segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Perdeu a fé, ganhou a verdade...


Na mesma proporção em que avançava nos estudos, menos deixava de acreditar. Tudo o que acreditou na infância e juventude começou a escorrer como água entre os dedos. Preferiu crer que assim costuma ocorrer na maturidade, a caminho da velhice. Não há mais tempo para sonhar. Hora de viver. O viver não é exatamente como ele um dia sonhou.

Seus amigos, que não se dedicavam tantos aos estudos, notaram a mudança de comportamento e de temperamento. Logo começaram a dizer: “estudar demais faz mal. Dedicar-se demais às leituras profundas esmaga a fé. A experiência, diziam, tem demonstrado que os humildes herdarão a terra. Estudar demais dizima a humildade”.

Seguiu seus estudos e acostumou-se com a ideia de que o sonho não coadunava com a realidade. Ele preferia a esperança, mas em seu lugar viu nascer a desesperança. A esperança era o sonho, a desesperança era a vida como ela é...

Finalmente assimilou e não mais ligava para os comentários dos amigos. Costumava dizer a todos: “percorram o caminho que eu percorri e certamente chegarão ao lugar no qual me instalei...”.

Seus amigos, de pronto, respondiam: “você perdeu a fé!”.

Ele, que sempre foi honesto, respondia: “é fato que perdi a fé, a formosura da fé que tanto me trouxe esperança. Em seu lugar, porém, ganhei a verdade, com suas mazelas e desesperos”. Emendava: “eu até preferiria a fé, em lugar da realidade, a esperança, no lugar da desesperança...”.

Concluía: “é que descobri que uma coisa é desejar (esperança) e outra é a existência (ou não) do objeto do desejo (verdade)...”.

Enéias Teles Borges

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