A postagem a seguir foi extraída do blogue a arte de ter razão, do amigo Ricardo Cluk.
Quando um ateu assevera que deus não existe, muitos religiosos ficam escandalizados e admirados com o fato de que alguém que não acredita no sobrenatural se empenhe tanto no combate à crença religiosa. Chegam a dizer que isso é pouco inteligente.
Acontece que, dentre esses mesmos religiosos, que tanto criticam a postura combatente do ateu em relação à religião, existe uma guerra ideológica em torno de seus deuses e religiões. Por exemplo: o cristão abomina os deuses do hinduismo; o hindu não entende qual é a do cristão; o budista crê numa energia cósmica, que não tem nada a ver com um deus auto-revelado; e por ai vai.
Só para citar a batalha dentro do próprio cristianismo, não faz muito tempo, católicos e protestantes se matavam na Irlanda. A história do cristianismo está manchada com o sangue derramado por cristãos matando cristãos. Hoje, a guerra entre as várias ramificações do cristianismo migrou do campo sanguinolento para o “intelectualóide”.
É comum ouvir pseudocristãos, metidos a intelectuais, chamando os mais ortodoxos de estúpidos e, em resposta a esse tipo de ofensa, cristãos fundamentalistas suplicam ao seu deus para que castigue esses hereges maldizentes lançando-os no inferno, juntamente com pagãos e ateus.
A confusão é tremenda.
Por definição, cristão é alguém cuja vida é centrada nos ensinamentos de Jesus Cristo, mas na cristandade não há conformidade de pensamento a respeito de quem exatamente foi ou é esse personagem bíblico.
Para alguns de seus sectários Jesus é o Deus encarnado; para outros ele não é Deus, mas a criatura primordial da criação; para alguns Jesus foi mais um dentre os profetas; para outros ele foi apenas um ser humano muito sábio; quem sabe ele tenha sido um missionário extraterrestre? E, assim como acontece com as religiões, existe um Jesus Cristo para cada gosto, para cada bolso e para cada nível intelectual.
Na verdade, a única diferença entre um ateu e um crente no sobrenatural é a quantidade de divindades nas quais desacreditam. O ateu não acredita em divindade alguma, enquanto o crente rejeita todas elas, menos aquela por ele idealizada.
Em suma, o ateu tem tanto direito de criticar a fé religiosa alheia, quanto o cristão tem feito com o hinduísmo, ou o católico com o protestantismo... Assim, caro leitor, como a história tem demonstrado, o maior inimigo do seu deus não é o ateísmo, mas o deus do seu vizinho.
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