das fotos dos presidentes do Brasil - ao longo dos anos. Ficavam nas salas dos diretores e nas bibliotecas. O primeiro foi o Médici, depois o Geisel e finalmente o Figueiredo. Eu ainda não estudava na época do Castelo e sequer dei bola para a junta militar que sucedeu o Costa e Silva por uns tempos.

Eu acreditava em tudo aquilo que ouvia nas aulas de Organização Social Política Brasileira (OSPB). O mesmo nas de Educação Moral e Cívica (EMC). Que coisa!

Lembro-me que falavam da inflação, do nosso ouro que foi para a Europa e da história de Tiradentes. E tinha o positivismo: “Ordem e Progresso. Brasil: ame-o ou deixe-o”.

Até compus um poema “meio maluco” que tentava em duas estrofes misturar tudo isso. Era uma geléia!
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Grande Mal

Oh, grande mal que afeta nosso chão!
Terra grande, porém vencida pela inflação (...).
Desde o grande animal, até o pequeno besouro (?);
Quando que com mais coragem não perderia o ouro...

Mas que ouro? Ah, foi muito atrás!
Porém não houve o homem sagaz,
Que com garras, unhas e dentes,
Ajudasse o patriota Tiradentes!
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Vi uma foto na internet que inspirou este texto pueril. Uma foto da Sueli Meira e com o título (tema) folha verde. Por que eu me senti inspirado? Nem sei, mas escrevi e o texto aqui está.

Eu pensei assim: aquele meu passado parecia uma folha verde e eis que a folha se secou, precipitou-se para o chão e foi assoprada pelo vento...

Como eu gostaria (hoje) de ter aquela ausência de malícia, não enxergar coisas desagradáveis e camufladas...

Não seria bom que a folha se mantivesse verde?
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Imagem: folha verde de Sueli Meira (internet)

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

O Glorioso de General Severiano

Quando tive noção dos fatos eu já era botafoguense. Lembro-me que logo após a Copa do Mundo de 1970 no México, comecei a me interessar por Futebol. Em 1971, na cidade de Vitória da Conquista – Bahia (não é minha terra natal), eu me lembro de vizinhos que torciam pelo Flamengo, Fluminense e Vasco. Os botafoguenses me conquistaram. Eram mais simpáticos! Com nove anos de idade eu já torcia e sofria pelo Botafogo.

Somente em 1989, muito tempo depois, é que pude ver meu time ser campeão.

Um dia ainda farei uma crônica ou algo similar para contar minha história torcendo por este time maravilhoso. Por hora falo apenas deste momento novo e mágico. Desde que o Botafogo firmou contrato para administrar o Estádio João Avelelange, vulgo Engenhão, sinto-me renovado. Tínhamos o Caio Martins, treinos em Marechal Hermes e a ressurreição de General Severiano. Mas faltava o nosso lugar de espetáculo.

E mais: desde que o Emil Pinheiro e Montenegro passaram pelo fogão e agora sob a gestão do Bebeto, o Botafogo FR tem sido motivo de orgulho para todos nós.

Casa nova (Engenhão) espírito novo. Vamos Botafogo! Continue escrevendo a sua história. Continuaremos a sorrir, chorar (...) e sobretudo permanecer sempre ao seu lado.

Até faço questão de mudar o início do nosso hino: “... campeão desde 1907 (não é mais 1910)”.

Que 2008 resgate a nossa alegria e nos faça suportar o sofrimento tido em 2007. Vimos escapar o Campeonato Carioca e também a Copa do Brasil. E não foi por culpa nossa...

Ao Botafogo e sua torcida: Felicidades!
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Imagem: foto do estádio Engenhão. Do sítio Globo.com

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Exemplo de intolerância religiosa?

Miss é barrada em júri de concurso de beleza por causa de "bruxaria", em Toronto (Canadá).
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A miss Stephanie Conover não poderá ser uma das juradas do concurso de beleza Miss Toronto Turismo por gostar de "bruxaria", informou nesta segunda-feira a organização do evento.

Stéphanie, de 23 anos e vencedora de um concurso de miss no Canadá em 2007, já tinha tudo preparado para fazer parte do júri que decidirá em fevereiro a vencedora do concurso Miss Toronto Turismo, mas recebeu uma carta da organização afirmando que ela tinha sido eliminada por gostar de tarô.

A organização do evento afirmou que a "leitura do tarô e do reiki (uma prática originada no Japão) fazem parte do oculto e não é aceitável por Deus, os judeus, muçulmanos ou cristãos".

A organização reafirmou à imprensa sua decisão através de sua porta-voz, Karen Murray.

"Aceitamos (pessoas de) todas as religiões e todas as nacionalidades, mas as rejeitaríamos se estivessem envolvidas em bruxaria", afirmou.

Aparentemente Stéphanie forneceu detalhes sobre suas crenças quando a organização do concurso de beleza lhe pediu uma pequena biografia.

"Disse tudo o que faço; que sou uma artista, cantora e dançarina.

Contei sobre meu trabalho com a caridade e também falei sobre meus hobbies, como escrever canções, tecer, pintar, praticar ioga, reiki e as cartas do tarô", disse Stéphanie ao jornal "The Toronto Star".

Para Murray, estas características, especialmente as duas últimas, são suficientes para desqualificar Stéphanie.

"Queremos alguém com os pés na terra, não alguém no lado obscuro ou no oculto", afirmou a porta-voz.
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Nota: não pretendo acirrar ânimos, mas seria esta opção um motivo suficente para a decisão tomada?

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Pílula do dia seguinte

O arcebispo de Olinda e Recife, d. José Cardoso Sobrinho, expõe a posição da Igreja Católica quanto ao uso da pílula do dia seguinte.
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O arcebispo de Olinda e Recife, d. José Cardoso Sobrinho, rebateu hoje, na capital pernambucana, com ataques e sem citar nomes, a crítica do ministro da Saúde, José Gomes Temporão, de que a postura da Igreja cada vez mais afasta os jovens do catolicismo. "Eles estão corrompendo a juventude, desviando a juventude da lei de Deus", disse d. José. Quanto à afirmação de Temporão, que considerou a questão "de saúde pública" e não religiosa, ele rebateu: "Qualquer problema humano é também religioso." Para d. José, a distribuição do contraceptivo de emergência "viola os direitos fundamentais e induz a população a praticar o mal".

A polêmica envolvendo a Igreja e o ministério teve início na semana passada, com o anúncio de que as prefeituras do Recife, Olinda e Paulista distribuirão anticoncepcionais de emergência - conhecidos como pílula do dia seguinte -, durante o carnaval. A Secretaria de Saúde da capital instalará dois postos nos focos da folia com oferta do remédio.

Hoje, a Pastoral da Saúde da Arquidiocese de Olinda e Recife recorreu ao Ministério Público (MP) de Pernambuco visando a suspender a oferta do medicamento em todo o Estado. Não somente na festa. A petição foi entregue aos promotores de Justiça da Saúde, Ivana Botelho, e de Cidadania e Direitos Humanos, Marcos Aurélio.

A Pastoral argumenta a "ilegalidade" da distribuição do contraceptivo a partir da premissa de que o remédio é abortivo. Além da "lei de Deus", que, de acordo com a Igreja, está acima de qualquer lei humana e que diz no quinto mandamento "Não Matarás", a petição também se baseia na legislação brasileira.

Vida

Frisa que, de acordo com o artigo 2 do Código Civil Brasileiro, o conceito sobre o início da vida é "a partir da sua concepção". Cita o Direito Penal Brasileiro, que inclui o aborto entre os crimes contra a vida (124 a 128) e a Lei de Contravenções Penais, que, no artigo, o 20, determina que "é contravenção contra a pessoa anunciar processo, substância ou objeto destinado a provocar aborto".

Também condena a resolução do Conselho Federal de Medicina (1.811/2006) que estabelece normas para uso, pelos médicos, "da pílula abortiva do dia seguinte" por não estar em consonância com a legislação brasileira contra o aborto e destaca que as normas e conceitos estabelecidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS) não podem se sobrepor às definições dadas pelo Congresso. De acordo com a Pastoral da Saúde, a oferta do medicamento só é legal (consoante com a lei brasileira) no caso de estupro. A Secretaria de Saúde da prefeitura da capital alega cumprir uma política de planejamento familiar e de atendimento à mulher em consonância com o Ministério da Saúde.
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domingo, 27 de janeiro de 2008

Casamento renovado

Sou um admirador deste brasileiro ilustre e, tendo recebido este artigo de uma amiga (cunhada), reproduzo-o para o amigo leitor.
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CASAR-SE DE NOVO
Por Arnaldo Jabour

Meus amigos separados não se cansam de perguntar como consegui ficar casado 30 anos com a mesma mulher. As mulheres, sempre mais maldosas que os homens, não perguntam à minha esposa como ela consegue ficar casada com o mesmo homem, mas como ela consegue ficar casada comigo.

Os jovens é que fazem as perguntas certas, ou seja, querem conhecer o segredo para manter um casamento por tanto tempo. Ninguém ensina isso nas escolas, pelo contrário. Não sou um especialista do ramo, como todos sabem, mas dito isso, minha resposta é mais ou menos a que segue: Hoje em dia o divórcio é inevitável, não dá para escapar. Ninguém agüenta conviver com a mesma pessoa por uma eternidade. Eu, na realidade já estou em meu terceiro casamento - a única diferença é que casei três vezes com a mesma mulher. Minha esposa, se não me engano, está em seu quinto, porque ela pensou em pegar as malas mais vezes que eu.

O segredo do casamento não é a harmonia eterna.

Depois dos inevitáveis arranca-rabos, a solução é ponderar, se acalmar e partir de novo com a mesma mulher. O segredo no fundo é renovar o casamento e não procurar um casamento novo. Isso exige alguns cuidados e preocupações que são esquecidos no dia-a-dia do casal.

De tempos em tempos, é preciso renovar a relação. De tempos em tempos é preciso voltar a namorar, voltar a cortejar, seduzir e ser seduzido. Há quanto tempo vocês não saem para dançar? Há quanto tempo você não tenta conquistá-la ou conquistá-lo como se seu par fosse um pretendente em potencial? Há quanto tempo não fazem uma lua-de-mel, sem os filhos eternamente brigando para ter a sua irrestrita atenção? Sem falar dos inúmeros quilos que se acrescentaram a você depois do casamento. Mulher e marido que se separam perdem 10 kg em um único mês - por que vocês não podem conseguir o mesmo?

Faça de conta que você está de caso novo. Se fosse um casamento novo, você certamente passaria a freqüentar lugares novos e desconhecidos, mudaria de casa ou apartamento, trocaria seu guarda-roupa, os discos, o corte de cabelo, a maquiagem. Mas tudo isso pode ser feito sem que você se separe de seu cônjuge. Vamos ser honestos: ninguém agüenta a mesma mulher ou o mesmo marido por trinta anos com a mesma roupa, o mesmo batom, com os mesmos amigos, com as mesmas piadas. Muitas vezes não é a sua esposa que está ficando chata e mofada, é você, são seus próprios móveis com a mesma desbotada decoração. Se você se divorciasse, certamente trocaria tudo, que é justamente um dos prazeres da separação.

Quem se separa se encanta com a nova vida, a nova casa, um novo bairro, um novo circuito de amigos. Não é preciso um divórcio litigioso para ter tudo isso. Basta mudar de lugares e interesses e não se deixar acomodar. Isso obviamente custa caro e muitas uniões se esfacelam porque o casal se recusa a pagar esses pequenos custos necessários para renovar um casamento. Mas se você se separar sua nova esposa vai querer novos filhos, novos móveis, novas roupas e você ainda terá a pensão dos filhos do casamento anterior.

Não existe essa tal estabilidade do casamento nem ela deveria ser almejada. O mundo muda, e você também, seu marido, sua esposa, seu bairro e seus amigos.

A melhor estratégia para salvar um casamento não é manter uma relação estável, mas saber mudar junto. Todo cônjuge precisa evoluir, estudar, aprimorar-se, interessar-se por coisas que jamais teria pensado em fazer no início do casamento. Você faz isso constantemente no trabalho, porque não fazer na própria família?

É o que seus filhos fazem desde que vieram ao mundo. Portanto, descubra a nova mulher ou o novo homem que vive ao seu lado, em vez de sair por aí tentando descobrir um novo interessante par.

Tenho certeza de que seus filhos os respeitarão pela decisão de se manterem juntos e aprenderão a importante lição de como crescer e evoluir unidos apesar das desavenças.

Brigas e arranca-rabos sempre ocorrerão: por isso de vez em quando é necessário casar-se de novo, mas tente fazê-lo sempre com o mesmo par.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Hume: o que é milagre?

Um milagre é "uma transgressão de uma lei da Natureza pela vontade de uma Divindade, ou a interposição de um agente invisível." (Hume, p. 123n) Teólogos das religiões do Antigo e Novo Testamento consideram apenas Deus como capaz de vencer as leis da Natureza e executar verdadeiros milagres. Contudo, admitem que outros possam fazer coisas que desafiam as leis da natureza; tais atos são atribuídos a poderes diabólicos e são chamados "falsos milagres". Muitos fora das religiões baseadas na Bíblia acreditam na possibilidade de transgredir as leis da natureza através de atos de vontade em consonância com poderes ocultos ou paranormais. Mas geralmente referem-se a estas transgressões não como milagres mas, como mágicas.

Todas as religiões registram milagres. Como Hume notou, as religiões estabeleceram-se sobre os seus milagres. Mas, se é assim, cancelam-se umas às outras. Hume compara o decidir entre religiões com base nos seus milagres com a tarefa de um juiz que deve avaliar testemunhos contraditórios mas igualmente fiáveis.

Mais esclarecedor é o fato de que quanto mais antigo e bárbaro é um povo, maior a tendência para milagres e prodígios florescerem..

Hume era um historiador, bem como filósofo, e não lhe passou despercebido o fato que quanto mais recuamos na história, mais relatos temos de milagres. E, apesar de haver muita gente hoje que acredita em milagres, mas é pouco provável que qualquer historiador do século vinte encha os seus livros de relatos miraculosos. É improvável que um único relato destes encontre lugar em tais livros.

Hume estava consciente de que independentemente de quão cientifica ou racional uma civilização se tornasse, a crença em milagres nunca seria erradicada. A natureza humana curva-se ante o maravilhoso. Vaidade e ilusão levaram a mais de uma fraude piedosa suportando a causa sagrada e meritória com grandes embelezamentos e mentiras acerca de feitos miraculosos. (Hume, p. 136)

O principal argumento de Hume contudo, foi modelado a partir da argumentação feita por John Tillotson, que se tornou Arcebispo de Canterbury. Tillotson e outros como William Chillingworth antes dele e o seu contemporâneo Bispo Edward Stillingfleet argumentaram com o que chamaram uma defesa de "senso comum" do Cristianismo, i.e., Anglicanismo. O argumento de Tillotson contra a doutrina Católica da Transubstanciação ou "a real presença" era simple e directa. A idéia contradiz os sentidos de que o pão e o vinho usados nas cerimônias são mudados em algo que é pão e vinho para os sentidos mas que realmente será o corpo e sangue de Cristo. Se parece pão, cheira a pão, sabe a pão, então é pão. Desistir disto é abdicar de todo o conhecimento baseado na experiência. Qualquer coisa pode ser outra que não o que os sentidos mostram. Este argumento nada tem a ver com o argumento céptico da incerteza do conhecimento dos sentidos. Isto é um argumento acerca da crença razoável. Se os Católicos tivessem razão acerca da consubstanciação, então um livro podia ser um bispo. Os acidentes de uma coisa não dariam pistas para a sua substância. Tudo o que vemos pode ser completamente não relacionado com o que parece ser. Tal mundo não seria razoável. Se os sentidos não podem ser confiados num caso, não podem sê-lo em caso nenhum. Acreditar na consubstanciação é abandonar a base de todo o conhecimento: a experiência dos sentidos.

Hume começa o seu ensaio sobre milagres elogiando a argumentação de Tillotson como sendo "tão conciso e elegante e forte como qualquer argumento o pode ser contra uma doutrina tão pouco merecedora de uma refutação séria." Continua afirmando que pensa ter descoberto um argumento de tal natureza que, se certo, pode ser um eterno verificar de todo o tipo de superstições, e consequentemente será útil enquanto o mundo durar; até ao fim, presumo, os relatos de milagres e profecias serão encontrados na história, sagrada e profana. [Hume, p. 118]

O seu argumento é um paradigma de simplicidade e elegância: Um milagre é uma violação das leis da natureza; e como uma experiência firme e inalterável estabeleceu essas leis, a prova contra um milagre, da própria natureza do fato, é tão inteira quanto qualquer argumento a partir da experiência pode ser imaginado.[p. 122.]

Ou pondo ainda mais sucintamente:

Tem de... existir uma experiência uniforme contra qualquer acontecimento miraculoso, pois de outro modo o acontecimento não mereceria aquela apelação.[p. 122]

A implicação lógica deste argumento é que nenhum testemunho é suficiente para estabelecer um milagre a menos que aquele fosse de um tipo tal que a sua falsidade fosse ainda mais miraculosa que o fato que tenta estabelecer. [p. 123]

O que Hume fez foi pegar no argumento anglicano so senso comum contra a doutrina católica da consubstanciação e aplicá-lo aos milagres, base de todas as seitas católicas. As leis da natureza não se estabeleceram por ocasionais ou freqüentes experiências similares, mas por uma experiência uniforme. É "mais que provável," diz Hume, que todos os homens morram, que o chumbo não fique suspenso no ar, que o fogo consuma madeira e a água o extinga. Se alguém afirmar a Hume que um homem consegue manter chumbo suspenso no ar por um ato de vontade, Hume perguntar-se-ia se "a falsidade do testemunho é mais miraculoso que o fato que relata." Se assim for, ele acredita no testemunho. Contudo, ele não acredita que um milagre pudesse ser estabelecido com base nesta evidência.

Considere o fato de que a uniformidade da experiência das pessoas em todo o mundo lhe diz que uma vez uma perna amputada, ela não volta a crescer. O que pensaria se um seu amigo, um cientista de elevada integridade, lhe dissesse que quando estava de férias em Espanha encontrou um homem que não tinha pernas mas agora caminha com dois magníficos membros inferiores. Diz-lhe que um homem santo esfregou um óleo nos tocos e as pernas cresceram. O homem vive numa pequena aldeia e todos os aldeões atestam o "milagre." O seu amigo está convencido de que um milagre ocorreu. Em que é que acredita? Acreditar neste milagre seria rejeitar o principio da uniformidade da experiência, em que as leis da natureza se baseiam. Seria rejeitar uma assunção fundamental de toda a ciência, de que as leis da natureza são invioláveis. O milagre não pode ser aceite ser abandonar um principio básico do conhecimento empírico: que coisas iguais em circunstâncias iguais produzem resultados iguais.

Claro que há outra constante que não devemos esquecer: a tendência das pessoas em todos os tempos desejarem algo de maravilhoso, de se iludirem com isso, de fabricá-lo, de embelezá-lo, e de acreditarem nas suas invenções com paixão. Quer isto dizer que os milagres acontecem? Claro que não. Significa que quando alguém relata um milagre a probabilidade de estar enganada, iludida ou a enganar é muito superior à do milagre ter realmente acontecido. Acreditar num milagre, como dizia Hume, não é um ato de razão mas de fé.

Hume, David. An Inquiry Concerning Human Understanding, ch. x "Of Miracles," (1748), Bobbs-Merrill, edição da Library of Liberal Arts.
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Nota do editor: texto brilhante que pode ser lido diretamente na fonte (http://skepdic.com/brazil/milagres.html).

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

É momento de correr...

Assisti ao filme Forrest Gump e fiquei impressionado com a ênfase dada a um momento daquele personagem interpretado por Thomas Jeffrey Hanks, popularmente conhecido como Tom Hanks. Forrest correndo, correndo e correndo.

Por que corria? Seria possível fazer um tratado versando sobre esta pergunta. Mas neste ensaio quero fugir (correr) disso. É momento de correr, mas correr para manter o organismo ativo.

No final do ano eu assisti a uma reportagem na televisão. Um rápido documentário sobre um senhor idoso, um ancião que começou a praticar este esporte quando tinha mais de 64 anos de idade! Um colosso! Aquilo sim foi um exemplo para se seguir ou no mínimo causar constrangimento a quem não tenta. Ele se tornou um dos maiores corredores (idosos) do mundo!

Quantas vezes renovei meus votos de dedicar mais tempo à saúde? Sempre gostei de correr, mas não consigo dar o pontapé inicial. Vamos lá: às vezes consigo dar o primeiro passo, mas depois...

Conheço dois “malucos” que fazem da corrida uma espécie de válvula de escape. Querem saber? Parece-me que eles estão certos. Quem sabe quase certos. Existe uma dose de exagero neles, bem sei (...). Mas é melhor tal exagero do que a ausência de atividade esportiva.

Quero estabelecer uma meta: começar a me preparar agora e no dia 31/12/2008 chegar pelo menos cinco minutos na frente daqueles quenianos que insistem em vencer a corrida de São Silvestre.

Alguém quer tentar vencer este desafio comigo? Adianto que o primeiro lugar será meu. Mas o segundo lugar não será motivo de vergonha...

Fonte da imagem:
http://cantinho_da_angel.weblogger.terra.com.br/img/correr_riscos.jpg

sábado, 19 de janeiro de 2008

A angústia trazida pelo tédio...

Nasci no interior de Minas Gerais e fui criado, até os 17 anos, no Sul da Bahia. Repassando minha vida, nas muitas noites passadas em claro, pude vislumbrar como vi o tédio adentrando minha vida e dela não mais saindo.

A partir dos 17 anos de idade eu morei numa grande cidade, a maior do Brasil. A despeito da agitação local o tédio continuou tomando conta da minha vida. Quando me refiro ao tédio eu deixo de lado o meu convívio social e também a minha vida doméstica. Fato é que nos momentos de quietude percebo que meu viver é tedioso.

Minha vida foi ditada por costumes religiosos que não escolhi. Nasci num lar ortodoxo, de concepções fechadas e fui formado assim. Minha mente ao longo de várias décadas foi moldada para pensar apenas numa direção. Esta direção única foi denominada de livre arbítrio. Em palavras diretas e claras eu recebi um mapa que apontava um único caminho e fui induzido a crer que este caminho que trilhei foi de minha espontânea escolha.

Quando penso nisso tudo eu fico triste. Sinto que vivo numa ilusão. Aquela de ter uma vida social comum, normal e até tida como muito boa. Vida financeira relativamente equilibrada, família sólida e dada à cultura humana e religiosa. Tenho até um cachorrinho! Mas devo ser sincero: é tédio infinito que envolve minha vida e dilacera minha alma.

A rotina é uma chatice sem fim. Até um rápido momento de paz se esvaiu. Meus 45 anos de vida foram ligados aos finais de semana com ênfase religiosa nos cultos sabáticos. Hoje vejo que a liturgia a qual assisti por mais de quatro décadas contribuiu decisivamente para aumentar (e muito!) o meu tédio.

Como seria bom se pudéssemos viver com mais alegria, sem rotina, sem ladainhas, sem repetições horrendas!

Até componho um poema:

A rotina que me mata aos poucos

Minha vida é de uma rotina sem fim,
Que abate meu ânimo, que me causa dor,
Tirando sempre a alegria de minha alma,
Ao me empurrar para constante amargor.

A rotina é obra humana, tentando moldar o mundo,
Muitas vezes assegurando que é vontade divina,
Para liberdade de todos no exercício do livre arbítrio,
Quando de fato lança o espírito em direção à ruína.

Tenho uma leve esperança de me livrar das amarras,
Desconsiderando a opinião dos baluartes do tédio,
Viver uma vida de verdade em completa e honesta alegria,
Enxergando a vida como ela é. Colorida e sem tédio.

Foi de improviso e sem preocupação com a métrica, boa rima e tudo mais. Mas não seria uma apologia do tédio tentar fazer um poema dentro de um regramento? Não se pode conspirar contra o tédio usando o arrazoado que lhe é peculiar.

Lembro-me de uma frase repetida por um locutor esportivo: ... vivendo a vida, colorida e gostosa de ser vivida.

Aqui não se faz a defesa do caos, nem se defende a tese dos promotores de algaravia. Mas estamos numa luta constante contra aqueles que fazem da vida uma eterna penitência da alma. Num permanente negócio com Deus, em busca de um novo lar, que segundo descrição modorrenta será um paraíso do tédio.

Faço um convite à reflexão: o tempo está passando e você está preso a uma rotina. Será que já se apercebeu disso? Será que já notou que as respostas que lhe são oferecidas são meros paliativos? Verificou que não tem segurança quanto ao que crê e vê?

Um amigo meu, psicólogo me disse que o primeiro passo para fugir do tédio contemporâneo é admitir que ele existe e está bem perto. Disse também que todos terão um encontro com essa realidade. Pode ser que no último dia da vida (a menos que morra de forma acidental), mas não há como fugir.

Haverá (se ainda não houve) um momento no qual as pessoas terão um encontro particular com a verdade. Depressão? Ausência de Deus? Medo da morte? Não sei bem. Mas o que se pode afirmar que o encontro com a realidade atingirá a todos e em especial os hipócritas. Quem se safará disso? Talvez os alienados...


Fonte da Imagem:
http://static.flickr.com/56/144272777_03775aa502.jpg

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Álcool e a saúde: moderação...

Sempre tive a moderação como uma das nobres virtudes humanas. Para exemplificar leiamos o artigo abaixo (provedor UOL):

Consumo moderado de álcool e exercícios são receita para vida longa, diz pesquisa da BBC Brasil

O consumo moderado de álcool combinado a um estilo de vida ativo e saudável pode ser a melhor receita para uma vida longa, segundo uma pesquisa do Instituto Nacional de Saúde Pública de Copenhague, na Dinamarca, publicada na revista especializada "European Heart Journal".O estudo, que acompanhou cerca de 12 mil pessoas por quase 20 anos, sugere que a combinação pode diminuir o risco de doenças cardíacas - as pessoas com vida ativa tinham risco menor, mas ele fica ainda mais baixo quando combinado ao consumo moderado de álcool. Especialistas britânicos alertaram, no entanto, que as pessoas não devem ser encorajadas a beber, já que o consumo excessivo de álcool faz mal. Ao longo da pesquisa, 1.242 pacientes morreram de isquemia cardíaca. A conclusão foi de que as pessoas que não bebiam e levavam uma vida inativa eram as que tinham maior risco de desenvolver doenças cardíacas - 49% mais alto do que as que bebiam, faziam exercícios, ou os dois. Ao comparar os pacientes que levavam uma vida ativa, os cientistas perceberam que aqueles que bebiam moderadamente - de uma a 14 unidades de álcool por semana - tinham cerca de 30% menos chances de desenvolver doenças cardíacas do que os que não bebiam. A conclusão se repetiu entre os pacientes totalmente inativos, com o risco diminuindo à medida que aumentava a atividade física.Os abstêmios que tinham vida ativa tinham um risco de 31% a 33% menor de desenvolver isquemia em comparação com os abstêmios inativos. Mas quando se compararam as pessoas de vida ativa que bebem moderadamente, o risco delas desenvolverem doenças cardíacas era quase 50% menor do que o dos abstêmios inativos. Efeitos bioquímicosPesquisas anteriores já sugeriram que o consumo de álcool pode diminuir o risco de doenças cardíacas por aumentar o nível do colesterol "bom" e, possivelmente, afinar o sangue. O resultado foi parecido quando os cientistas analisaram mortes por outras causas: a atividade física parecia reduzir o risco, mas aqueles que consumiam álcool moderadamente se saíram melhor nos resultados do que os abstêmios, em todos os níveis de atividade física. "Nosso estudo mostra que ser fisicamente ativo e beber álcool com moderação é importante para diminuir o risco de isquemia fatal e de morte em geral", disse o pesquisador Morton Gronbaek, do Instituto Nacional de Saúde Pública de Copenhague. Segundo a enfermeira cardíaca Ellen Mason, da British Heart Foundation, "a combinação de consumo moderado de álcool e atividade física parece ser a vencedora para reduzir o risco de doenças cardíacas". "Mas o excesso de bebida contrabalança os benefícios do consumo de álcool e pode aumentar a pressão sanguínea." "Em pesquisas anteriores, as atividades físicas já demonstraram ser mais benéficas à saúde do coração e à saúde em geral, em comparação ao consumo de álcool", acrescentou Mason. "O álcool é um depressivo, enquanto o exercício libera hormônios que melhoram o humor, que podem beneficiar a qualidade de vida, além de diminuir o risco de morte."

Fonte: http://cienciaesaude.uol.com.br/ultnot/bbc/2008/01/09/ult4432u921.jhtm

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