A capacidade inata de procurar a explicação de um fenômeno é uma das
diferenças entre o ser humano e outros animais. O homem primitivo não
tinha como entender eventos mais complexos, como a erupção de um vulcão,
um eclipse ou um raio. A busca de explicações sobrenaturais pode ser
considerada natural. Mas por que ela desembocou na fé e no surgimento
das religiões? Cientistas de diferentes áreas se debruçaram sobre a
questão nos últimos anos e chegaram a conclusões surpreendentes. Não só a
fé parece estar programada em nosso cérebro, como teria benefícios para
a saúde.
Com sua intuição genial, Charles
Darwin, criador da teoria da evolução há 150 anos, já havia registrado
ideia semelhante no livro A descendência do homem, em 1871:
“Uma crença em agentes espirituais onipresentes parece ser universal”.
“Somos predispostos biologicamente a ter crenças, entre elas a
religiosa”, diz Jordan Grafman, chefe do departamento de neurociência
cognitiva do Instituto Nacional de Distúrbios Neurológicos e Derrame. Grafman é o autor de uma das pesquisas mais recentes sobre o tema, publicada neste mês na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences.
Em
seu estudo, Grafman analisou o cérebro de 40 pessoas – religiosas e não
religiosas – enquanto liam frases que confirmavam ou confrontavam a
crença em Deus. Usando imagens de ressonância magnética funcional – que
mede a oxigenação do cérebro –, o neurocientista descobriu que as partes
ativadas durante a leitura de frases relacionadas à fé eram quase as
mesmas usadas para entender as emoções e as intenções de outras pessoas.
Isso quer dizer, segundo Grafman, que a capacidade de crer em um ser ou
ordem superior possivelmente surgiu ao mesmo tempo que a habilidade de
prever o comportamento de outra pessoa – fundamental para a
sobrevivência da espécie e a formação da sociedade. E para estabelecer
relações de causa e efeito. A interferência de um ser muito poderoso
seria uma explicação eficiente para aplacar a necessidade de entender o
que não se consegue explicar com o conhecimento comum.
Mas
o que levaria o ser humano, dotado de razão, a acreditar que um
velhinho de barba branca, em cima de uma nuvem, atira raios sobre a
Terra? Ou que 72 virgens aguardam os fiéis no Paraíso? “Tendemos a
atribuir características humanas às coisas, inclusive ao ser divino”,
diz Andrew Newberg, neurocientista da Universidade da Pensilvânia,
autor de outro importante estudo sobre o poder da meditação e da
oração. “A crença religiosa surgiu como um efeito colateral da maneira
como nossa mente é organizada, da maneira como ela funciona
naturalmente”, diz Justin Barrett, antropólogo e professor da
Universidade de Oxford.
Recomendo que leiam o texto e a entrevista teclando em "Época".
Nota: É um tema que me surpreende sempre. Não abro mão de inúmeras possibilidades de descobertas que a vida nos propicia. Qualquer que seja...
Enéias Teles Borges
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