sábado, 19 de janeiro de 2008

A angústia trazida pelo tédio...

Nasci no interior de Minas Gerais e fui criado, até os 17 anos, no Sul da Bahia. Repassando minha vida, nas muitas noites passadas em claro, pude vislumbrar como vi o tédio adentrando minha vida e dela não mais saindo.

A partir dos 17 anos de idade eu morei numa grande cidade, a maior do Brasil. A despeito da agitação local o tédio continuou tomando conta da minha vida. Quando me refiro ao tédio eu deixo de lado o meu convívio social e também a minha vida doméstica. Fato é que nos momentos de quietude percebo que meu viver é tedioso.

Minha vida foi ditada por costumes religiosos que não escolhi. Nasci num lar ortodoxo, de concepções fechadas e fui formado assim. Minha mente ao longo de várias décadas foi moldada para pensar apenas numa direção. Esta direção única foi denominada de livre arbítrio. Em palavras diretas e claras eu recebi um mapa que apontava um único caminho e fui induzido a crer que este caminho que trilhei foi de minha espontânea escolha.

Quando penso nisso tudo eu fico triste. Sinto que vivo numa ilusão. Aquela de ter uma vida social comum, normal e até tida como muito boa. Vida financeira relativamente equilibrada, família sólida e dada à cultura humana e religiosa. Tenho até um cachorrinho! Mas devo ser sincero: é tédio infinito que envolve minha vida e dilacera minha alma.

A rotina é uma chatice sem fim. Até um rápido momento de paz se esvaiu. Meus 45 anos de vida foram ligados aos finais de semana com ênfase religiosa nos cultos sabáticos. Hoje vejo que a liturgia a qual assisti por mais de quatro décadas contribuiu decisivamente para aumentar (e muito!) o meu tédio.

Como seria bom se pudéssemos viver com mais alegria, sem rotina, sem ladainhas, sem repetições horrendas!

Até componho um poema:

A rotina que me mata aos poucos

Minha vida é de uma rotina sem fim,
Que abate meu ânimo, que me causa dor,
Tirando sempre a alegria de minha alma,
Ao me empurrar para constante amargor.

A rotina é obra humana, tentando moldar o mundo,
Muitas vezes assegurando que é vontade divina,
Para liberdade de todos no exercício do livre arbítrio,
Quando de fato lança o espírito em direção à ruína.

Tenho uma leve esperança de me livrar das amarras,
Desconsiderando a opinião dos baluartes do tédio,
Viver uma vida de verdade em completa e honesta alegria,
Enxergando a vida como ela é. Colorida e sem tédio.

Foi de improviso e sem preocupação com a métrica, boa rima e tudo mais. Mas não seria uma apologia do tédio tentar fazer um poema dentro de um regramento? Não se pode conspirar contra o tédio usando o arrazoado que lhe é peculiar.

Lembro-me de uma frase repetida por um locutor esportivo: ... vivendo a vida, colorida e gostosa de ser vivida.

Aqui não se faz a defesa do caos, nem se defende a tese dos promotores de algaravia. Mas estamos numa luta constante contra aqueles que fazem da vida uma eterna penitência da alma. Num permanente negócio com Deus, em busca de um novo lar, que segundo descrição modorrenta será um paraíso do tédio.

Faço um convite à reflexão: o tempo está passando e você está preso a uma rotina. Será que já se apercebeu disso? Será que já notou que as respostas que lhe são oferecidas são meros paliativos? Verificou que não tem segurança quanto ao que crê e vê?

Um amigo meu, psicólogo me disse que o primeiro passo para fugir do tédio contemporâneo é admitir que ele existe e está bem perto. Disse também que todos terão um encontro com essa realidade. Pode ser que no último dia da vida (a menos que morra de forma acidental), mas não há como fugir.

Haverá (se ainda não houve) um momento no qual as pessoas terão um encontro particular com a verdade. Depressão? Ausência de Deus? Medo da morte? Não sei bem. Mas o que se pode afirmar que o encontro com a realidade atingirá a todos e em especial os hipócritas. Quem se safará disso? Talvez os alienados...


Fonte da Imagem:
http://static.flickr.com/56/144272777_03775aa502.jpg

2 comentários:

Anônimo disse...

Enéias,

Carlos Drumont de Andrade escreveu:

A dor é inevitável. O sofrimento é opcional.

Permita-me parafraseá-lo dizendo:

O tédio é inevitável. O sofrimento é opcional.

Momentos de tédio fazem parte da vida, mas não devemos prolonga-los ou perpetua-los como se a vida fosse feita apenas destes momentos.

Procure viver intensamente seus outros momentos da vida onde o tédio não tem vez.

Exemplos:

1- Escrevendo bons artigos para seu blog (eles são muito interessantes);

2- Batendo um bom papo com os amigos (as vezes os melhores papos são aqueles que simplesmente jogamos conversa fora);

3- Encarando cada problema no seu trabalho como um desafio pessoal e uma oportunidade para estar em constante crescimento;

4- Amando sua esposa intensamente inventando loucuras de amor (isto é muito divertido e compensador);

5- Curtindo suas filhas, cada uma na sua idade peculiar, acompanhando a forma como amadurecem e estando sempre perto quando elas precisarem de você;

6- Cuidando da saúde, estabelecendo metas progressivas de atividade física e alimentação adequada (ninguém está falando em virar atleta, mas simplesmente em uma vida mais saudável caminhando pelo quarteirão - por exemplo - a endorfina faz milagres);

7- Lendo bons livros e já fazendo uma lista dos próximos que quer ler;

8- Participando de Fóruns de debate na internet, nem que seja apenas para exercitar a argumentação lógica;

9- Assistindo bons filmes no cinema e no DVD (entenda por bom o tipo de gênero de filmes que você curte);

10- Se dar ao luxo de vez em quando de fazer uma extravagância financeira por puro prazer (esta dica gera uma dose extra de adrenalina na hora de ter que pagar a conta do cartão de crédito - hehehe);

11- Dê sua contribuição para tornar o mundo um melhor lugar para se viver, ajudando alguém ou simplesmente fazendo uma gentileza no trânsito ou dando um sorriso para o porteiro do prédio.

Enfim, a vida é que nem Neston, existe mil maneiras de se preparar (viver), invente a sua!

No fim do dia ou na madrugada quando estiver envolto em seus pensamentos e o tédio inevitável bater a porta, rememore os momentos do dia em que o tédio nem sequer passou por sua cabeça, e caso estes momentos não existiram, simplesmente comece a planejar seu dia seguinte para que na próxima madrugada você tenha muitas coisas que lembrar.

Anônimo disse...

Não sei como poderia te ajudar! Tédio ou aborrecimento temos nossos momentos e acho importante pois nos faz refletir!
A vida conspira a nosso favor - nós é que conspiramos contra a vida. Uma dica: realizar um objetivo, alguma coisa que ficou guardado lá trás e que de repente agora vc pode realizar..
O impossível é algo que é impossível até que se passe a ser possível!
abç
Elaine

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