Na mesma proporção em
que avançava nos estudos, menos deixava de acreditar. Tudo o que acreditou na
infância e juventude começou a escorrer como água entre os dedos. Preferiu crer
que assim costuma ocorrer na maturidade, a caminho da velhice. Não há mais tempo para sonhar. Hora de
viver. O viver não é exatamente como ele um dia sonhou.
Seus amigos, que não se
dedicavam tantos aos estudos, notaram a mudança de comportamento e de
temperamento. Logo começaram a dizer: “estudar demais faz mal. Dedicar-se
demais às leituras profundas esmaga a fé. A experiência, diziam, tem demonstrado
que os humildes herdarão a terra. Estudar demais dizima a humildade”.
Seguiu seus estudos e
acostumou-se com a ideia de que o sonho não coadunava com a realidade. Ele
preferia a esperança, mas em seu lugar viu nascer a desesperança. A esperança
era o sonho, a desesperança era a vida como ela é...
Finalmente assimilou e
não mais ligava para os comentários dos amigos. Costumava dizer a todos: “percorram
o caminho que eu percorri e certamente chegarão ao lugar no qual me instalei...”.
Seus amigos, de pronto,
respondiam: “você perdeu a fé!”.
Ele, que sempre foi
honesto, respondia: “é fato que perdi a fé, a formosura da fé que tanto me
trouxe esperança. Em seu lugar, porém, ganhei a verdade, com suas mazelas e
desesperos”. Emendava: “eu até preferiria a fé, em lugar da realidade, a
esperança, no lugar da desesperança...”.
Concluía: “é que
descobri que uma coisa é desejar (esperança) e outra é a existência (ou não) do objeto do desejo (verdade)...”.
Enéias Teles Borges
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