Ontem, durante uma conversa que tive com minha amiga Krika, surgiu um assunto sobre fantasmas e espíritos. Ela me perguntou se acredito e eu respondi que não, maaaass que não duvidava.
Sou meio São Tomé, preciso ver pra crer, embora não duvide de nada nesse mundo. Afinal, como já dizia Shakespeare em Hamlet:
“há mais coisas entre o céu e a terra do que supõe vossa vã filosofia“.
Relatos de coisas sinistras nós
encontramos a rodo por aí. Eu particularmente nunca tive nenhuma
experiência sobrenatural. Nunca vi nenhum tipo de manifestação
espiritual. Às vezes enquanto estou ao computador, tenho a impressão de
que algo passa rapidamente pelo corredor à esquerda da minha
mesa. Mas eu seguramente acredito que não passam de ilusões captadas ou
produzidas pelo rabo do olho. Nada além disso. Acho que é comum para todo mundo. Enfim, normal.Mas e quanto as crianças? Dizem que
crianças menores possuem uma sensibilidade espiritual muito grande e que
poderiam ver coisas ou espíritos. Será? Talvez…Só sei que um fato envolvendo meu filho caçula há quase três anos atrás, colocou meu cetecismo em xeque.
Nicholas tinha no
máximo um ano e meio. Era início de noite e ele estava sentado no tapete
da sala, brincando bem ao lado da minha cadeira enquanto eu usava o
computador. Ele vibrava com seus cubos coloridos balbuciando um monólogo
típico de bebês. Eu estava totalmente distraída quando num certo
momento, o silêncio dele me chamou a atenção. Olhei pra ele. Permanecia
sentado no mesmo lugar, porém imóvel com um olhar estático para o canto
superior da parede à sua frente. Nem piscava. Eu o chamei pelo nome uma,
duas, três vezes mas ele não se moveu e tampouco virou a cabeça para
atender meu chamado. Nada. Olhar fixo e espantado, boquiaberto.
Levantei da cadeira e me sentei ao seu lado chamando-o novamente.
Nenhuma reação. O seu olhar parecia fitar alguma coisa no canto da
parede. Nesse instante percebi que havia algo de anormal com ele. Um
comportamento totalmente atípico para uma criança daquela idade. Bebês
de um ano e meio só ficam quietos quando dormem e definitivamente ele
não estava meditando e nem pensando na vida.
Pus a mão em seu ombro e o sacudi chamando-o novamente. Para o meu
espanto ele continuou com o corpo e a cabeça inertes. Foi aí que ele
movimentou apenas seus olhos em minha direção e tornou voltar
cautelosamente o olhar para o bendito canto na parede como se quisesse
dizer – olhe aquilo!! Algo definitivamente prendera a sua
atenção. Não havia nenhuma sombra, reflexo ou mancha que justificasse
tamanha imersão de sentidos. Seus brinquedos prediletos preteridos por
um canto de parede vazio.
Só sei que naquele momento assim do nada, me arrepiei até o cabelo do dente!
Eu não via nada, mas meu filho certamente estava vendo. Foi como se
alguém estivesse lá olhando pra ele e de alguma forma atraindo sua
atenção. A reação ou a falta de reação dele me assustou. Repito, foi
atípico.
Ainda arrepiada peguei meu filho no colo e desci as escadas o mais
rápido que eu pude. Horas depois isso ainda era assunto na família.
Nicholas já estava novamente interagindo e eu me sentia uma insana por
me deixar influenciar, afinal eu, a cética, senti arrepios que não se
explicaram…
Mas e aí? Nicholas teria mesmo visto
algum espírito? Nunca saberei… Só posso dizer que até então, eu nunca
tinha visto uma criança se comportar assim. Podem apostar, foi sinistro…
Eventos isolados aconteceram nos meses seguintes como por exemplo citar o
avô, já falecido e que conhece só por foto, ao olhar as escadas que
levam à referida sala; conversar sozinho ao brincar como se falasse à
alguém… enfim, coisas assim.
Mas hoje com quase quatro anos isso não mais acontece, no entanto ele
sonha e tem pesadelos além do normal e sente medo por qualquer coisa. Se
isso tem alguma relação com aquele fato ou outros fatos que poderiam
ter acontecido sem a minha presença, não há como saber…
A mente de uma criança é um mistério…
Como ter certeza se por exemplo os amigos imaginários na infância não
são na realidade espíritos? Está aí uma grande incógnita…
Quanto a mim? Continuo como São Tomé, mas respeito profundamente o que não consigo ver e compreender…
Nota: Não creio nem descreio. Ressalvo, contudo, que acredito no que vejo, depois de ter certeza de que realmente vi...
Enéias Teles Borges