terça-feira, 29 de novembro de 2011

Precisamos de esperança, pois a vida é dura!

Num periódico eu li, com grande simpatia, o pronunciamento de um ateu acerca da esperança. Ele disse algo mais ou menos assim: “não posso tirar a esperança de alguém a menos que eu tenha algo melhor para colocar em seu lugar”. Trocando em miúdos ele insinuava que não acreditava na existência de Deus e, portanto, não cria nas convicções dos cristãos. Mas o que ele teria para colocar no lugar daquela esperança? As pessoas estariam preparadas para verdade na qual ele acreditava?

Veio, de imediato à minha mente, uma frase muito usada nesse contexto de fé, crença e descrença: “a ignorância, muitas vezes, é fator de felicidade”. Essa ignorância, da qual trato, precisa melhor ser entendida: por não se saber de determinada verdade ruim é possível ser feliz ou, ao menos, não ficar triste.

Imaginemos uma criança portadora de uma doença mortal que lhe ceifará a vida em poucos dias. Ela não sabe. Precisa saber? Não seria oportuno minimizar-lhe a dor deixando que não saiba da morte iminente? Tirando-lhe a esperança o que seria colocado no lugar? É nesse sentido que me refiro a esperança como fator de felicidade.

A grande realidade é que, nesse assunto de religião (fé e crenças), nós não passamos de crianças. Será que aquilo em que cremos é real? E se não for real é justo ou salutar trazer isso à tona, minando esperanças? No caso em tela a ignorância não deveria ser promovida? Tirando do crente a sua fé o que será posto no lugar? Até que ponto a verdade que corroi deve ser colocada no pedestal em substituição à suposta mentira que alenta?

Não restam dúvidas quanto à utilidade social da fé. Imaginem essa massa deixando de crer. O que viria depois? Imagino (hipótese) que depois da desilusão, decorrente da desesperança, viria o caos. Sem a esperança de uma vida eterna e com a convicção de que a vida atual é efêmera, como reagiria a grande nação mundial da fé? É caso para se pensar e pensar muito! A crença promove resultados formidáveis e que são impossíveis de ser mantidos, a não ser pelo exercício permanente da própria crença. É um tremendo freio social! É uma fantástica máquina criadora (de alienação?) que mantém o povo contrito e longe da guerra. Sem a religião haveria desordem? É provável que sim.

O que está em discussão não é se a religião é um espelho da verdade, mas a sua importância independentemente de ser veraz ou não. Não nos impressiona o fato de que uma suposta mentira coletiva seria o estandarte da paz?

Tenho refletido sobre isso e não é de hoje. Eu diria que o marco inicial foi em 1983, no segundo ano da Faculdade de Teologia. De lá para cá eu comecei a separar “religião” de “cultura religiosa”. “convicção” de “alienação”.

Mas eu respeito o que adiante explano:

Nós humanos precisamos do calor da esperança, pois a vida é dura. Precisamos do fogo abrasador que essa fé nos dá, pois a vida é dura. Precisamos da coragem que a fé nos traz, pois a vida é dura. Precisamos não questionar essa crença, pois poderia nos trazer desilusão, tirando-nos a esperança e sem esperança a vida é dura.

Eis o ponto máximo da questão: nada temos para colocar no lugar da esperança, escudada na verdade ou na mentira.

Nós precisamos dessa esperança, pois a vida é dura!

Enéias Teles Borges
Postagem original: 23/06/2008

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Perdeu a fé, ganhou a verdade...


Na mesma proporção em que avançava nos estudos, menos deixava de acreditar. Tudo o que acreditou na infância e juventude começou a escorrer como água entre os dedos. Preferiu crer que assim costuma ocorrer na maturidade, a caminho da velhice. Não há mais tempo para sonhar. Hora de viver. O viver não é exatamente como ele um dia sonhou.

Seus amigos, que não se dedicavam tantos aos estudos, notaram a mudança de comportamento e de temperamento. Logo começaram a dizer: “estudar demais faz mal. Dedicar-se demais às leituras profundas esmaga a fé. A experiência, diziam, tem demonstrado que os humildes herdarão a terra. Estudar demais dizima a humildade”.

Seguiu seus estudos e acostumou-se com a ideia de que o sonho não coadunava com a realidade. Ele preferia a esperança, mas em seu lugar viu nascer a desesperança. A esperança era o sonho, a desesperança era a vida como ela é...

Finalmente assimilou e não mais ligava para os comentários dos amigos. Costumava dizer a todos: “percorram o caminho que eu percorri e certamente chegarão ao lugar no qual me instalei...”.

Seus amigos, de pronto, respondiam: “você perdeu a fé!”.

Ele, que sempre foi honesto, respondia: “é fato que perdi a fé, a formosura da fé que tanto me trouxe esperança. Em seu lugar, porém, ganhei a verdade, com suas mazelas e desesperos”. Emendava: “eu até preferiria a fé, em lugar da realidade, a esperança, no lugar da desesperança...”.

Concluía: “é que descobri que uma coisa é desejar (esperança) e outra é a existência (ou não) do objeto do desejo (verdade)...”.

Enéias Teles Borges

Sobre a vida após a morte...

Muito se especula nada se sabe. Existem aqueles que dizem manter contato com alguns que estão em outra dimensão. Existem aqueles que, à beira da morte, dizem visualizar uma luz no fim do túnel. Há relatos que dão conta de situações que fogem totalmente do que se apalpa aqui no nosso mundo dos vivos. Não podemos nos esquecer dos religiosos que são contundentes em afirmar que essa vida aqui é mera passagem para outra. Existem os que falam de reencarnações e evolução dos seres até atingir o alvo supremo da perfeição. Muitos acreditam que haverá ressurreição dos mortos e nova maneira de viver advirá. Sobre a vida após a morte muitos falam, sonham, acreditam e desacreditam...

Pergunto: a vontade de viver para sempre cria no homem esse desejo incontido ou é o medo de morrer que conduz o ser humano para a especulação? Como concluir que é verdadeira, qualquer assertiva, se não existe uma só pessoa, entre bilhões, que possa, de forma a não deixar dúvidas, dizer o que é e o que não é? Sobre a vida após a morte existem devaneios mil, mas a verdade absoluta não há...

Não seria maravilhoso saber que depois da vida há um lugar de esplendor? Não seria fabuloso ter a certeza de que esse nosso momento fugaz será sobrepujado por uma vida duradoura? Não seria inefável saber que haverá ressurreição e nova vida, bela, perfeita e infinita? Claro que seria fantástico! Teístas e ateístas certamente se dariam as mãos. Não haveria divergência ideológica. Sim, existiria uma alegria sem fim, no caso de ser possível afirmar: depois dessa vida há algo infinitamente melhor...

Tal afirmativa não há. Restam, tão somente, as muitas especulações. Não há, de fato, o que dizer sobre a vida após a morte...

Enéias Teles Borges
Postagem original: 15/05/2010

sábado, 26 de novembro de 2011

O céu e o esquecimento

E Deus limpará de seus olhos toda a lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas (Apocalipse 21:4).

Já ouvi muitos sermões tendo esse verso como base. A despeito da beleza de seu conteúdo um mal-estar sempre me cercava e hoje eu consigo entender o motivo de tanta angústia que me acometia. É que hoje eu sou pai.

Imaginem a seguinte situação:

Uma mãe está vendo a casa pegar fogo. Tenta entrar para salvar seu filho entre as chamas. Os bombeiros não deixam e dizem que não há como salvar mais a criança. Nem eles podem. Mesmo assim a mãe insiste em tentar, mas não consegue. As pessoas a seguram. Ela diz que não poderá viver sem o filho, prefere morrer com ele. Uma pessoa lhe diz: “não se preocupe, depois que tudo acabar nós lhe daremos um remédio e você nem sofrerá com isso; poderá até se lembrar, mas não terá mais sofrimento”. Qual a mãe, de coração puro, que aceitará esse argumento? Qual mãe quererá um remédio que a faça esquecer da dor e da sua prole?

Você conhece alguma?

Essa passagem do livro do apocalipse muitas vezes foi apresentada assim. Os pais devem “ensinar” o caminho aos filhos e a missão paterna estará concluída. E se os filhos não forem para o céu?

O pregador sempre dizia que um remédio seria ministrado. Não haveria mais dor para os que fossem para o céu. Até se lembrariam dos queridos que se perderam, mas tudo não passaria de uma simples lembrança sem dor...

Eu sempre me perguntei se o céu seria interessante nessas condições. Quem disse que eu quero me esquecer de certas coisas? Não me empolgo com essa anestesia da mente que seria aplicada em mim. Eu me preocupo com minhas filhas até no que se refere às pequenas coisas, como não me preocuparia com conseqüências eternas?

Prefiro pensar que esse verso sempre foi mal interpretado. Sempre vi essa interpretação como uma expressão de egoísmo...

Enéias Teles Borges
Publicação Original 03/04/2008

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Racismo velado?


Você já deve ter ouvido frases assim: “esse é um preto da alma branca”, “ele é pretinho, mas é gente boa”, “é pretinho, mas é inteligente...”, “é um senhor de pele escura, mas de confiança” e muitas outras. Já ouviu? Já disse?

A questão é: seria isso uma forma velada de racismo? Outro dia eu ouvi uma frase: “que negra bonita!” Eu perguntei à pessoa que assim se expressara: “você diria: que branca bonita?” Como se tratava de uma senhora honesta e sincera ela me respondeu: “tem razão. Muitas vezes não nos damos conta de que usamos palavras e frases preconceituosas”.

Imagine a seguinte situação: você chega num condomínio e na portaria estão duas pessoas conversando. Uma é “de cor” e a outra não. Você não consegue identificar quem é o porteiro. Você precisa se dirigir a um deles. Qual é a sua escolha? Quem, em sua opinião, é o porteiro? Já notou que a tendência é sempre considerar o negro como empregado e o branco como patrão? Racismo velado ou força da tradição?

Aqui no Sul do Brasil o quadro vai se acomodando e para o bem. É natural em campanhas publicitárias a inserção das pessoas negras em comerciais de alto gabarito e em funções socialmente mais elevadas. Existe um público consumidor que era desconhecido e, além disso, o Brasil está assumindo a sua “brasilidade”.

Não faz muito tempo eu estive numa cidade do Nordeste e lá estão tentando inserir pessoas negras nas campanhas publicitárias locais. O ranço ali ainda permanece. A figura do cidadão negro aparece sempre em funções hierárquicas inferiores... Mas eles também chegarão lá. Por que chegarão? Porque é inevitável. O Brasil está cada dia mais mestiço. Alguém pode dizer que caminhamos em passos largos na direção de um “republiqueta” de vira-latas. E quem disse que um vira-latas é degradante? Você já teve um cão que não seja puro sangue em casa? Ele não sabe amar? É imprevisível? Deixou de ser um cão? Não podemos aceitar essa historieta de becos e porões dizendo que temos complexo de vira-latas. Afinal não temos a virtude de um vira-latas? Ele sobrevive sempre. O faz porque é uma praga ou erva daninha? Sobrevive porque é bom?

Meu convite à reflexão: será que ainda, no último recanto da alma de alguns, existe o racismo velado? Aquele que se manifesta em frases soltas em atitudes aparentemente bem intencionadas? Você não enxerga? Será que não existe? Será que você é racista e nem se deu conta?

O que somos neste País gigantesco?

Enéias Teles Borges
Postagem original: 04/08/2008

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Doce ilusão - I

Desde os mais remotos tempos os homens, sem fugir às suas características, sonharam e projetaram esses sonhos, como se eles fizessem parte da vida real. Tudo não passava de uma maneira de buscar a perpetuação da vida, especialmente em face do medo do que viria depois da morte. Deuses surgiram e interpretações e variações vieram em seguida. Razão pela qual muitos mataram e muitos morreram em clara demonstração de fé no que acreditavam.

A história registra muitos casos de guerras, lutas menores, sofrimentos sem fim neste mesmo contexto. Pessoas, em choro e fé, entregaram suas vidas em demonstração e exemplo de que se pode morrer acreditando numa vida futura.

Fatos recentes nos levam a enxergar o mesmo. Quem não se lembra do ataque terrorista, promovido por radicais islâmicos, às torres gêmeas nos Estados Unidos? Aqueles homens de fé que morreram matando milhares, fizeram isso por patriotismo? Evidente que não.

No embalo da doce ilusão as pessoas estão dispostas a morrer, estão dispostas a matar. A fabulosa ilusão de uma nova vida, depois desta efêmera passagem pela Terra, é o grande agente motivador.

Enéias Teles Borges

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Leituras - Novembro de 2011

Estou concluindo a leitura do livro "As Relíquias Sagradas de Hitler". Hora de pensar em novas leituras. Durante o ano letivo venho lendo a duras penas. Levanto-me muito cedo e à noite estou sem muita disposição para leituras. As mais encorpadas eu vou lendo devagar e relendo parágrafos para uma reflexão mais aprofundada. As leituras mais leves andam devagar, justamente pelo consaço.

Com a proximidade das férias escolares a diminuição do trânsito paulistano, além de uma pausa de aproximadamente vinte dias, será possível olhar com carinho para a leitura em geral. Para tanto eu adquiri, minutos atrás, dois livros de leitura leve: "O Último Templário" de Raymond Khoury e "A Arca Perdida da Aliança" de Tudor Parfitt. Espero que valham o tempo que dispensarei a eles.

Ao final eu espero tecer comentários sobre ambos.

No que tange ao livro "As Relíquias Sagradas de Hitler", que se centra na cidade de Nuremberg (Alemanha), é um livro que merece os minutos que tenho dedicado à leitura. Não é ficção. É um retrato das pretensões bizarras de Hitler e, neste caso, tendo como escudeiro Himmler, o místico líder das "SS". 

Recomendo, portanto.

Enéias Teles Borges

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Existe vida longa?

Vida saudável é a expressão que tem feito parte do cotidiano de muitas pessoas. Comer bem, beber bem, fugir de vícios, praticar esportes. Objetivo: vida longa. O que seria vida longa? Viver mil anos? Claro que não é assim. A vida longa, tão difundida e almejada é quase a mesma coisa da vida curta. Quem vive pouco chega aos sessenta anos. Quem vive muito chega aos oitenta anos. Cerca de vinte anos a mais. Como se vinte anos fossem vinte séculos! O ser humano vive pouco. Morre cedo e isso sempre! Essa diferença de alguns anos a mais não representa grande coisa. Às vezes, para poder viver esse tempo a mais, as pessoas abdicam de prazeres que valem alguns anos de vida. Outras tornam-se escravas do corpo. Evitam quase tudo para manter o corpo malhado e em ordem. Gostam disso? Tudo bem. Mas fazer sacrifícios para viver alguns míseros anos a mais é escolha certa? Respeito as opiniões de todos, mas tenho minhas dúvidas se a tal vida saudável faz aumentar a expectativa de vida. Há que se considerar os infortúnios, tais como acidentes, assaltos à mão armada e tantos outros impeditivos para a tal vida longa...

Enéias Teles Borges

sábado, 19 de novembro de 2011

Era uma vez um homenzinho...

Era uma vez um homenzinho, que vivia num planetinha, num sistemazinho solar que fica num pontinho de uma galáxia. Esta galáxia é uma entre bilhões e bilhões... No planetinha existem bilhões de outros homenzinhos e mulherzinhas. Nosso querido homenzinho cria que era muito importante. Muitíssimo importante. Importantíssimo!

O homenzinho acreditava (porque assim foi doutrinado) que o criador de toda essa imensidão seria capaz de parar tudo, absolutamente tudo, só para lhe dar atenção.

Um dia o homenzinho morreu acreditando que o universo perdeu o que havia de mais precioso. Ele! Sim ele mesmo! Aquele por quem até mesmo o criador de tudo e do tudo, pararia só para lhe ouvir... 

Era um homenzinho, mas com auto-estima de um homenzarrão!

Enéias Teles Borges
Publicado em 29/10/2009

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Pedinte sem mãos

Hoje eu parei num semáforo no Centro de São Paulo. Fiquei aguardando o sinal verde para manobrar para outra avenida, quando o vi. Um pedinte mutilado. Faltava-lhe o braço esquerdo inteiro e possuía apenas um pequeno pedaço do braço direito, bem acima do cotovelo.

Notei algo, no mínimo diferente: quem quisesse fazer alguma contribuição precisaria ir mais adiante. Seria necessário que o pedinte se abaixasse um pouco, para que o donativo fosse colocado no bolso de sua camisa. Até para receber esmolas ele tinha dificuldades. Tratava-se de um pedinte sem mãos.

Nosso mundo tem dessas coisas...

Enéias Teles Borges

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Dividindo a miséria

Hoje cedo eu vi, num recanto paulistando, sob a passarela do metrô Santana, um casal de moradores de rua. Chovia naquele instante. Os trapos nos quais se guarneciam estavam dobrados e arrumados como se fossem roupa limpa. O homem esquelético estava sentado e a mulher, mais idosa que ele, bebia algo. Deixou metade e ofereceu ao homem magro, que recusou e agradeceu. Certamente ele queria beber um pouco, mas preferiu deixar tudo para a companheira.

Ali estava um casal que parecia dividir coisas. O que dividiam, efetivamente, era a miséria. Quem são eles? Dois seres humanos que vegetam e fazem parte dos sete bilhões de outros humanos vivos que povoam nosso planeta.

Qual o sentido de tanto sofrimento, nesta vida curtíssima? Os religiosos, especialmente os partidários da fé cega e da faca amolada, possuem a resposta padrão. Resposta que se mostra vazia, quando confrontada com a "realidade nua e crua".

A grande realidade que quer se mostrar é bem objetiva: enquanto muitos dividem a miséria, outros dividem coisa melhor. Nada mais que isso. Muitos vivem mal e logo mais morrerão. Outros vivem bem e logo mais morrerão. 

Injustiça?

Quem disse que o fato de viver neste mundo concede o direito a tal justiça?

Enéias Teles Borges

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

A soma de todos os medos - V

A criança em geral é muito amada e querida pelos pais. Quem não se sente agraciado, diante de um sorriso infantil? Mesmo amada, a criança, com o crescer do tempo, vai mostrando o que é natural no ser humano. Mostra virtudes e defeitos. Apresenta bons e maus comportamentos. Os pais, claro, precisam cuidar da educação dos filhos. Aí surge um grande problema: confusão imensa na consideração do que viriam a ser educação, religião, civilidade...

Num contexto de fé a criança, desde cedo, aprende o que todas as agremiações sugerem ser, com base nas palavras do sábio Salomão, "o caminho que deve andar..." Obviamente cada segmento de fé considera o seu caminho como sendo "o caminho". os damais, naturalmente, seriam engodos.

Diante deste quadro as crianças são induzidas a certos comportamentos, que no futuro serão considerados como "obras do Espírito Santo" e que na realidade não passarão de "reflexos condicionados".

1. Quando a criança faz coisa boa, ouve: "Jesus ficou feliz";
2. Quando faz coisa errada, ouve: "assim você deixa Jesus triste.

Quem é Jesus? A criança desde cedo aprende que Jesus, o Cristo, foi uma criança perfeita, obediente e temente a Deus.

Neste vai e vem do "Jesus ficou triste" e "Jesus ficou alegre", a criança vai sendo condicionada e aprende outros passos. 

Destaco dois:

1. Se você for uma pessoa boa, que permita Jesus em seu coração, herdará o céu;

2. Se você não seguir os caminhos de Jesus, que lhe ama tanto, você haverá de morrer eternamente...

E assim a criança desde cedo vai aprendendo e confundindo temor com tremor. Eis que mais uma pessoa cresce, torna-se adolescente, adulta... Convive com o medo da morte eterna e a esperança da vida eterna, pelos méritos de Jesus.

É certo que o medo da punição de Deus sobrepuja o desejo que o homem tem de viver eternamente. O medo da ira de Deus é mais um dos medos, da famigerada soma de todos os medos.

Enéias Teles Borges

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

A soma de todos os medos - IV

Um conhecido me descreveu o que imaginava ser o inferno para os ímpios. Como seria o sofrimento eterno das pessoas que não conseguissem a salvação. O inferno, temido castigo dos injustos, dos que se recusaram temer a Deus e viver de acordo com o seu ordenamento de justiça e amor.

No inferno existiriam dois níveis de infiéis sofredores. Os comuns, que arderiam eternamente no fogo. Segundo ele o sofrimento destes seria menor. Estariam, depois de algum tempo, acostumados ao fogo e aprenderiam a ignorar a dor.

Os ruins, do segundo nível,  extremamente maus, sofreriam de uma forma bem mais desagradável. Queimariam numa chapa de ferro, sofrendo dores atrozes, derretendo igual gordura no fogo, durante 24 horas. Na virada do "dia" tudo seria recomeçado. Jamais se acostumariam com a dor, pois a cada dia o sofrimento seria renovado.

Ele não estava brincando. E mais: possui um nível de cultura e experiência de vida de classe média alta. É racionalista na vida comum e profissional. No que tange à religião ele age como se fosse outro indivíduo. Um ser, que ao pensar na religiosidade, dispõe-se a acreditar em tudo que venha do "altar".

O medo a todos assombra. Ricos e pobres, novos e velhos. De medo em medo a existência do fiel vai sendo construída de tal modo que ele, o fiel, desespera-se diante da famigerada soma de todos os medos. E assim caminha o mundo da fé. Mostra o inferno e diz existir um céu. Qual seria o preço de tudo isso?

Continua...

Enéias Teles Borges

terça-feira, 8 de novembro de 2011

A soma de todos os medos - III

Todas as religiões são fundadas sobre o temor de muitos e a esperteza de poucos. (Stendhal)

Num primeiro momento esta frase promove reação contrária. Há quem certamente dirá: "toda generalização é perigosa..." Precisamos, porém, ver a religião da maneira como ela se apresenta hoje, como exteriorização dos projetos, das muitas entidades de poder temporal, que vendem a ideia de uma vida que não se extiguirá.

Quando as pessoas são colocadas diante de duas possibilidades, que são a "vida eterna" e a "morte eterna", o que primeiro se mostra é o temor. Não é a esperança. Para se obter a vida do além será necessário ter medo da morte eterna. Para se obter o céu é necessário ter medo do inferno.

Produzir a dificuldade infernal e propiciar a possibilidade de uma vida eterna e repleta de prazer tem sido o "carro-chefe" dos centros de difusão de fé. O ser humano, por natureza, teme a morte. Basta que a morte seja apimentada com a ideia do sofrimento e da eternidade inconsciente, para que o medo se espalhe. Quando o terror assola a alma, nada como o bálsamo da fé, da vida eterna, da alegria sem fim, para que o ser humano, sofredor que é, medroso que é, sinta-se reconfortado.

A soma de todos os medos é a ferramenta para o crescimento das religiões. Existe uma técnica em tudo isso. Medo e esperança, em doses pequenas e constantes. O resultado está diante dos nossos olhos. A religião domindando o mundo, amedrontando o povo e enriquecendo os que são espertos...

Continua...

Enéias Teles Borges

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

A soma de todos os medos - II

A condição dos homens seria lastimável se tivessem de ser domados pelo medo do castigo ou pela esperança de uma recompensa depois da morte. (Albert Einstein) 

A frase do ilustre cientista aparece numa espécie de condicional. Analisando os fatos concretos que se apresentam no comportamento da maioria dos homens de fé, não há espaço para se relativizar. A maioria dos religiosos vive em situação lastimável, pois teme o castigo eterno e almeja a recompensa, que ela crê, será eterna. 

O horror do inferno é um dos medos elaborados e faz parte daquela famosa adição: "a soma de todos os medos". A ideia de inferno foi muito bem trabalhada na idade média, naquele período nebuloso das maldades em nome de Deus. Momento tenebroso da vida humana, que ainda estende seus tentáculos até o século XXI. A religião se faz, primeiramente, com o medo. Logo em seguida ela libera a esperança. Cria o inferno e vende o céu.

O medo de ir para um lugar de dor eterna é, sem qualquer dúvida, um dos sustentáculos da fé. Ele tem papel preponderante na somatória de todos os medos... 

Continua...

Enéias Teles Borges

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

A soma de todos os medos - I

Eu nasci no milênio passado, no ano de 1962. Por mais que eu me esforce não consigo me lembrar de qualquer evento que tenha acontecido antes daquele ano. A razão é simples: como eu poderia me lembrar se eu não estive presente? Sei que de 1962 para trás o que existe é a eternidade passada. Certamente de nada me lembrarei depois da minha morte. Será a eternidade futura. Nada eu sofri na eternidade passada, nada sofrerei na eternidade futura. Alegrias e dores só são experimentadas no presente de quem vive.

Tal reflexão poderá fazer muitos dizerem: "palavras de um ateu". Não! Eu não sou ateu. Sigo sendo agnóstico teísta. Acredito na existência de um ser superior. O que tenho repensado é algo muito sério: a religião. Não é por menos que estou sempre a dizer: a crença não faz mal, pode até fazer bem. Mas a religião, proselitista como a conhecemos, é deletéria. Não há como produzir bons frutos. É a crença, que insta em se imiscuir nos seios das culturas religiosas, que propicia o que há de bom nas vidas dos seres de fé.

O que viria, então a ser a religião como nós a conhecemos? De momento eu tenho uma resposta bem simples: a maneira como as pessoas são levadas a acreditar e a praticar decorre de um resultado. Tal resultado é a soma de todos os medos...

Continua...

Enéias Teles Borges

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Mais de 100 bilhões de mortos...

Nesta semana foi divulgada uma cifra enorme: a população da Terra chegou aos 7 bilhões de seres vivos. Número altíssimo, muito além da capacidade do Planeta em produzir e suportar os tratos humanos que incidem sobre a natureza. É certo dizer que a natureza geme, em razão dos atos humanos.

Outro número fabuloso: 100 bilhões de pessoas que já passaram pela Terra e hoje fazem parte do outro mundo - o mundo dos que existiram.

Analisando pela ótica religiosa é razoável supor que os "justos que ressurgirão entre os mortos" serão de pouco mais de 1% deste impensável número. No máximo 3%! Isso porque a Terra ficaria extremamente povoada, caso mais pessoas viessem de volta à vida. Afinal o mundo eterno de paz e glória pressupõe conforto e tal conforto seria impossível com gente demais no Planeta.

Assim vale a máxima: muitos serão chamados e poucos escolhidos. Muitos nascerão e morrerão, mas poucos, cerca de 1% de todos os que existiram e existem, viverão eternamente...

Enéias Teles Borges

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Medo, terror, fim do mundo, pragas...

Essa conversa de "fim do mundo maia" e outros tipos de "fim do mundo" são, em alguns casos, piadas de péssimo gosto. Num país como o nosso, no qual proliferam profetas de "meia-tigela", há quem acredite em tudo isso. Parece-nos que o ser humano precisa conviver com a perspectiva de catástrofe para ter sentido na vida. Como se não bastassem sete bilhões de seres humanos e seus diferentes bilhões de problemas e calamidades... 
Eu cresci ouvindo falar de perseguição nos últimos tempos, que deveríamos mudar para cidades pequenas ou para "perto do mato", que haveria decreto "X", que aumentaria a pressão e a perseguição. O povo remanescente seria ultrajado, humilhado e que deveria suportar tal tempo de angústia! Pragas viriam, calamidades sem fim. A religião do terror total me acompanhou na infância. Há quem goste de torrorismo. Eu não! Dê ao povo o medo e a esperança que ele se disporá a rezar, a chorar, a sorrir, a acreditar no inacreditável...
Nota: Parágrafos extraídos de meu mural no Facebook.
Enéias Teles Borges

Sobre o fim do mundo em 2012

O prognóstico maia do fim do mundo foi um erro histórico de interpretação, segundo revela o conteúdo da exposição "A Sociedade e o Tempo Maia" inaugurada recentemente no Museu do Ouro de Bogotá.

O arqueólogo do Inah (Instituto Nacional de Antropologia e História do México) e um dos curadores da mostra, Orlando Casares, explicou à Agência Efe que a base da medição do tempo desta antiga cultura era a observação dos astros.

Eles se inspiravam, por exemplo, nos movimentos cíclicos do Sol, da Lua e de Vênus, e assim mediam suas eras, que tinham um princípio e um final.

"Para os maias não existia a concepção do fim do mundo, por sua visão cíclica", explicou Casares, que esclareceu: "A era conta com 5.125 dias, quando esta acaba, começa outra nova, o que não significa que irão acontecer catástrofes; só os fatos cotidianos, que podem ser bons ou maus, voltam a se repetir."

Para não deixar dúvidas, a exposição do Museu do Ouro explica o elaborado sistema de medição temporal desta civilização.

"Um ano dos maias se dividia em duas partes: um calendário chamado 'Haab' que falava das atividades cotidianas, agricultura, práticas cerimoniais e domésticas, de 365 dias; e outro menor, o 'Tzolkin', de 260 dias, que regia a vida ritualística", acrescentou Casares.

A mistura de ambos os calendários permitia que os cidadãos se organizassem. Desta forma, por exemplo, o agricultor podia semear, mas sabia que tinha que preparar outras festividades de suas deidades, ou seja, "não podiam separar o religioso do cotidiano".

Ambos os calendários formavam a Roda Calendárica, cujo ciclo era de 52 anos, ou seja, o tempo que os dois demoravam a coincidir no mesmo dia.
Para calcular períodos maiores utilizavam a Conta Longa, dividida em várias unidades de tempo, das quais a mais importante é o "baktun" (período de 144 mil dias); na maioria das cidades, 13 "baktunes" constituíam uma era e, segundo seus cálculos, em 22 de dezembro de 2012 termina a presente.

Com esta explicação querem demonstrar que o rebuliço espalhado pelo mundo sobre a previsão dos maias não está baseado em descobertas arqueológicas, mas em erros, "propositais ou não", de interpretação dos objetos achados desta civilização.

De fato, uma das peças-chave da mostra é o hieróglifo 6 de Tortuguero, que faz referência ao fim da quinta era, a atual, neste dezembro, a qual se refere à vinda de Bolon Yocte (deidade maia), mas a imagem está deteriorada e não se sabe com que intenção.

A mostra exibida em Bogotá apresenta 96 peças vindas do Museu Regional Palácio Cantão de Mérida (México), onde se pode ver, além de calendários, vestimentas cerimoniais, animais do zodíaco e explicações sobre a escritura.
Para a diretora do Museu do Ouro de Bogotá, Maria Alicia Uribe, a exibição sobre a civilização maia serve para comparar e aprender sobre a vida pré-colombiana no continente.

"Interessa-nos de alguma maneira comparar nosso passado com o de outras regiões do mundo", ressaltou Maria sobre esta importante coleção de arte e documentário.

A exposição estará aberta ao público até 12 de fevereiro de 2012, para depois deve ser transferida para a cidade de Medellín.

(Jornalisticamente Falando) 

Nota: Essa conversa de fim do mundo maia e outros tipos de "fim do mundo" são, em alguns casos, piadas de péssimo gosto. Num país como o nosso, no qual proliferam profetas de "meia-tigela", há quem acredite em tudo isso. Parece-nos que o ser humano precisa conviver com a perspectiva de catástrofe para ter sentido na vida. Como se não bastassem sete bilhões de seres humanos e seus diferentes bilhões de problemas e calamidades... 

Enéias Teles Borges

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