quinta-feira, 31 de julho de 2008

Um pé engessado

Eu estava desligando o despertador e minha esposa, que levanta um pouco mais cedo, sentou-se na cama e me disse que não estava conseguindo pisar no chão. No dia anterior ela tinha pisado em falso e machucado o pé. Bem na sola, no meio do pé. Nem se atentara tanto para o fato pois a dor intensa só se manifestou no dia seguinte quando colocou o pé no chão.

Ela ligou para o trabalho avisando que iria ao pronto socorro. Resolvi levá-la pois se ela não podia andar, como poderia dirigir o veículo? Remarquei meus compromissos da manhã para a tarde e os da tarde para a noite e fui à clínica. Consulta, raio “x” e gesso por oito dias. Ela está em casa, de “molho” e não poderá pisar no chão até sábado. Somente na próxima quinta-feira será feita nova avaliação médica.

Parecia algo tão insignificante, mas como terminou?

Fiquei refletindo a respeito desses pequenos incidentes, dos pequenos detalhes que no primeiro momento parecem sem valor. Quantas coisas boas e ruins acontecem pelo cuidado ou pela negligência?

Pensei também: e se eu tivesse negligenciado, achado que era algo simples demais e não tivesse ido junto? Sei que as coisas teriam se resolvido, mas como costumo parafrasear: “não basta ser marido, tem que cuidar...”

Moral da história: deveremos sempre (sempre mesmo!) atentar para as pequenas coisas. Essa pequenez pode ser apenas aparente.

Até cito uma frase que valoriza o arrazoado acima:“de tostão em tostão se chega ao milhão” (Tio Patinhas). Sabe-se, também, que de tostão em tostão se gasta um milhão.

Valorizando as pequenas coisas chega-se a um lugar, desvalorizando as pequenas coisas chega-se a outro lugar.

É tudo uma questão de escolha, pelo cuidado ou pela negligência.
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quarta-feira, 30 de julho de 2008

Numerado ao nascer

A Receita Federal informou nesta quarta-feira que o CPF (Cadastro da Pessoa Física) deverá ser emitido junto com a certidão de nascimento. Os detalhes serão divulgados na instrução normativa que trata do assunto e que deverá ser publicada até a próxima sexta-feira.

A medida também vai excluir a necessidade da declaração anual de isento do Imposto de Renda. A Receita não informou, no entanto, como fará a atualização do CPF sem esse documento.

Teclando aqui será possível ler a reportagem completa no UOL.

Nota do Editor: seria esse controle algo para melhor organizar a vida humana? Ou quem sabe é a famigerada “marca da besta” da qual tanto falam os alarmistas de plantão? Quem sabe os alarmistas nesse caso têm razão?
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terça-feira, 29 de julho de 2008

Direito do consumidor e o call center

Você deve ser um dos muitos que sofrem na fila de espera dos chamados “call centers”. Quer cancelar um cartão de crédito ou quer reclamar de um mau atendimento da empresa de telefonia... e começa o sofrimento. A ligação vai sendo transferida de um atendente para outro e você repete tudo de novo. Haja paciência! Sem contar o maldito “gerundismo” do tipo “vou estar transferindo a sua ligação...”

Eis uma boa notícia: um Decreto do Governo Federal que minimizará esse atendimento perverso que nos tira o sono e nos provoca azia.

Link para a reportagem: “serviço de atendimento ao consumidor”.

Fonte: (uol)
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segunda-feira, 28 de julho de 2008

A cidade vai parar...

Segunda-feira, 28/07/2008: início do rodízio de caminhões no centro expandido de São Paulo. Solução para o caos no trânsito? Não! Mais uma ação paliativa para adiar o óbvio: a cidade vai parar...

Os motoristas de caminhões protestam: prejuízo, perigo de assalto nas beiras das estradas à espera da hora para poder transitar. Outros que saem do Sul em direção ao Nordeste e os que fazem ao contrário também: reclamam! Precisam passar por dentro da cidade de São Paulo e ficam sujeitos ao rodízio municipal. São Paulo pára e com ela boa parte do Brasil. Vale a pena? Apenas um paliativo: a cidade vai parar...

Momento de política! O trânsito virou bandeira de todos. Alegam que irão melhorar as condições de tráfego. Como? Só prendendo motoristas e carros (a maioria) dentro das casas e garagens. O que todos dizem é algo similar e inacreditável. Paliativos e paliativos: a cidade vai parar...

Não adianta dar murro em ponta de faca. A cidade de São Paulo precisa ser esvaziada ou ter transporte coletivo bom e em abundância. E que abundância! Tudo isso demanda tempo. Muito tempo! Enquanto isso os paliativos emergem: a cidade vai parar...

Enquanto a cidade não pára e segue andando devagar, quase parando... O que fazer? Conviver com a poluição, com o desconforto dentro dos carros e com as fortes dores nas costas...

Continuar sofrendo, sofrendo e sofrendo. E saber, claro, que a cidade vai parar...
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quinta-feira, 24 de julho de 2008

Dica de leitura: Tocaia Grande

Aproveitei os dez dias em Caldas Novas (GO) para concluir a leitura do livro "Tocaia Grande" do baiano Jorge Amado. Resolvi me concentrar nas obras deste maravilhoso escritor brasileiro, encaixando a leitura dos seus escritos entre as diversas leituras que faço semanalmente.

Livro de leitura fácil que nos mostra rápidos cenários da região de Itabuna (Bahia), notadamente no que tange à cultura do cacau na região. A trama é agradável e os muitos personagens, com nomes típicos do Nordeste, deixam saudades ao final.

Eis uma boa dica.
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domingo, 20 de julho de 2008

20 de julho: amizade e casamento

“Meu amigo é meu mestre, meu discípulo e meu companheiro”. Frase do argentino Enrique Ernesto Febbraro em homenagem ao dia 20 de julho de 1969, data em que o homem pousou na Lua. Para Febbraro o terráqueo estava buscando amigos em outros mundos. Ficava assim implementado o dia do amigo que aos poucos foi sendo adotado por outros países.

O dia 20 de julho tem especial importância para mim. Dia do amigo. E quem poderia ser meu melhor amigo? Na realidade é amiga. Minha esposa é claro! Casamo-nos no dia 20 de julho de 1986. Neste domingo completamos 22 anos de casamento. É certo que o casório oficial foi no dia 26 de junho, mas para nós a data que vale é aquela da bênção e do cerimonial na igreja.

No sábado, véspera desse dia, saímos para jantar. Sempre reservamos algo especial para o dia 20 de julho. Eis que estou agora, pouco depois da meia-noite, registrando o fato e renovando meus votos de casamento.

Sinto-me privilegiado pelo meu casamento e pela data na qual ele se concretizou. Exatamente no dia do amigo.

Salve 20 de julho!
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quarta-feira, 16 de julho de 2008

Minha avó: DINHA

Minha avó materna se chamava Maria, mas nós a chamávamos de Dinha. Nem entendo porque, mas nunca a chamei de vovó, vovozinha, vó ou avó. Era Dinha mesmo. As lembranças que tenho dela são interessantes. Uma bem marcante é ligada a um tio (não sei se ainda é vivo) chamado Aurélio. Minha avó, sempre muito rígida e agressiva, uma vez deu um tapa na cara dele. Meu tio retrucou dizendo que homem não apanhava na cara e só não ia reagir por ter sido uma atitude de mãe. Como retaliação saiu de casa e nunca mais voltou nem deu notícias. Acredito que essa tenha sido a mais pesada cruz que minha avó conduziu sobre os ombros.

Hoje cedo meu pai ligou para informar: “...a Maria (Dinha) faleceu...”.

Minha avó tinha completado um século de vida. 100 anos! Em 2008 estava na casa dos 102 anos. A despeito da simplicidade dela, de sua origem humilde (sangue 100% ou quase isso de índio) e de ser analfabeta era uma pessoa muito inteligente. Perspicaz, enxergava antes de todos. Acredito até que ela tenha passado essa característica para minha mãe. Amigos: eu ficaria o dia todo aqui teclando fatos que relembro ligados à minha avó.

Reflexiono dizendo apenas que cada dia mais eu assisto à partida de entes conhecidos, parentes ou não. A maioria em função da idade. Minha avó estava na casa dos 102 anos. Hoje o meu pai está na casa dos 80 e minha mãe na casa dos 72. Eu que agora penso em minha avó e em episódios acontecidos no final dos anos 1960 estou na casa dos 46 anos...

Lembro-me até de uma antiga canção:

O tempo passa,
Eu me perco na fumaça,
Desse jeito não vai dar...
Já estou ficando amarelo,
Não posso morrer donzelo,
Preciso me casar.

Daria até uma paráfrase: “o tempo passa, eu me perco na fumaça, desse jeito não vai dar... Já estou ficando velho, já não sou mais donzelo e não preciso me casar (já me casei).”

Foi um prazer Dinha. Vamos respeitar a sua memória!

Bom dia Brasil!
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Foto: feita em 2006 – Vitória da Conquista, Bahia. Eu estava com a barba por fazer e segurando a máquina, tentando pegar uma boa imagem da Dinha ao meu lado. Ela nasceu em 08/05/1906. Portanto: 102 anos, 2 meses e 8 dias.
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terça-feira, 15 de julho de 2008

Ênfase: filantropia ou pilantropia?

O blog publicou ontem na íntegra o texto do blog do Josias sob o título “filantropia ou pilantropia?

As visitas ao blog cresceram e muito. A referida postagem alcançou pico elevado. Repercussões vieram de vários cantos. Entre as quais aquelas do lugar freqüentado pelos corporativistas de plantão, os mesmos que alardeiam em seus “matinais” as reportagens que “descem a madeira” em outras instituições religiosas. Sequer entram no mérito para saber se os noticiários estão (ou não) eivados de falácias. Simplesmente publicam e comentam.

Quando a “paulada” vem sobre a instituição à qual são vinculados o que fazem? Os corporativistas, que são nojentos por natureza, propõem justificativas. Entre elas aquela de dizer que o eventual investigado agia por conta própria. A instituição nada tem que ver com isso! E no caso das outras instituições? Não seria algo similar?

Não adianta! A essência da ética está em tratar com justiça a todos, inclusive (quem sabe principalmente) os de casa. Não prevalece insinuar que bandidos existem apenas no quintal do vizinho. Os energúmenos estão por ali e por aqui!

O blog (convictos ou alienados?) não fugirá a algo bem simples, que namora com o trivial: sustentar o compromisso com a realidade fática, ainda que tal medida faça doer no corpo e na alma. Ainda que conduza da decepção para a revolta!

Que fiquem calados os que se dizem do bem, mas que não passam de biltres alojados no berço da covardia. Medrosos que sequer têm coragem de assumir o que são: coniventes e tácitos promotores dos atos dantescos desses facínoras!

Os que colaboram, via omissão ou conivência com bandidos, são piores que os “de cujos morais”. Lugar de quem se omite é aquela vala na medida exata: no meio dos excrementos. É no esgueirar em direção ao esgoto. É no lixo – depósito final das indescritíveis mazelas humanas...

Bom dia Brasil!
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segunda-feira, 14 de julho de 2008

Filantropia ou pilantropia?

Como muitos devem saber eu tenho formação cristã conservadora e cresci à luz (ou sombra) de uma conceituação religiosa tradicional e vinculada aos bons costumes. Bons costumes? A coerência faz parte do leque do bem? Pois é: é fácil ficar do lado “certo” quando os outros fazem algo de errado. E quando o erro parte do nosso meio, estamos dispostos a cortar na carne para dar um bom exemplo?

Operação Fariseu e o desnudamento. Filantropia ou pilantropia? Não há como fugir dos fatos. Esse blog não foge. Ainda que a carne a ser cortada seja aquela da “conceituação religiosa tradicional”, na qual fui criado.

Para que não pairem dúvidas, segue abaixo a reportagem de capa inicial do provedor UOL nesta segunda, 14 de julho de 2008.

Espero que a instituição religiosa na qual cri e ainda quero crer tome providências de CARÁTER PÚBLICO, deixando bem claro o que realmente pensa do assunto. Caso tenha se beneficiado de algo, que siga o exemplo de Zaqueu: devolvendo mais do que retirou...
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Grampos da PF expõem desvios do setor filantrópico
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Grampos da PF expõem desvios do setor filantrópico
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Advogados de pseudofilantrópicas ‘aliciam’ conselheiros
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O processo corre na 12ª Vara Federal de Brasília. Apura fraudes praticadas sob o manto da filantropia.
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Os malfeitos ocorreram num órgão que funciona no ministério do Desenvolvimento Social. Chama-se CNAS (Conselho Nacional de Assistência Social). Tem poderes para dar isenção tributária a organizações filantrópicas.
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Descobriu-se que representantes de entidades de aparência insuspeita –de obras sociais a igrejas—se uniram a advogados, para ludibriar o INSS e a Receita.
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O caso veio à tona em 13 de março. Numa operação batizada de “Fariseu”, a Polícia Federal levou ao cárcere seis pessoas. Dias depois, estavam soltos. E, decorridos exatos quatro meses, o episódio sumiu do noticiário, suplantado por outros escândalos. O processo segue, porém, o seu curso. Corre em segredo de justiça. A peça central dos autos é um relatório sigiloso da Polícia Federal. Tem 175 folhas.
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O blog (do Josias) obteve uma cópia do documento. Contém diálogos inéditos. Foram captados por meio de grampos telefônicos feitos desde 2005.
As conversas levadas ao relatório expõem o lado obscuro da filantropia no Brasil, convertida em pilantragem.
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O texto da PF anota: “A gama de benefícios de ordem tributária e de contribuições sociais auferidos por entidades que desenvolvem ações de filantropia tem sido objeto de desejo por parte de pessoas inescrupulosas...”
...Indivíduos “que, sob o albergue da impunidade, oferecem a extensão do manto estatal da isenção contributiva a toda e qualquer pessoa jurídica que esteja disposta a arcar com o ônus de seus honorários...”
“...Ainda que para isso [...] tenha-se que praticar toda sorte de delitos: formação de quadrilha, malversação de verbas públicas, corrupção ativa e passiva...”
Mais: “...fraude à licitação, alteração de balancetes, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro, prevaricação, advocacia administrativa e tráfico de influência...”.
São signatários do documento três delegados federais: Tatiane da Costa Almeida, Flávio Maltez Coca e Adnilson Lima Maia. Resumiram os achados da investigação.
Para tonificar suas conclusões, os delegados salpicaram o texto com extratos das conversas bisbilhotadas por meio dos grampos telefônicos.
A leitura dos diálogos (detalhes abaixo) conduz a uma dedução inescapável: o Conselho Nacional de Assistência Social tornou-se um balcão de negócios.
O CNAS é o tal órgão vinculado à pasta do Desenvolvimento Social. Sua principal atribuição é a emissão de um documento chamado CEBAS.
Vem a ser o “Certificado de Beneficência e Assistência Social”. Um pedaço de papel entregue a entidades privadas que, supostamente, se dedicam à filantropia.
O CEBAS não é um documento banal. Oferece aos seus detentores um benefício singular: a isenção tributária.
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A PF reuniu um lote de evidência de que, mediante o pagamento de propinas e a distribuição de presentes, falsas filantrópicas vêm fraudando o erário.
Conforme o relato que a PF levou ao processo judicial, a malfeitoria funciona assim:
“...A ação é realizada por meio de retirada dos processos de pauta e pedidos de diligências, ambas atendendo a solicitações de advogados representantes das entidades requerentes...”
“...Assim, com o objetivo de ‘driblar’ as exigências do CNAS (exigências legais), que poderiam levar ao indeferimento da concessão do certificado [de filantropia], ou mesmo impedir a reversão de pedido já indeferido, é que conselheiros e advogados mantém um estreito relacionamento...”
Um relacionamento do qual resultam “...benefícios para ambos e para as entidades envolvidas. Obviamente, tais ‘benefícios’ geram grande prejuízo ao Fisco...”
Danos sentidos “...notadamente nos cofres da Previdência, vez que o certificado fornecido pelo CNAS isenta as entidades do pagamento da contribuição patronal incidente sobre a folha de pagamento dos funcionários.”
Estima-se que, desde 2004, a “quadrilha” –assim chamada pela PF— impôs às arcas do Tesouro prejuízo superior a R$ 2 bilhões.
O CNAS tem 18 conselheiros. Nove representam o governo. A outra metade chega ao conselho por indicação de entidades ditas benemerentes.
Veja nos cinco textos abaixo uma amostragem dos indícios de malfeitos captados pelos grampos que a PF realizou com autorização da Justiça.
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Escrito por Josias de Souza às 02h21
28 de março de 2006, 11h41
Diálogo de Carlos Ajur com mulher identificada pela PF como Marisa. Tratam da transformação de uma empresa convencional em entidade filantrópica.
Ajur: Então, se houver interesse do pessoal, qual que é o primeiro trabalho que a gente tem que fazer? Transformar ela numa empresa sem fins lucrativos.
Marisa: E como eu faria isso.
Ajur: Aí, agora, é um trabalhão.
Marisa: É?
Ajur: ...Primeiro você tem que ver se eles topam isso aí, entendeu? Aí a gente pode ir até aí, pode tá explicando, pode tá conversando, pode até tá fazendo.
No curso da conversa, Ajur informa que havia um problema a contornar. Uma vez reconhecida como de “utilidade pública”, a entidade teria de amargar três anos de carência antes de começar a usufruir da isenção tributária.
Ele insinua que já dispunha de solução: a transformação da firma já existente “de empresa com fins lucrativos para empresa sem fins lucrativos.” E o prazo de carência seria dispensado.
Ajur: ...Eu pego esse prazo que ela já existe (...). Eu acho que vale a pena eles gastarem um dinheiro e fazer essa transformação e adquirir esses títulos, entendeu?
Marisa: Entendi. E você calcula que, pra transformar isso, eles gastariam mais ou menos quanto? Você que está acostumado.
Ajur: Aí depende com quem que eles vão trabalhar. Se for trabalhar comigo eu cobro barato. Se você vai pegar um escritório de advogado famoso, eles vão cobrar (...) em cima da isenção da cota patronal.
Marisa: Mas eu liguei pra você por que eu gostaria que fosse você.
Carlos Ajur estima em até R$ 11 milhões a isenção previdenciária que a nova entidade teria a cada triênio. Valendo-se de péssimo português, ele não chega a fazer feio nas contas:
Ajur: ...Cê joga aí 4% disso aí vai dar quanto, de 11 milhões? Vai dar 400 mil conto (...). Seria o que eles cobra... O que um escritório cobra hoje pra fazer isso.
Marisa: Nossa!
Ajur: Eu, pra fazer tudo, transformar, fazer tudo, utilidade pública federal, processo do CNAS, tudo né, com a equipe que trabalha comigo, e tudo, ficaria aí num 100 mil no máximo.
As tratativas se arrastaram. A empresa torce o nariz para a idéia de remunerar os bons préstimos de Carlos Ajur. O relatório da PF traz os extratos de mais sete diálogos.
Num deles, o nome da empresa que dialogava com Ajur é explicitamente mencionado: Hospital Evangélico de Londrina. Noutro, Ajur é informado de que a organização decidira recorrer à Justiça para obter o seu certificado filantrópico. Ele desaconselha a iniciativa.
O hospital reivindicava do CNAS, em verdade, a renovação de um certificado antigo. Tinha contra si uma decisão do TCU, que aconselhava o contrário.
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Em 17 de maio de 2006, às 8h03, Ajur conversa com um personagem identificado no relatório da PF como “Curi”. Um dos diretores do Hospital Evangélico de Londrina se chama Koury. Luiz Soares Koury.
A diferença de grafia não permite saber se o “Curi” citado no texto da polícia e o Koury da diretoria do hospital são a mesma pessoa. De concreto tem-se apenas que Ajur renovou a proposta de socorrer a entidade:
Depois de informar que o caso seria julgado pelo CNAS, na linha do que preconizara o TCU, Ajur volta a se insinuar: A “opção de contratar o meu serviço é sua. Se você não me contratar, eu conheço o hospital, eu quero é mais que você resolva a situação...”
Mais adiante, o relatório da PF conclui: “...A entidade Hospital Evangélico de Londrina, finalmente, sucumbe:”
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16 de outubro de 2006, 11h57
Diálogo do advogado com Luiz Vicente Dutra com o conselheiro do CNAS Sílvio Iung.
Luiz Vicente Dutra tem escritório em Porto Alegre. Advoga para filantrópicas. A PF refere-se a ele no relatório sigiloso obtido pelo blog como “um dos mentores da quadrilha” desbaratada no CNAS.
Na prática, segundo a PF, Dutra funciona como um conselheiro extra no colegiado de 18 membros –metade indicada por entidades filantrópicas e outra metade pelo governo.
“O que ocorre é que Luiz Vicente Dutra se vê, e o colegiado do CNAS também, como um 19º Conselheiro”, anotam os delegados no relatório sigiloso.
Nesse diálogo, o interlocutor do advogado é Sílvio Iung. Foi ao CNAS por indicação do ISAEC (Instituição Sinodal de Assistência, Educação e Cultura).
A entidade controla uma rede de escolas ligada à Igreja Luterana. Na época em que o grampo telefônico foi feito, Sílvio era nada menos que presidente do CNAS. Licenciou-se em março, depois que o escândalo foi pendurado nas manchetes.
Na conversa gravada pela polícia, a dupla Dutra-Iung fala sobre o processo de um hospital privado de Joinville (SC). Chama-se Dona Helena.
O time de técnicos do CNAS recomendara a rejeição do pedido de concessão do certificado de filantropia ao hospital.
Relator do processo, Sílvio endossara o parecer contrário às pretensões do hospital. Mas mudaria o seu voto. Estava tudo combinado. Eis o diálogo:
Dutra: Você pediu o deferimento, né?
Sílvio: Não, eu acompanhei a equipe de análise, lembra que nós fizemos isso como estratégia e o Ademar [de Oliveira Marques, então conselheiro do CNAS indicado pelo Movimento Nacional dos Meninos e Meninas de Rua] esse sim, ele pegou aquele voto e mudou o voto. O pedido de vista dele já é pelo deferimento. O que vai acabar acontecendo agora é o seguinte: eles vão me perguntar se eu acompanho o voto de pedido de vistas, e é isso que eu fazer.
Dutra estranha o fato de Sílvio ter endossado o parecer da equipe técnica, contrário à entidade. Segue-se a resposta esclarecedora:
Sílvio: Não, agora, com o pedido de vistas, eu mudo meu voto.
Dutra: Ah tá!
Sílvio: Entendeu? Esse é o procedimento. Tem um pedido de vistas e aí é perguntado ao relator original se ele mantém o voto ou modifica. Evidentemente eu vou modificar.
Dutra: Claro, até porque tu teve a participação naquele caso de Curitiba, né.
Sílvio: Isso, exatamente. Tá tudo dentro da estratégia.
Dutra: Agora eu tô entendendo, eu não me lembrava do teu acompanhamento...
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outubro de 2006, 11h06
Diálogo do advogado Luiz Vicente Dutra com o professor Pedro Menegat, pró-reitor da Ulbra (Universidade Luterana do Brasil), de Canoas (RS).
Os dois tratam de pendências da entidade junto ao CNAS. Problemas que constavam de processo submetido à análise do então conselheiro Misael Lima Barreto.
Misael alçara à cadeira de conselheiro do CNAS por indicação da União Norte Brasileira das Igrejas Adventistas do Sétimo Dia. Uma logomarca de aparência insuspeita.
A despeito disso, a conversa do advogado Dutra com o pró-reitor Menegat sugere que a manifestação do conselheiro Misael teria um preço.
Dutra diz a Menegat que sugeriria ao conselheiro Misael a elaboração de “um parecer sobre o assunto” que interessava à Ulbra.
"Evidente que, depois, temos que acertar uma remuneração”. Sugere que o pagamento poderia ser feito por meio do seu escritório:
“Pode até ser pago por meu intermédio. Porque ele [Misael] é advogado,. Ele pode advogar à vontade. Não tem problema algum."
A PF anota em seu relatório sigiloso: “Mentiu o senhor Luiz Vicente Dutra.” Os delegados lembram que resolução do conselho de ética do CNAS, de 2005, estabelece:
Vedação explícita à “prestação de serviços de consultoria remunerada nos processos de registro e certificação das entidades de assistência social, concomitantemente com o exercício da função de conselheiro.”
“No mesmo sentido”, prossegue o texto da PF, “o Código Penal Brasileiro, em seu artigo 321, define como crime de advocacia administrativa o patrocínio, direto ou indireto, de interesse privado perante a administração pública...”
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01 de novembro de 2006, 14h38
Diálogo do advogado Luiz Vicente Dutra com o conselheiro Misael Lima Barreto. Os dois tratam de temas relacionados a várias entidades filantrópicas. Até que o advogado menciona ao conselheiro o caso da Ulbra.
De acordo com o relatório da PF, Dutra pergunta “quanto é que Misael vai cobrar para dar esse parecer.”
Misael “responde que é melhor conversar direito a respeito do que irão fazer, que não é uma coisa tão complicada".
Dutra afirma que "eles" o autorizaram a “negociar com Misael e pergunta se uns cinco mil está bom...”
Misael insiste “em não falar [sobre] o preço” ao telefone. Diz “que é melhor conversar depois, para ver o que é que irão fazer com esse caso.”
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junho de 2006, 15h37
Diálogo do advogado Luiz Vicente Dutra com personagem identificado como Cláudio, supostamente funcionário de uma entidade filantrópica.
Dutra “diz que está indo para o aeroporto”. Conduziria em seu automóvel Misael Lima Barreto.
Trata-se daquele conselheiro que representava no CNAS a União Norte Brasileira das Igrejas Adventistas do Sétimo Dia.
O advogado “pergunta a Cláudio se já mandou o dinheiro”.
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19 de junho de 2006, 15h55
O advogado Luiz Vicente Dutra conversa com personagem identificada no relatório da PF como Isabel.
A mulher “diz que falou com a Ana [do hospital Mãe de Deus, segundo a PF].” Afirma que “ela ficou de avisar o motorista para ir direto ao aeroporto.”
Dutra a orienta a “pegar o telefone do motorista.” Isabel informa que está com outra personagem na linha, Cristina. Afirma que “ela já avisou ao motorista”. Acrescenta que “ele está indo para o aeroporto.”
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19 de julho de 2006, 16h04
Diálogo do advogado Luiz Vicente Dutra com “Mário”, o motorista.
Segundo o relatório da PF, “Mário é a pessoa que está levando o dinheiro do Hospital Mãe de Deus”.
No texto, os delegados acrescentam: “Mário diz que está no túnel”. Afirma “que está indo para o aeroporto. Diz que vai aguardá-lo no embarque, na rampa, no portão do meio.”
Foram tantos e tão exaustivos os exemplos mencionados no relatório da PF, que os delegados sentiram-se compelidos a se desculpar com o juiz.
“Pedimos escusas pela apresentação, por certo enfadonha, de tantos exemplos do mesmo proceder...”
“...Se o fazemos é para bem evidenciar a constância com que a quadrilha” agia. O texto vincula o advogado Luiz Vicente Dutra a pelo menos três conselheiros do CNAS:
São eles: Misael Lima Barreto, o representante dos Adventistas do Sétimo Dia; Sílvio Iung, da rede de escolas Luteranas; Euclides da Silva Machado, da Obra Social Santa Isabel, entidade de auxílio a idosos de Brasília; e Ademar de Oliveira Marques, do Movimento de Meninos e Meninas de Rua.
“As falsidades”, sustenta o relatório, eram múltiplas: “Não apenas os votos e as notas técnicas eram elaborados no escritório de Dutra. Até mesmo os relatórios e diligências [do INSS] poderiam, em tese, ser confeccionados ali.”
PS.: Leia mais no texto abaixo.
Escrito por Josias de Souza às 01h56
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Reunido na terça-feira (8) da semana passada, o CNAS (Conselho Nacional de Assistência Social) elegeu uma nova presidente.
Chama-se Valdete de Barros Martins. Ela integra a bancada de nove representantes do governo no colegiado, que tem 18 membros.
Chega com o desafio de deter as fraudes que levam à certificação de falsas filantrópicas.
Valdete recebeu o cargo das mãos da conselheira Simone Albuquerque, que ocupava a presidência do conselho interinamente desde março.
Simone fora ao comando graças a um pedido de licença do presidente anterior, Silvio Iung, um dos que se encontram sob investigação.
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O blog (do Josias) procurou Simone, para saber que providências adotara depois da deflagração da Operação Fariseu, em março. Ela respondeu à indagação por escrito. Eis o que Simone diz ter feito:
1. Deste a instauração do processo, prestou todas as informações solicitadas pela Polícia Federal;
2. Conduziu o processo eleitoral, para renovação da composição do CNAS, que já estava em curso;
3. Solicitou à PF o compartilhamento das informações levantadas. A partir daí, diz Simone, serão revistos os certificados das entidades em situação de possíveis irregularidades. Encontram-se sob investigação, segundo a PF, 60 filantrópicas;
4. Abriu processo administrativo contra funcionários envolvidos nas possíveis irregularidades detectadas pela PF. Alguns foram demitidos imediatamente;
5. Solicitou a revisão de processos julgados e deferidos na reunião realizada pelo CNAS no último mês de fevereiro. A revisão será feita pela nova gestão;
6. Lembrou que, dois dias antes de a Operação Fariseu ter ganhado o noticiário, o governo enviara ao Congresso projeto de lei que modifica o procedimento de concessão de certificados filantrópicos;
7. Esquivou-se de fazer comentários sobre os procedimentos da PF, como solicitara o repórter.
De resto, Simone antecipou providências que “serão votadas pelo novo grupo de conselheiros do CNAS:”
A. Mudanças no regimento interno do conselho;
B. Adoção de novos procedimentos para conceder o Certificado de Entidade Beneficente de Assistência Social, baseados em parecer técnico de cada ministério envolvido (Desenvolvimento Social, Saúde, Educação e Fazenda);
C. Para a certificação ou renovação da certificação, será solicitado parecer da Receita Federal para casos de entidades com renda acima de R$ 2 milhões.
Escrito por Josias de Souza às 01h50
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Fonte: (uol)

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Coincidência ou loteria?

Retornamos hoje de Caldas Novas, Goiás. Algo curiosíssimo ocorreu: quando ainda abastecia o carro na cidade em me lembrei que no Estado de São Paulo teríamos que pagar pedágio, aliás muitos pedágios. Separei a bolsinha de trocados e moedas, resultados de muitas idas às lojas de internet e acrescentei uma nota de R$ 50,00. Eu não estava com dinheiro em valores menores e procedi dessa forma.

Já no primeiro pedágio a nota de R$ 50,00 foi utilizada e a partir daí a cada pedágio a minha esposa separava o dinheiro. Eu imaginava que na chegada a São Paulo eu precisaria de mais dinheiro na bolsinha de trocados. Nos últimos pedágios eu sempre perguntava: “precisa de mais dinheiro?” Ela respondia: “ainda temos aqui, não precisa pegar mais na carteira”. Quando passei pelo penúltimo pedágio, ela me disse que tínhamos R$ 5,90 em dinheiro trocado. Exatamente o valor do último pedágio!

Eu fiquei pensando: como seria possível? Foram inúmeros pedágios e eu não sabia o montante do valor final. Eu não sabia quanto de dinheiro havia na bolsinha de trocados. Acrescentei uma nota de R$ 50,00 por não ter notas menores. Como poderia ocorrer tamanha coincidência entre os valores pagos e o valor exato na bolsinha?

Acredito que se eu fizesse várias viagens por ano nesse trajeto e nessas circunstâncias seria praticamente impossível coincidir até nos centavos os valores pagos com os valores separados ao acaso na bolsinha...

Pensei:

Caso eu fosse um ateu esse seria um argumento de como é possível acontecer coincidências como essa?

No caso do criacionista devoto e com pouco dinheiro no bolso: diria que foi uma bênção? Valor exato, sem tirar nem por?

Pensei mais:

Coincidência ou loteria?

No nosso caso foi coincidência. Nada de acaso, nada de bênção. Apenas coincidência.

Loteria? Jamais! Acertei nos valores, sem querer, mas o que ganhei com isso?

Boa noite Brasil!
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quarta-feira, 2 de julho de 2008

As crianças aproveitam o que podem...

Aqui em Caldas Novas (GO) eu fico observando as crianças. Ficam a maior parte do tempo que podem dentro das piscinas, correndo e lutando contra a fome e contra o sono. Comer e dormir são vilões para elas. Precisam parar de brincar para comer e para dormir. Quanto desperdício de tempo! Como a água das piscinas é quente o sono vem rápido e a luta contra ele é imensa.


As mães correm para oferecer água. As crianças não querem. Não entendem como é possível desidratar estando dentro da água. As crianças não querem entender nada! Querem brincar. Precisam comer e dormir, mas não estão preocupadas com a lógica! Querem brincar.


E as crianças da fé?


Não são assim? Não lutam contra a lógica? Não querem a lógica! Querem exercitar a fé. Não querem comer do pão da ciência! Querem exercitar a fé.


Será que os adultos, crianças da fé, aproveitam o que podem?
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terça-feira, 1 de julho de 2008

Teoria da evolução: 150 anos

A teoria da evolução completou 150 anos! Não é pouco! Quais as suas conquistas? O mundo mudou em função dessa teoria? Levando em consideração o tempo de "estrada" do criacionismo, quem está ganhando terreno? O avanço da ciência tem sido favorável a qual dos lados?
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Recomendo o texto abaixo, como ponto de partida para uma rápida reflexão.
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Teoria da evolução: 150 anos
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Fonte: (uol)

Parar na frente não é desistir...

Eu assisitia a um filme e nele ouvi essa frase, dirigida a uma pessoa que estava em pleno vapor no ramo empresarial e que começava a sentir a força da concorrência naquilo que fazia: "parar quando está na frente não é a mesma coisa que desistir". Faz sentido, não é?

Uma das maiores provas de capacidade e maturidade reside nisso: parar na hora certa. Cito, como exemplo: Pelé que parou no momento certo - ainda estava no auge. É mister saber lidar com a diminuição do vigor, do sucesso e dos aplausos. Saber parar é um exercício necessário aos que pretendem ser "completamente vitoriosos".

Como um cidadão comum poderia parar na hora certa? Observando o que está em volta e buscando saber o momento de passar o bastão para quem está pronto para assumir.

Vale para quem está na presidência da República e vale também para aquele cidadão que insiste em permanecer no poder, ainda que como síndico de condomínio.

Aqui em Caldas Novas é possível enxergar quem está parando na hora certa e quem insiste em se perpetuar no poder.

Enéias Teles Borges

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