quinta-feira, 25 de setembro de 2008

A religião e a crise americana

A religião e a crise americana
Enéias Teles Borges

A crise na maior potência econômica e militar do mundo está assustando a todos. Um processo de implosão daquele país seria desastroso para o restante do mundo. Na atual conjuntura mesmo os que não simpatizam com as políticas externas daquela nação devem estar matutando: “ruim com ele, péssimo sem ele...”

O que dizer da decadência daquele pedaço do mundo vislumbrando por outros aspectos e em especial o religioso? Cresci num contexto que sempre pregou a supremacia daquele país e de forma especial num momento que será marcante para a humanidade. Tal interpretação aponta os Estados Unidos da América como o grande agente que fortalecerá o poder religioso, que segundo sugere essa mesma interpretação, haverá de subjugar as demais formas de religião, conduzindo (para pior) a todos como um só rebanho e um só pastor.

Interessante notar que os profetas de plantão precisam, por uma questão de coerência, sustentar que aquele país não sucumbirá à crise nem deixará (jamais) o posto de superpotência suprema. Trata-se da profecia que não comporta idéia de ser condicional. Precisa ocorrer para que os fiéis se mantenham crédulos.

Enquanto a situação por lá vai se agravando o Congresso Americano pondera acerca de um imenso pacote contra a crise e os que profetizaram aguardam com fé ou com desconfiança...
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quarta-feira, 24 de setembro de 2008

A mulher no cenário

A mulher no cenário
Enéias Teles Borges


Morreu nesta terça-feira, 23/09/2008, Maria Esther Figueiredo Ferraz, com 93 anos de idade. Poderia ser mais um fato, infelizmente natural, que acontece cotidianamente, mas não é. Essa senhora foi a primeira mulher a ocupar cargo de ministra de estado no Brasil. Foi no governo do general Figueiredo. De 1982 a 1985 ela ocupou a pasta da Educação e Cultura. Não pára por aí: foi membro da Academia Paulista de Letras e a primeira mulher a dar aulas na Universidade de São Paulo (USP).

É muita coisa e em especial quando consideramos que suas conquistas ocorreram nos “anos de chumbo” e que ela era mulher. Hoje já é difícil! Imaginem naqueles idos.

A mulher no cenário é minha postagem singela de hoje. Sabe-se que a ocupação do espaço feita pelo sexo feminino tem trazido alegrias e mazelas. Às vezes concluo que mais sofrimentos que realizações alegres. A conquista do espaço tem funcionado para as cidadãs como “aumento de atividades” uma vez que elas não têm escapado da rotina doméstica. Na realidade houve um agregar violento de serviços. Poderíamos chamar isso de conquista?

Mas a mulher no cenário não tem se situado apenas nesses caminhos estreitos. Na política e no ramo empresarial elas têm galgado com eficiência os espaços antes apenas masculinos. É comum ouvir dizer que a despeito das realizações que promovem elas costumam ser bem mais honestas que seus pares do sexo oposto.

Chamo a atenção para um ponto que considero essencial: à medida que as mulheres foram migrando dos lares para atividades externas houve um aumento substancial das famílias esfaceladas. A ausência delas tem contribuído para a derrocada da instituição familiar? Caso seja verdadeiro não há que se falar em culpa exclusivamente delas.

As circunstâncias do mundo moderno têm lançado a mulher no mercado fora do lar. Os homens, em face das mesmas circunstâncias, não conseguem prover sozinhos, o sustento da célula familiar.

Ademais há que se considerar a explosão demográfica e escassez de tudo! Seria natural que as famílias mudassem de perfil e para pior, quando analisadas à luz dos princípios antigos.

Não é moleza! A mulher no cenário contribuiu para a mudança que se faz presente no mundo. Há que se avaliar com frieza: o mundo ganhou ou perdeu com o afastamento delas do seio da família?
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terça-feira, 23 de setembro de 2008

A polêmica do fumo

O governador de São Paulo encaminhou ao Legislativo um projeto de lei que proíbe o fumo (ato de fumar) em locais fechados e extingue os fumódromos. Pesquisas recentes feitas em São Paulo dão conta de que a maioria da população (cerca de 80%) é a favor da medida.

Emerge uma polêmica: os direitos individuais e coletivos estão sendo violados por tal proposta? Vejamos:

1. O fumante ao exercer o seu “direito de fumar” arcará com eventuais despesas médicas futuras ou o Estado bancará tais providências?

2. Quando fuma o faz sozinho ou obriga quem está nas proximidades a fumar consigo?

É claro que fumar longe dos “fumantes passivos” e arcar com despesas médicas futuras legitima o direito do fumante e no caso em tela o projeto de lei não se insurge. O que está sendo considerado é pelo ponto de vista da saúde pública e das despesas monstruosas que o povo tem arcado por conta do vício.

Como operador do direito fiz questão de levantar os dois pontos acima para mostrar que o exercício do bom direito implica em respeitar direitos alheios. No caso em voga são dois direitos coletivos que emergem: o direito de não ser fumante passivo e o direito de não ter que arcar com as despesas médicas de quem se mantém no vício.

Conclui-se, portanto, que o direito reclamado pelos fumantes no que concerne ao projeto de lei não existe e que, lógico, não merece prosperar a pretensão dos consumidores de cigarros e afins. Não há que se falar, no caso, em direito a não ser no respeito ao direito de terceiros.

Esse assunto haverá de fervilhar e o projeto será votado depois das eleições municipais. Enquanto isso não ocorre os bastidores estão funcionando dia e noite.

Uma falácia está lançada no ar: a lei seca e esse projeto de lei esvaziarão os bares e conduzirão estabelecimentos à bancarrota. Será? Ou quem não fuma e/ou consuma bebida alcoólica deixará de gastar nos bares e lanchonetes?

Fato incontestável está à baila e demonstra que alguns hábitos estão mudando motivados pelo combate ao fumo e álcool.

Em meio a tanto horror eis aí mais um ato político que merece aplausos!

Enéias Teles Borges

sábado, 20 de setembro de 2008

O tempo passa...

Quando minha primeira filha nasceu, em março de 1990, eu estava com 27 anos, caminhando para os vinte e oito. Eu brincava com os conhecidos e dizia assim: “estou com 27 anos, faltando apenas três para os 30. De 30 para 40 é bem rápido e de 40 para 50 um pulo. Estou ficando velho e me aproximando do meio século de vida”. As pessoas achavam graça. Que conta maluca! De 27 para 50 era um tempo longo a ser percorrido...

Pois é... Estou completando, neste dia 21/09/2008, 46 anos de idade. Faltam apenas quatro anos para que fique provado que a minha brincadeira estava coberta de razão. O tempo vai passando...

Lembro, reflexivamente, de uma frase que era usada constantemente pelo saudoso locutor esportivo Fiori Giglioti, quando narrava partidas de futebol: “o tempo passa...”.

O tempo passa de forma veloz, atropelando sem piedade a juventude. Confesso que ano meio cansado. Sinto a mesma motivação de outrora para guerrear nessa vida, mas não enxergo em mim a energia de outros tempos. Como jogador de futebol experiente eu não corro mais. Penso e lanço a bola. A bola deve correr pois eu não consigo mais, pelo menos na velocidade que seria ideal...

A inteligência precisa preponderar pois a força vai se esvaindo enquanto o tempo vai passando.

Posso desejar um feliz aniversário para mim mesmo? Sei lá! Não gosto de comemorar essa data desde os tempos de molecote. Algo bem pessoal que um dia, quem sabe, será objeto de texto reflexivo neste espaço.

Enquanto sigo meu caminho para a casa dos 50 vou contando as décadas que faltam para chegar à idade do meu pai, que segue forte e lúcido: o universo dos oitenta anos.

Enéias Teles Borges

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Momentos de cão sarnento - V

Momentos de cão sarnento - V 
Enéias Teles Borges


O tema “Momentos de cão sarnento” chega ao quinto e último texto. Mais adiante será retomado sob os títulos “Momentos de Ostracismo” e “Contos do Esconderijo”. Por hora é só, mesmo porque o blog precisa seguir o seu caminho principal. Essa página não tem caminho único, mas fixa-se no plano precípuo do convite permanente à reflexão e de formas variadas.

Como devem ter percebido a vida pode pregar peças nas pessoas. Tudo é muito dinâmico. Num momento alguém é a sensação positiva, no outro é lançado às feras. Quem está em pé deve cuidar para não cair. No meio tido como religioso, com ênfase em algum tipo de filosofia de vida, o perigo é constante, mas nem sempre é visível. Tudo levaria a crer que trabalhar num ambiente assim é um magnífico sonho profissional, mas analisando os bastidores, nota-se que não é bem assim. Estrela fulgurante hoje, estrela candente no dia seguinte.

Estamos em momentos eleitorais nos municípios brasileiros e lá, pelas bandas, dos que se julgam os únicos remanescentes do verdadeiro povo de Deus. Os bastidores têm funcionado 24 horas por dia e na calada da noite planos são elaborados. Esse humilde blogueiro tem recebido de uns e de outros algumas perguntas do tipo: “sabe de alguma coisa quente?” Os bastidores da “fé” são podres como todos os demais. Não é defeito exclusivo do nosso contexto. É típico do ser humano.

O que sobra, depois do incêndio, é a certeza de que a vida deve continuar para os que sobreviveram. Existem pessoas que dependem da parcela de ação de cada um. Ninguém é uma ilha e de uma forma ou de outra influencia o meio. O fito principal deve ser “influenciar para o bem”. Qual bem? Aquele que contempla a maioria merecedora e carente. O bem anda de mãos dadas com a justiça social.

De 1989 para cá muita água correu debaixo da ponte. Reflexões vieram nas noites de muitos. Quem, caso pudesse retornar no tempo, daria traços diferentes a essa pintura dantesca? O que aconteceu não pode ser mudado, mas há necessidade de ação com hombridade! Resquício mínimo de moral deve existir. Pessoas devem admitir o erro, ainda que não possam mais mudar o curso do ocorrido. Apostar na ação erosiva do tempo é característica reinante no meio omisso.

Enquanto “a bola não rola” na direção necessária do “gol”, nosso personagem segue seu caminho. Trata-se de uma pessoa repleta de erros e de virtudes. Há que se ressaltar: entre os seus erros nunca esteve o famigerado vício da omissão!

Bom dia Brasil!
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quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Momentos de cão sarnento - IV

Momentos de cão sarnento - IV
Enéias Teles Borges

E, se ninguém vos receber, nem escutar as vossas palavras, saindo daquela casa ou cidade, sacudi o pó dos vossos pés (Mateus 10:14).

Muitas pessoas perguntam ao nosso personagem como ele ainda conseguiu freqüentar aquele meio. Sabe-se que lá a membresia, de um modo geral, é bem intencionada. Como também é sabido que existe uma minoria ruidosa, que pratica o mal, sob a capa da aparência do bem e que na realidade final é quem dita as regras e estabelece o procedimento. Essa minoria não funciona como difusora de opiniões, mas como formadora de pontos de vista, agindo de forma ditatorial.

De fato foi sofrido, para o cão sarnento, continuar indo e vindo por ali. Mas o contexto o obrigou a certas atitudes. Como já salientado a maioria ali militante é de boa índole incluindo o corpo docente. Considerando que tanto ele como a esposa cursaram faculdades lá, seria natural que os filhos usufruíssem da educação ministrada, que independe, na medida do possível, da influência dos carniceiros ou, como queiram, abutres insaciáveis do pasto que não acaba.

A dificuldade do nosso personagem sempre foi a da freqüência às reuniões tidas como “sacras sabáticas”. Ali, sim, os bons e os maus bebem lado a lado. Cordeiros e lobos, pessoas dos bem e bandidos, gente pura e fornicadores extraconjugais contumazes, crédulos e incrédulos, ateus e criacionistas, teóricos da fé e praticantes sistemáticos dos bons costumes. Nada que não exista em outros lugares. O problema é que ali não é lugar para “disfarces sacrílegos”.

A propósito disso o nosso personagem já tem até uma nova série em andamento que terá como título “Contos do Esconderijo”, que espelharão de forma irrefutável algumas barbaridades desrespeitosas praticadas por dirigentes e influentes dali. Em “Contos do Esconderijo” será possível vislumbrar, por exemplo, historieta ligada a um influente líder, que a despeito de manter a fonte cinqüentenária não abriu mão de uma acadêmica e mais: depois de se esbaldar o dia inteiro, numa sexta-feira, esteve na Santa Ceia entre os que partiram o pão. Afinal é comunidade apenas ou um dos melhores esconderijos da terra?

Acontece em outros lugares? Sim, mas para o cão sarnento isso faz muito mal, pois sempre isso tudo o remete aos idos de 1989, suas mazelas e lágrimas, quando os partidários da indecência administrativa faziam de forma similar.

A propósito do texto de ontem, alguns esclarecimentos:

(1) Quando o cão sarnento se pronunciou na tribuna eclesiástica deixou claro que tinha buscado guarida na administração e que agora buscava tutela eclesiástica. Sabe-se que uma disciplina ou exclusão promovida pela membresia forçaria demissão dos envolvidos.

(2) Salientou que em caso de novo desinteresse em resolver a lide o assunto sairia daquele contexto. A roupa seria lavada fora de casa. O que de fato começou a acontecer. De sorte que o recuo exigido, do cão sarnento, foi exatamente esse: parar já o que tinha sido iniciado, permitindo manobras que impediriam a implosão do corporativismo.

(3) Outro ponto que precisa ser destacado: os atos lesivos estavam sendo praticados por apenas uma pessoa, mas seu superior imediato, que fazia “tráfico de influência” externo perante fornecedores ficou “emparedado”. Não tinha idoneidade suficiente para agir. A velha história do rabo preso!

(4) A instituição, de uma maneira geral ficou em situação precária. Grande parte dos recursos que entravam era usada na própria instituição, mas em finalidades diferentes daquelas que seriam obrigatórias desde a origem.

(5) O cão sarnento, entre a espada e a parede, foi posto em “estado de férias”. Nada recebeu de recursos financeiros trabalhistas, saldo de salários, férias, nada! A ordem era forçá-lo ao desespero (voltaremos a isso). Logrou êxito em ação judicial e somente em 2003 (muitos anos depois) recebeu suas verbas rescisórias.

Como devem ter notado o texto de hoje tem como fito a tentativa de clarear alguns pontos e impedir que os maus sejam beneficiados, ao mesmo tempo em que os bons não sejam maculados.

O ponto positivíssimo nisso tudo foi o aumento significativo de visitas de “usuários únicos” no blog, além do número crescente e constante das visitas de usuários antigos. Lamentavelmente alguns comentários não puderam ser liberados e entre eles os postados por anônimos e usuários com identificação “laranja”. As observações postadas por pessoas cadastradas e que mostrem “a cara” serão publicadas. As ponderações por e-mail serão respondidas, desde que os remetentes se identifiquem de forma séria e que utilizem correios eletrônicos oriundos de provedores pagos.

Agradeço a todos que se solidarizam. Saibam que não estou praticando autópsia em cadáver velho, mas tentando mostrar às pessoas que é possível ser violentamente e injustamente massacrado e mesmo assim continuar acreditando na decência. O que é mais importante: poder (sempre) olhar para os familiares e para todas as pessoas diretamente dentro dos olhos.

Para aqueles que estão pleiteando (saudosos ou frustrados) mensagens reflexivas uma notícia: inaugurei um novo blog: CULTURA E RELIGIOSIDADE. O objetivo naquele espaço democrático será o de ponderar acerca da grande diferença que existe entre “religião” e “cultura religiosa”. Serão textos voltados apenas para assuntos ligados aos dois temas que intitulam o blog. O desenho da página por lá ainda é simples. Mais adiante usarei um “template” melhor.

Continua...
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quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Momentos de cão sarnento - III

Momentos de cão sarnento - III
Enéias Teles Borges


Naquele primeiro mês a situação fervia “que nem” óleo em temperatura elevadíssima. Havia uma comoção sem fim. De uma maneira geral o que se pensava era lógico: onde há fumaça há fogo. Para muitos a coisa era pior do que parecia e para outros não era tudo assim. De qualquer modo não existia convicção de que estava tudo certo. O que causava mal-estar era simples: se estava tudo errado por que o cidadão tido como corrompido continuava em atividade? E se estava certo por que o denunciante não foi disciplinado eclesiasticamente pela apresentação de falso testemunho? O desconforto era montanhesco!


Por aqueles dias apareceu na casa do “cão sarnento” um senhor idoso, nascido no sul do Brasil, pastor aposentado. Segundo suas próprias palavras ele costumava atuar como bombeiro em situações e “que tais”. Depois de aposentado ele já havia exterminado incêndios gigantescos. Estava ali para apagar mais um. Disse ao nosso personagem que a iniciativa da visita partira de pessoas simpáticas à denúncia e que, segundo ele, queriam a solução correta para a lide e a reintegração do frustrado personagem ao trabalho, mesmo que em outra praça.

Ouviu a versão do lado de cá e assumiu o compromisso de retornar dois dias depois com soluções que, segundo suas palavras, deveriam ser de conformidade com a causa do denuncismo. Denuncismo, disse ele, que garbosamente insurgira-se contra a falta de vergonha do famigerado operador dos recursos, daquela instituição com mais de 70 anos de existência. Disse, à despedida, que já conhecia a fama do degenerado que antes de vir para São Paulo deixara suas digitais no departamento anterior, em outra unidade da federação.

Dois dias depois, numa pontualidade britânica o bombeiro retornou. Cabeça baixa, olhar abatido e com uma lista na mão. Tinha consigo os dezessete nomes de funcionários que seriam demitidos caso não houvesse um recuo do sarnento cão que instava em continuar latindo. Eram dezessete ex-colegas. Como prova de força demitiram três e os catorze seguiriam pelo mesmo rumo nos dias seguintes...

Havia uma “promessa”: caso houvesse um recuo os catorze não seriam demitidos e os outros três reintegrados ou alocados para outros pontos.

Começaram a surgir os efeitos da sarna do cão: ele que estava sendo corroído pela pestilência agora via os efeitos nefastos de seu estado pútrido sendo estendidos para outros viventes do meio. Três já estavam em estado terminal e catorze a caminho da UTI. O cão sarnento sentiu-se terrivelmente abalado. As circunstâncias que estavam no fundo do abismo começaram a notar o abismo se aprofundando em si mesmo...

Que loucura! O corporativismo implementado pelos carcarás sanguinolentos funcionava como um torniquete! Sentiram, os abutres, que o cão, por mais sarnento que ficasse, não haveria de recuar. Estava doente, mas seguia destemido. A artilharia foi estrategicamente remanejada na direção de terceiros. O efeito imaginado surtiu efeito. O cão sarnento ficou descadeirado. Naquela noite teve dificuldades atrozes. Não dormiu, não comeu, ficou quase entregue...

Os três demitidos, encontravam-se sorumbáticos, mas nada cobraram e até se sentiram honrados. Dos catorze ameaçados três debandaram. Dos onze restantes dois grupos se formaram. Aqueles que insistiram para que não houvesse recuo, ainda que eles também fossem demitidos.

O problema emergiu com força quando outros pediram para que houvesse a debandada. Eram pais de família com filhos ainda crianças e esposas em fase de estudo naquela instituição. Seria um prejuízo indescritível! Uma maldade imensurável...

Saibam, meus amigos, que cão sarnento, mesmo sendo muito corajoso, não deixa de ter coração a bater no peito. Notou que deveria carregar, sozinho, a pesada cruz. Deixou claro: abriria mão dessa luta momentânea, mas jamais desistiria da batalha final. Nosso personagem fez um pedido, protestando pela readmissão dos três afastados.

Observem: o remanejamento dos três demitidos foi o único fogo que aquele pastor idoso, de cabelos grisalhos, vindo do sul do Brasil conseguiu apagar.

As dezessete pessoas da lista do pastor grisalho têm histórias distintas que poderão ser descritas. Nosso personagem de forma objetiva aponta o que aconteceu com os três que debandaram de lado (mais detalhes, quem sabe, adiante): um foi exonerado por manter, durante vários anos, uma amante quase na própria casa. Outro, que era casado, por optar por procedimentos homossexuais. O terceiro foi expulso de casa pela esposa por envolvimento simultâneo com outras três mulheres casadas da comunidade dos fiéis...

Parece exagero? Esperem até saber os desdobramentos com os demais e em especial com aquele: o enviado especial das hostes espirituais da falta de decoro.

Continua...
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terça-feira, 16 de setembro de 2008

Momentos de cão sarnento - II


Cães sarnentos e cachorros de rua! Em geral são uns vira-latas sem donos e sem casas. Os cães de rua são desprezados e muitas vezes espancados, maltratados, usados como aperitivo para cachorros de briga. O cão sarnento está num estágio pior. Nem para a maldade tem serventia. Haveria de estragar a boca e dentes dos briguentos profissionais! Quem se aproximaria de um animal pestilento? Não é apenas um ser de rua, sem valor e sem bandeira. Trata-se de uma criatura desprezível e nojenta, que causa repulsa e gastura. Amargar o desprezo é cardápio que se repete na rotina desse tipo de vivente. A dor e o caos são os temperos do alimento diário...

Imaginem um animal que antes era bem quisto, limpo, perfumado e que de repente do conforto da casa é lançado na sarjeta hedionda da vida. Em lugar da água limpa a lama. Em vez do perfume a peste que toma conta do corpo. O físico, antes bem nutrido, torna-se flácido e horripilante. O cheiro cresce de forma insuportável. Vive a se coçar e lançar na atmosfera fungos e outras imundícies. Impossível olhar para animal assim e não se encher de asco.

Antes da sarjeta ele tinha companhia e afagos. Passava de colo em colo. Era beijado e cheirado. Agora não tem companhia e leva pedrada. Não sabe mais o que é aconchego afetivo. Ninguém o beija (que nojo!) e o odor pútrido não pode ser aspirado pelas narinas dos sadios...

O ser humano também tem seus dias de cão. Tem momentos especiais, aqueles típicos do cão sarnento.

O nosso personagem humano, como se sabe, experimentou do conforto merecido e passou a conviver com o lado obscuro de um segmento social que se considera modelo. Tal qual canino sarnento, que agora vê o mundo por outro prisma, o nosso personagem começou a enxergar o que existia debaixo do véu. Antes ele, que era figura carimbada em encontros e “dançarás”, foi remetido ao desterro. Sua casa, que vivia repleta de gente “do bem”, viu-se deserta de corpos e de almas.

Interessante: a face oculta dum setor corporativista só pode ser enxergada quando confrontada com realidades que se diferem, situações que se divergem. Os mesmos que antes gargalhavam passaram a exibir um sorriso amarelo, um olhar de peixe morto. Algo sem vida e melancolicamente real. Agora sim a realidade mostrava-se indubitável. E que realidade horrível! Horrível e muito horrível, amarga e muito amarga.

O amargor remete a específicos momentos de cão sarnento...

Nosso personagem, meses antes da queda, exercia função diretiva comandando chefes de setores. Os mesmos que submetiam suas realizações diárias a um crivo sério, mas leal. Não havia possibilidade de “puxada de tapete”, eles sabiam que assim funcionava. Não havia trairagem. Podiam confiar no jovem comandante.

Havia um desses subalternos, o que mais se acercava para mostrar serviço, que denotava ser muito íntimo, insurgia-se como o mais chegado. Chefiava um setor emergente e em franco crescimento nos lucros. Aquele departamento era uma espécie de menina dos olhos. Passara a funcionar num novo local, novo mesmo, cheirando a tinta fresca...

Depois da queda do chefe escafedeu-se! Nunca mais se mostrou. Não chorou, não acendeu vela. Não apareceu! Nem mesmo para xingar ou cuspir. Nada!

Um dia andando nas proximidades do largo treze, em Santo Amaro, bem atrás do Bradesco da Adolfo Pinheiro, nosso personagem que ia na direção daquela agência o avistou. Eis que ele vinha em sentido contrário. Ambos se viram! Impossível que os olhares não se cruzassem...

Mas quem não muda de calçada quando se defronta com um cão sarnento? Pois aquele antigo subordinado mudou de lado na rua e fingiu não ver quem de lá vinha. E mais: simulou estar perdido a olhar para a parede de uma loja, como se lá houvesse algo para ser visto...

Nosso personagem experimentou atitudes similares a essa por dias, semanas, meses e anos! Os mesmos que no prato comeram, nele passaram a cuspir. Cuspir? Nem mesmo isso. Quem cuspiria em algo que pertencesse a um cão sarnento? Não se queima vela em velório de defunto ruim, não se bate em cachorro morto e não se atenta para um fósforo riscado... Ao cão sarnento um destino que a tudo isso supere! A ele o desprezo e a desonra!

Nesses dias de cão sarnento aquele que no dia 11 de dezembro de 1979 entrou pela porta da frente da instituição notou, tristemente, que foi jogado na sarjeta e pela porta dos fundos...

Teve, porém, algo novo: a visão além do alcance. Algo que não é peculiar num cão bem tratado. A visão de cão sarnento lhe permitiu notar o que existia atrás dos sorrisos, dos tapinhas nas costas, das supostas orações de fé e dos discursos retóricos. Pôde enxergar o que só se observa em momentos indescritíveis vividos por um cão sarnento: a hipocrisia reinante, que está sempre bem vestida, penteada, perfumada e que se dirige semanalmente aos centros de comunhão e de louvor...

Continua...


Enéias Teles Borges

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Momentos de cão sarnento - I

Momentos de cão sarnento - I
Enéias Teles Borges

Ele veio para São Paulo. O objetivo era estudar. Pagaria os estudos com o trabalho no colégio interno. No dia 11 de dezembro de 1979 ele chegou à portaria da instituição e foi bem recebido. Tinha 17 anos e enorme expectativa quanto ao futuro: como aluno, como operário e quem sabe até como pastor. Daquele dia em diante ele se empenhou muito para merecer a oportunidade restrita a poucos.

No trabalho dedicou-se tanto que foi considerado como um dos raros que davam lucro à fábrica. Trabalhou no setor de torrefação de cevada e por conta disso carrega até hoje um pigarro. Trabalhava com disposição dobrada nos finais de semana. Começava a militar do por de sol do sábado até a tardezinha do domingo. Sentia sono, mas também se sentia satisfeito por fazer o melhor. Era tudo muito cansativo, mas realizante. A noite inteira na torrefação de cevada e no domingo, depois do almoço, trabalhava na padaria até o final das atividades. Essa foi a forma encontrada para acumular algumas horas extras. As receberia em dinheiro ou as usaria para visitar os familiares...

Nos estudo ia muito bem. Chegou para cursar o segundo ano de contabilidade e a despeito da enorme luta destacou-se. No terceiro bimestre existiam apenas três alunos no segundo grau com cem por cento de notas azuis. Ele era um. No final daquele ano ele foi o único a concluir o curso com notas altas e nenhuma vermelha. Ganhou um apelido na escola: “o garoto das notas azuis”.

Foi promovido para o setor administrativo. Não foi conduzido por métodos políticos. Fez parte de um grupo de alunos indicados pela professora de contabilidade. No teste foi aprovado e o único a seguir para aquele setor. Destacou-se ocupando cargos antes exercidos apenas por funcionários. No vestibular para a faculdade de teologia passou com facilidade e ingressou no curso. Até o segundo ano trabalhou na escola e pagou os estudos com o trabalho: todos os dias, à tarde, e no domingo era o dia inteiro. Bom conceito no trabalho, excelentes notas na faculdade. Era freqüentador assíduo da biblioteca, à noite e da sala de oração, antes de dormir.

A partir do terceiro ano viajou (nas férias) para vender livros e até que se deu bem. Na cidade mineira de Itabira conseguiu valor suficiente para pagar o semestre à vista e ainda guardar um pouco. No meio do ano foi mais longe: Altamira no Pará. Deu-se muito bem e principalmente quando palestrou e vendeu livros no Batalhão de Infantaria da Selva daquela região. Pagou a escola à vista e guardou valores para o último ano. Nem precisaria vender livros no ano seguinte. Mesmo assim retornou a Itabira, Minas Gerais e vendeu produtos alimentícios na cidade. Ministrou palestras para os funcionários da Companhia Vale do Rio Doce. Pagar a escola virou moleza... Foi possível até comprar uma casinha simples para seus pais.

Formou-se e recebeu quatro convites para trabalhar, sendo três para pastorear igrejas e um na área administrativa. Convites da Bahia, de Minas Gerais e de São Paulo. Preferiu aceitar o convite da área administrativa na própria instituição na qual estudara e trabalhara.

Percorreu todos os caminhos como aluno e agora como funcionário até alcançar o cargo de contador. O mais novo a chegar ao posto até então. Com o aditivo de que era solteiro, algo praticamente impossível de se imaginar naqueles idos. Alcançou o cargo máximo que lhe era possível galgar com 26 anos de idade e com apenas quatro anos de casamento. A partir dali não existiria mais função a ser alcançada. Recebeu convite para assumir a diretoria de uma unidade fabril. A instituição não o liberou...

Até hoje guarda algumas lembranças (certificados e afins): a de melhor contador naquela região imensa que incluía vários estados do Brasil e a avaliação de que era uma das cinco maiores promessas para cargos elevados naquela organização mundial. Era considerado um modelo de administrador para o futuro. Capacidade profissional e total zelo às questões da fé. Ocupava cargo de liderança na igreja local...

Tudo corria bem até que chegou ao lugar um indivíduo. Hoje, sem dúvida, considerado (por quem observa com cuidado) como sendo enviado especial de um ser sobrenatural. O ano foi o de 1989 e o complicador ocorreu no segundo semestre.

O dia “D” ele não guardou na memória, mas lembra-se que sete pessoas entraram em sua sala e lhe mostraram papéis e relatórios que denotavam fraude. Valores (bolsas) de uma instituição de saúde que eram destinados a alunos carentes estavam sendo desviados. Os alunos assinavam documentos imaginando que recebiam determinados montantes como bolsa escolar, mas seus nomes e assinaturas eram usados para desviar valores maiores. A diferença ia para o bolso do famigerado indivíduo que chegou à instituição em 1989...

As sete pessoas pediram para que agisse e de preferência como pastor, conversando firmemente com aquele que conspirava contra os bons costumes. O desvirtuado deveria devolver os valores afanados, procurar o pastor, historiando os fatos e, por fim, ser remanejado imediatamente para longe dos recursos financeiros. Demissão? Seria por conta da mesa diretiva...

Ele agiu como pastor. E aí residiu o erro. Não se combate a bandidagem com o pastorado. Mas como alguém tão novo e ingênuo poderia agir diferente?

Ele não desistiu. Procurou todos os que podiam tomar providências e como nada aconteceu, como deveria, ele tomou a última medida pastoral.

Levantou-se na congregação, num sábado, e expôs o problema para a membresia.

O que aconteceu depois? O início de uma história de dor, decepção, corrupção, maldade e ausência absoluta de religião...

Essa história tem como título: “momentos de cão sarnento”.

Quem seria o cão sarnento? Aquele mesmo que ao longo de dez anos superou metas e trabalhou com esmero. Que exercitou fé e a razão.

Os momentos de cão sarnento tiveram início no segundo semestre de 1989. Presentes do lado de cá: um pastor desolado, com 27 anos e uma esposa com três meses de gravidez.

Os momentos de cão sarnento tiveram do lado de lá: um diretor geral omisso, um diretor administrativo conivente, um financeiro que se apropriava de bens alheios e muitos, mas muitos indiferentes. Existem outros personagens que apareceram ao longo dos momentos de cão sarnento: um jurista, um professor, um dublê de político e outros corporativistas de plantão...

Como estão, hoje, os envolvidos nesse episódio? O que de bom trouxeram para a comunidade? Causaram constrangimento no meio? Viveram e vivem dentro dos padrões estabelecidos pelo contexto moral-religioso? Como vivem com as suas famílias? Trouxeram opróbrio à comunidade? Envolveram-se com casos policiais? Em adultério contumaz? Famílias duplas?

Em doses homeopáticas esse blogueiro apresentará com certa nostalgia os “momentos de cão sarnento”, de 1989 até os dias atuais...

Continua...
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sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Pesos e medidas

Pesos e medidas
Enéias Teles Borges


Qual a diferença entre “tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais?” e “usar dois pesos e duas medidas?” Perguntas intrigantes e que causam inquietação. Na primeira pergunta nos defrontamos com uma das máximas do direito. Tratar a todos igualmente é uma forma de praticar desigualdade. Como julgar, de igual modo, quem é menos favorecido? Não quero me ater a esse ponto, muito conhecido e discutido nas instituições de direito. Atenho-me à segunda pergunta.

Tenho notado, num contexto bem próximo, que a forma como os “expoentes” são tratados difere da forma como os “humildes” são analisados. Algo como “temos a obrigação de lutar contra o erro”. Só que essa luta só existe quando aquele que supostamente erra é alguém de pouca ou nenhuma força política. “Não podemos nos omitir” é o brado daqueles que se julgam paradigmas da justiça.

E quando existe a necessidade de agir contra alguém com força política e que ameace a segurança daqueles que dizem “não podemos nos omitir?” Pois é: eis a grande diferença entre as duas perguntas acima. Num caso o tratamento desigual tende ao equilíbrio, favorecendo o mais fraco, de forma que haja equivalência de forças na busca à tutela jurisdicional. Na segunda pergunta não. O mais forte é agraciado pelo bafo podre da omissão. Os humildes são tratados igualmente, sob a égide da legalidade. Os fortes são tratados como fortes, isto é: podem tudo. Podem até praticar atos mesquinhos e ainda continuar a exercer liderança...

O uso de dois pesos e duas medidas costuma mostrar de fato “quem é quem”. Exibe a diferença entre o teórico da retidão e aquele que efetivamente pratica o que é reto. Mostra a diferença entre quem tem princípios e aquele que possui (apenas) a cultura do meio. Mostra quem tem coragem e quem tem medo. Denota, sem dúvidas, as mazelas da natureza omissa de muitos homens e mulheres que se consideram do bem...

Voltaremos ao tema e se possível com ilustração e fatos.

Bom final de semana Brasil!
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quinta-feira, 11 de setembro de 2008

11 de setembro de 2001

11 de setembro de 2001
Enéias Teles Borges

Lembro-me que eu estava navegando na internet, no trabalho, e a conexão estava lenta. Apenas no portal Terra era possível navegar e vagarosamente. Quando comecei a prestar atenção na notícia eu me recusei a acreditar. Parecia um acidente histórico. Logo depois outro avião e mais um... A loucura tomou conta do mundo.

Dirigi-me à academia para depois seguir rumo à faculdade de direito. Enquanto malhava numa esteira eu assistia ao noticiário na TV que estava em minha frente. Na faculdade o assunto era esse. O dia em que o mundo inteiro ficou assustado.

De lá para cá vimos e ouvimos muito sobre o tema. O terrorismo e suas vertentes. O mundo deixou de ser aquele. O terrorismo não tem fronteiras, usa estratégias inimagináveis. O terror é um inimigo invisível e motivado por fatores diversos: políticos, religiosos...

11 de setembro de 2008! Passaram-se sete anos. O que mudou? Iraque invadido, eixo do mal divulgado... Nem sei avaliar quem ganhou. Sei quem perdeu: a humanidade como um todo. O terror desconsiderou a vida. Os que querem repelir esse mal também não têm demonstrado consideração pela vida humana.

Terror que se mostra como horror. Horror do ser humano. Ser humano que tem sido horroroso em suportar com mesmice o terror que toma conta do mundo. O mundo segue em direção ao caos. Isso é de causar horror, pior que o terror de 11 de setembro de 2001.

O que somos hoje depois daquele dia?
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quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Escolhendo um candidato

Escolhendo um candidato
Enéias Teles Borges


Tenho como critério não anular voto ou não votar em branco. Escolho sempre o que considero melhor ou em outras letras o que considero “menos pior”. Chega a ser dramático, mas quando nos servimos de alguns princípios particulares precisamos ser firmes. Há que se lutar muito para seguir pelo caminho escolhido. Neste caso acredito que deixar de votar em alguém seria uma forma de omissão. Escolho alguém e assumo os riscos. Deixar de escolher jamais!

Eleições no Brasil e eleições nos Estados Unidos da América. Lá existem dois candidatos e um, por ser negro, tem polarizado determinado tipo de atenção. Primeiro “cidadão de cor” na liderança da superpotência? É o caso de votar em alguém só para que finalmente isso seja alcançado? Não, claro que não! Há que se voltar no melhor ou no “menos pior”.

Por aqui as eleições são locais. Como escolher um bom prefeito? E um bom vereador? Pelo sexo ou pela opção sexual do candidato? Pelas propostas que efetivamente podem ser realizadas?

Quero conclamar o amigo leitor: formemos opinião! Não falo de proselitismo. Falo de conclamação ao voto consciente! Não me preocupo em sugerir um candidato, mas em motivar o povo a votar de forma convicta. É uma oportunidade, ainda que pequena, de exercer a justa cidadania.

O voto é momento de igualdade. Os votos têm o mesmo peso, independentemente do sexo, cor, religião, estado civil, situação financeira...

É preciso refletir um pouco sobre isso. Muitos morreram para conseguir o que parece ser pouco. Precisamos honrar a luta dos nossos antepassados que sofreram em função da batalha renhida contra as forças ditatoriais do negro passado.

Vamos Brasil, mostre a cara do seu povo!
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quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Brega e chique

Brega e chique
Enéias Teles Borges


Os portais importantes da internet no Brasil estamparam a notícia: “morre aos 75 anos o cantor Waldick Soriano”. Baiano da cidade de Caetité, o cantor gravou 28 discos ao longo dos seus 40 anos de carreira. Os antigos se lembrarão de pelo menos de duas músicas do Waldick: “Eu não sou cachorro não” e “Tortura de amor”.

Lá pelos idos de 1971 e 1972 eu me lembro bem do sucesso que este cantor conseguiu nas comunidades humildes no Sul da Bahia e na Caatinga. Não existia essa conversa de música chique e música brega. As antigas radiolas mandavam ver e eram comuns músicas iguais às do Waldick. Naquele tempo o Brasil era bem diferente. Cantores como Nelson Ned, Moacir Franco e Antônio Marcos dominavam o cenário. As piadas nas ouvidas nas retransmissoras eram as do Barnabé e do Coronel Ludugero.

Hoje estou aqui, no varandão da saudade. À época eu tinha nove/dez anos. Minha mente remontou (agora) a esse período. Eram tempos bons. Preocupações não existiam. Eu estava descobrindo o mundo e o desbravava como qualquer garoto daquele tempo.

Os dias de hoje são outros. Cantores e personagens como os citados acima são considerados bregas e até ridicularizados pela nova geração. Os espetáculos são divididos em dois grupos: o brega e o chique ou o tosco e o sofisticado ou ainda o ridículo e o bom. Sei lá!

Aos que ainda sentem saudades daqueles anos eu dedico essa postagem.

Bom dia Brasil!
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quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Sem tempo para o tédio

Ando sem tempo para o tédio. Levanto-me às cinco horas da manhã e começo a me preparar para o dia. Deixo uma das duas filhas no cursinho pré-vestibular e sigo para o trabalho. Até nove horas fico só no escritório. Faço minhas reflexões, atualizo minha agenda, leio minhas mensagens eletrônicas, passeio pelos blogs dos amigos e, tendo um pouco de inspiração, preparo um texto para o meu blog, como estou a fazer, agora...

Das nove horas em diante a agitação toma conta do lugar. Desloco-me de um fórum apara o outro, mantenho contato com comerciantes e colecionadores de antiguidades (relógios antigos), participo de diálogos e reuniões, almoço no tempo que sobra...

Às dezoito horas fico sozinho de novo. Aí começo a digitar as peças processuais que seguirão para os fóruns no dia seguinte. Encontro-me com um ou outro colecionador ou comerciante de relógios antigos. Faço um ronda na internet, verifico como anda o trânsito. Conforme a situação eu janto perto do trabalho, caso o trânsito esteja bom, sigo em direção à minha casa...

O tempo que gasto dentro do carro diariamente é de aproximadamente três horas. O trajeto de ida e volta é de 60 ou 80 quilômetros, conforme a melhor opção de trânsito...

Durante o dia ligo para minha casa, para os celulares das minhas duas filhas e para o celular de minha esposa. Quando chego em casa ainda encontro a minha turma acordada e juntos repassamos nosso dia. Brinco um pouco com o Scooby (cachorro), vejo como está a água dele, reponho alimento...

Este pedaço do dia (ou final dele) é o melhor. Fico com a minha família. Família unida e aguerrida. Dou a repassada final do dia pela internet.

Entre as conversas que temos (à noite) falamos de muitas coisas e em especial das leituras que todos estão fazendo. Uma característica da minha família é a leitura diária. Livros e mais livros entram em casa, vindos de bibliotecas, sebos e livrarias. É usual (quase obrigatória) a leitura de bons textos antes de dormir – temos esse hábito (essa semana a minha filha mais nova tinha acabado de ler um livro e estava indicando a leitura para a mãe). Fico maravilhado com esse gosto que temos para a boa leitura. Sacra ou não...

Como podem notar tenho tantas atividades, boas e ruins que não sobra tempo para o tédio. Eis que o tédio fica abafado pela rotina corrida de São Paulo!

Por mais esse motivo os finais de semana tornam-se encantadores. Não podem ser desperdiçados ou utilizados para atividades repetitivas e sem sentido. Não adianta sair da rotina obrigatória durante a semana e entrar numa rotina de final de semana...

É preciso viver, ainda que à luz da loucura paulistana. É necessário fugir do tédio, via atividade lícita. É preciso valorizar o tempo que se tem para ficar com a família.

Enquanto isso eu fico sem tempo para o tédio...

Enéias Teles Borges

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

A vida por um fio...

A vida por um fio...
Enéias Teles Borges


Hoje cedo fui ao Fórum Criminal, que fica na Barra Funda, Capital de São Paulo. Saindo de lá eu manobrei o carro pela via larga com cinco faixas de rolamento e dirigi-me à direita, pista principal, pois eu me acostumei a acompanhar os motoqueiros pelo retrovisor direito. O sinal fechou os carros ficaram alinhados e aí notei: uma jovem mãe empurrando o carrinho com o bebê entre os carros e, portanto, fora da faixa de pedestres. Quando ela vinha, para passar em frente do meu carro aconteceu: o motociclista que dirigia pelo corredor não viu quando ela tentou atravessar, da frente do carro que estava à minha direita para passar na frente do meu veículo...

Ouvi um grito terrível! A mãe que gritou quando a moto atingiu o carrinho do bebê, lançando-o longe. O bebezinho escapou e caiu mais adiante. Era um nenenzinho de poucos meses.

Eu saí correndo do carro, outras pessoas também. A mãe se atracou ao bebê em desespero! Cheguei antes dos demais e tomei o neném do seu colo. Precisava saber se estava bem. A mãe estava transtornada! Outras pessoas seguraram aquela mãe para que pudéssemos avaliar o estado da criancinha. Aquela criaturazinha olhava dentro dos meus olhos, estava espantada...

Felizmente o bebê sofreu “apenas” um corte na testa. Chorava intensamente! Uma outra senhora que também tinha descido do carro tomou a criança nos braços e dirigiu-se a uma instituição que havia ao lado do fórum. A mãe, de lá seguiria para uma clínica para avaliar o estado do bebê.

Não sei como ficou o final do episódio. Não tenho como informar se houve algo não detectado ali. Não sei se a criança teve alguma contusão maior na cabeça. Sei que ela estava com vida e sei mais: a vida dela esteve por um fio...

A mãe agiu de forma imprudente. O motoqueiro não teve qualquer responsabilidade. Não tinha como imaginar tamanho absurdo materno...

No momento o que importa é refletir um pouco...

Notaram como as coisas ruins podem acontecer de forma rápida e imprevisível? Que para morrer basta apenas estar vivo? Que os planos dos viventes são sujeitos às intempéries da vida?

Hoje tive (mais uma vez) uma experiência que aumenta a minha noção dos fatos. Foi horrível e poderia ter sido pior...

A vida não nos concede a garantia que será durável. Eis porque precisamos agir com urgência. Eis porque devemos fazer sempre o melhor ao nosso alcance. Não sabemos se aquilo que agora iniciamos será concluído...

Precisamos buscar um pouco de tempo. Tempo para produzir e deixar algo. Algo que seja bom. Bom para o nosso semelhante. Semelhante que é nosso próximo. Próximo que é humano como nós. Nós que temos a vida por um fio...
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