Ele estava numa festa e não acreditava. Ele ali? Pois é, era ele mesmo naquela festança tão almejada e antes tão inacessível. Estava entre nobres. Fazia parte da roda dos favorecidos. Finalmente!
A festa acabou e quando se deu conta disso ele acordou. Olhou de lado, manhã fria, vida a enfrentar. E que vida miserável!
A festa acabou o sonho acabou. Era uma festa dentro de um sonho. Mesmo dentro do sonho a festa acabou. Era o resumo em essência da desgraça. Festa no sonho. Final de festa no sonho. Do famigerado sonho para a realidade podre.
Lembram-se do poema “José” de Carlos Drummond de Andrade? Há situação pior do que aquela? Existe sim! É acabar a festa no sonho, ir para a amargura no sonho e do sonho sair para a realidade amara desse cotidiano louco. Basta ler o poema abaixo para se ter uma idéia de certos aspectos da vida, para concluir, ao final, que pode ainda ser pior...
José
(Carlos Drummond de Andrade)
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, Você?
Você que é sem nome,
que zomba dos outros,
Você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
E agora, José?
sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio, - e agora?
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse,
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse....
Mas você não morre,
você é duro, José!
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja do galope,
você marcha, José!
José, para onde?
Enéias Teles Borges
Postagem original: 19/06/2008
-
A festa acabou e quando se deu conta disso ele acordou. Olhou de lado, manhã fria, vida a enfrentar. E que vida miserável!
A festa acabou o sonho acabou. Era uma festa dentro de um sonho. Mesmo dentro do sonho a festa acabou. Era o resumo em essência da desgraça. Festa no sonho. Final de festa no sonho. Do famigerado sonho para a realidade podre.
Lembram-se do poema “José” de Carlos Drummond de Andrade? Há situação pior do que aquela? Existe sim! É acabar a festa no sonho, ir para a amargura no sonho e do sonho sair para a realidade amara desse cotidiano louco. Basta ler o poema abaixo para se ter uma idéia de certos aspectos da vida, para concluir, ao final, que pode ainda ser pior...
José
(Carlos Drummond de Andrade)
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, Você?
Você que é sem nome,
que zomba dos outros,
Você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
E agora, José?
sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio, - e agora?
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse,
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse....
Mas você não morre,
você é duro, José!
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja do galope,
você marcha, José!
José, para onde?
Enéias Teles Borges
Postagem original: 19/06/2008
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