segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

O ateismo e o conforto

Os acontecimentos recentes e catastróficos que tomaram conta do Sul e Sudeste do Brasil causaram e seguem causando comoção. As fortes chuvas, tidas como resultantes da mudança climática, estão destroçando obras humanas e ceifando vidas. Mortes e mais mortes no Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul. Pontes caem, dos morros descem toneladas de pedras e lama, afogamentos e caos. O homem sente, de forma tormentosa, a força da natureza terrestre.

Surgem, também, paralelos aos sofrimentos, os atos reconfortantes oriundos de homens e dirigidos à humanidade. Pessoas que acalentam esperanças, quanto ao futuro humano, tratam de consolar aqueles que perderam entes queridos. Também os esfacelados pelos sofrimentos consolam-se, guardando no peito a esperança de reencontro em outra vida ou em outro momento num contexto de restauração da vida...

Esse conforto, virtude ou ilusão dos que creem, apazigua a alma. Só advém daqueles que depositam esperança na vida futura. Somente os que estão dispostos a viver em razão da fé podem consolar e conseguem o consolo e paz. É quase insuportável perder um filho, filha, pai, mãe, irmão, irmã, amigos e conhecidos? Sim, é muito difícil e triste. Mas a esperança de revê-los um dia serve como forte motivação para que se tenha um pouco de paz. Como não se reconfortar diante da bendita esperança?

Convenhamos: a fé religiosa traz conforto. O conforto, escudado nessa fé, está ao alcance do criacionista que tem sua confiança depositada num deus pessoal. A fé é tão poderosa que remove as montanhas destruidoras da vida finita e em seus lugares coloca a esperança da vida eterna.

Eis, quem sabe, a razão para se afirmar que o ateísmo, por mais sincero e realista que seja, jamais oferecerá ao ser humano algo precioso e importantíssimo num momento de suprema dor: o conforto – essencial para que os olhos humanos brilhem a despeito das trevas da realidade presente.

Não se discute, nesse momento, quem está com a verdade. A questão é: a realidade do ateísmo deveria se fazer presente nesse momento e conclamar que não há possibilidade para que se concretize a bendita esperança? Seria razoável tirar dos contritos a esperança que possuem, não havendo algo melhor para preencher o vazio que se fez presente no peito e na alma?

O ateísmo, num momento de profunda dor, jamais terá condições de oferecer o conforto propiciado pela crença no deus amorável. Aliás esse nunca foi o seu fito. O ateísmo não pretende oferecer paz e esperança. O ateísmo é isso: crença na inexistência de deus...

O que nos sobra, portanto, além da esperança da fé e a realidade do materialismo? Eu respondo: nada. Ou se tem um ou se tem o outro...

Enéias Teles Borges
Postagem original: 06/01/2010

7 comentários:

Altamirando Macedo disse...

Os acontecimentos catastróficos promovidos pela natureza,que ceifam vidas, destroem famílias e causam todos os tipos e infortúnios são, de acôrdo aos crentes, designados por Deus.
Portanto, partindo desta premissa, confortar os parentes das vítimas e os sobreviventes com o consolo de que serão recompensados por Deus, que há uma outra vida e lá ele estará esperando-os para serem felizes eternamente, é uma incongruência. Por quê dizer a eles que Deus irá ajudá-los se foi este mesmo Deus que causou o infortúnio? Para os ateus, o que não tem remédio, remediado está.A mentira só trás conforto para quem acredita nela. Neste contexto o ateu pode prestar solidariedade e apoio moral para aqueles que não necessite de ilusão.
Não se deve dar predicados inexistentes aos ateus por serem realistas pois a crença é mutavel mas a realidade, não.
.

Cleiton Heredia disse...

Convenhamos: a fé religiosa traz conforto. - Enéias Borges

Enéias,

Não há menor sombra de dúvida que a fé religiosa traz conforto!

Em relação ao problema da morte, na fé há conforto de sobra para todos os gostos, preferências e desejos. Basta escolher a que mais lhe agrada:

Cristianismo – Vida eterna num corpo incorruptível no paraíso ao lado de Jesus juntamente com todos seus entes queridos ressuscitados.

Islamismo – Vida eterna no paraíso e, caso seja do sexo masculino e mártir, com o bônus de 70 virgens para lhe fazer companhia.

Judaísmo – Vida eterna no paraíso acompanhada da satisfação de ver todos seus opressores devidamente castigados e eliminados.

Espiritismo – A alma imortal continuará sua evolução em outros mundos ou poderá reencarnar neste mesmo em outra vida. O reencontro dos vivos com seus queridos que já morreram pode acontecer em uma sessão espírita.

Wicca – Todos voltam para útero da deusa mãe de onde originalmente saíram.

Budismo, Hinduísmo e demais religiões orientais espiritualistas – A morte não é o fim, pois a vida continuará através de sucessivas reencarnações, subindo ou descendo na escala dos seres vivos.

E por aí vai...

Qual escolher? Isto não é importante, pois se sua preocupação maior é buscar algo que lhe forneça conforto, segurança e esperança, a verdade (ou realidade) pouco lhe importa. Escolhe qualquer uma que está tudo bem.

Mas depois de escolher vê se não fica se gabando que sua escolha foi melhor que a do outro, e muito menos criticando a escolha que o outro fez. A mesma fé que lhe dá esperança no céu cristão, dá esperança ao espírita no mundo dos espíritos.

O que acontece com a maioria das pessoas é que normalmente herdam de seus progenitores o tipo de conforto que terão. Alguns outros decidem trocar de conforto ao longo da vida e escolhem algo diferente (uma religião diferente).

Porém, são muito poucos aqueles que possuem a coragem de se deixarem guiar pela razão e aceitam a realidade assim como ela é.

Alexandre - Condor disse...

Enéias

Certa vez eu postei algo que pode servir pra demonstrar o que penso acerca dessa questão...

Lê aê quando tiver tempo!

http://tocadocondor.blogspot.com/2009/11/deus-o-lado-bom-das-tragedias.html

Sobre o ombro de gigantes disse...

O exercício do ateísmo para muitos é muito recente e creio que são raros aqueles que o fazem desde o início de suas vidas; baseado numa cultura monoteísta como a nossa.
Desse modo; oferecer conforto aqueles que sofrem perdas irreparáveis deverá ser exatamente a prática da convivência com aquele que conforta e conhece suas convicções.
O ateu pode oferecer conforto na forma de companhia silenciosa e atenta; pronto para a prática de ouvir o que o outro tem a dizer ou simplesmente enxugar suas lágrimas.
Pode ser o amigo racional que dá conselhos e observa para o confortado; o mundo que continua a passar com suas armadilhas; para presas fáceis em momentos como esse.
Em resumo: O ateu pode oferecer amor e carinho; que não está restrito a concordar com a fé por simples conveniência ; mas dividir a dor com aquele que sofre.

Marcus Valerio XR disse...

Um problema que é sempre esquecido é que o conforto oferecido pelas religiões dominantes é na maioria das vezes flagrantemente falso de acordo com sua própria teologia, visto que a maioria das pessoas morre em pecado, não se convertendo, e tem como destino o sofrimento indizível e interminável no inferno, ou numa interpretação menos cruel, a aniquilação.

De todas as religiões citadas pelo Cleiton, a única que pode confortar incondicionalmente é o Espiritismo, onde só existe evolução e o pior que pode acontecer é um espírito demorar mais que outro para atingir a felicidade suprema. E os que se estagnarem por tempo indefinido, o fazem por vontade própria.

Nesse sentido, o reencontro com o ente querido é inevitável se ambos tiverem disposição.

Não sou espírita, mas não tenho dúvida que se o espiritismo se tornasse a religião dominante do mundo, nossa vida seria bem melhor.

De qualquer modo, concordo com o teor geral do texto desde que se deixe claro que esse teísmo em si é algo distinto da religiosidade tradicional, estando mais para uma crença genérica na benevolência e propósito do universo.

Marcus Valerio XR disse...

Um problema que é sempre esquecido é que o conforto oferecido pelas religiões dominantes é na maioria das vezes flagrantemente falso de acordo com sua própria teologia, visto que a maioria das pessoas morre em pecado, não se convertendo, e tem como destino o sofrimento indizível e interminável no inferno, ou numa interpretação menos cruel, a aniquilação.

De todas as religiões citadas pelo Cleiton, a única que pode confortar incondicionalmente é o Espiritismo, onde só existe evolução e o pior que pode acontecer é um espírito demorar mais que outro para atingir a felicidade suprema. E os que se estagnarem por tempo indefinido, o fazem por vontade própria.

Nesse sentido, o reencontro com o ente querido é inevitável se ambos tiverem disposição.

Não sou espírita, mas não tenho dúvida que se o espiritismo se tornasse a religião dominante do mundo, nossa vida seria bem melhor.

De qualquer modo, concordo com o teor geral do texto desde que se deixe claro que esse teísmo em si é algo distinto da religiosidade tradicional, estando mais para uma crença genérica na benevolência e propósito do universo.

Altamirando Macedo disse...

Enéas,a mesma razão de 7 de janeiro de 2010 continua me orientando. Nã0 mudei de idéia.
Abraços mil.

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