quinta-feira, 30 de julho de 2009

O que é agnosticismo?

Quando começamos a tecer comentários filosóficos ou teológicos é natural que nos deparemos com palavras e expressões que trazem em seu bojo um sentido amplo (por que não histórico?) e que necessariamente precisam ser entendidas de forma correta (ou bem perto disto). Uma palavra que merece consideração é agnosticismo. Afinal qual o seu sentido? No texto abaixo temos um vislumbre:

O que é agnosticismo?

Agnosticismo é a postura de acreditar que o conhecimento da existência de Deus é impossível. É freqüentemente oferecido como um meio termo entre o teísmo e o ateísmo.

Compreendido desta forma, o agnosticismo é o ceticismo com respeito a tudo o que seja teológico. O agnóstico sustenta que o conhecimento humano é limitado ao mundo natural, que a mente é incapaz do conhecimento do sobrenatural.

Entendido assim, um agnóstico poderia também ser um teísta ou um ateu. O primeiro seria chamado de fideísta, alguém que acredita em Deus puramente por fé. O segundo é às vezes acusado pelos teístas de ter fé na inexistência de Deus, mas a acusação é absurda e a expressão não faz sentido. O ateu agnóstico simplesmente não encontra nenhuma razão convincente para acreditar em Deus.

O termo agnóstico foi criado por T. H. Huxley (1825-1895), inspirado por David Hume e Immanuel Kant. Huxley afirma que inventou o termo para descrever o que ele pensava torná-lo único entre seus colegas pensadores.

Eles estavam seguros de ter alcançado uma certa "gnose" -- tinham resolvido de forma mais ou menos bem sucedida o problema da existência, enquanto eu estava bem certo de que não tinha, e estava bastante convicto de que o problema era insolúvel.

Agnóstico veio à mente, ele diz, porque o termo era "sugestivamente antitético aos gnósticos da história da Igreja, que professavam saber tanto sobre exatamente as coisas a respeito das quais eu era ignorante...." Huxley parece ter tido a intenção de que o termo significasse que a metafísica é, mais ou menos, bobagem. Em resumo, ele parece ter concordado com a conclusão de Hume no final de Investigação Sobre o Entendimento Humano.

Quando percorrermos bibliotecas, convencidos por esses princípios, que dedução temos que fazer? Se tomarmos nas mãos qualquer volume, de teologia ou metafísica escolástica, por exemplo, perguntemos: Ele contém algum raciocínio abstrato a respeito de quantidades ou números? Não. Contém algum raciocínio experimental a respeito de questões de fato ou existência? Não. Então lancemo-lo às chamas, pois não pode conter nada além de sofismas e ilusões.

A Crítica da Razão Pura de Kant resolveu algumas das principais questões epistemológicas levantadas por Hume, mas ao custo de rejeitar a possibilidade do conhecimento de qualquer coisa além das aparências dos fenômenos. Não podemos conhecer Deus, mas a idéia de Deus é uma necessidade prática, segundo Kant.

Texto publicado no sítio [Recanto das Letras] em 20/10/2006.
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Um comentário:

Anônimo disse...

Enéias,

Você tocou num ponto interessante e polêmico. Isso me lembra Feurbach que, em seu livro "Essência do Cristianismo" diz o seguinte: "A consciência de Deus é a consciência que o homem tem de si mesmo, o conhecimento de Deus é o conhecimento que o homem tem de si mesmo. Pelo seu Deus conheces o homem e, vice-versa, pelo homem conheces o seu Deus; ambos são a mesma coisa". Esse parece ser o deus (com "d" minúsculo) descrito em seu artigo. Certo?

Fico aqui me perguntando: Se, como você sugere, há deus para todos e cada um pode adotar ou inventar um para si mesmo, como saber se o "Deus todo poderoso", sobre o qual você discorre com eloqüência, é de fato o "verdadeiro" (com "D" maiúsculo)? Não seria ele uma invenção sua e, por conseguinte, mais um deus (com "d" minúsculo)?

Outra dúvida: Ao nos apresentar esse Deus verdadeiro você assim se expressa: "A Ele encontram-se ligados os seres pensantes, aqueles que rejeitam a manipulação.". Hum... Essa afirmação me soou um pouco forte, afinal, não somos todos seres pensantes? O pensar não é inerente à racionalidade humana? E se eu usasse a minha racionalidade para discordar de sua visão de Deus estaria automaticamente me desligado dEle? Podemos confiar na força do pensamento para chegar ao conhecimento autêntico do Deus verdadeiro? Tenho cá minhas dúvidas. Quanto à manipulação, assunto abordado em seu blog no artigo As classes quanto à manipulação, penso que todos somos manipulados. A diferença é apenas de grau.Em suma, essa frase pode dar muito "pano pra manga".

Sendo seu objetivo estimular a permanente reflexão, creio que o objetivo está sendo alcançado. É importante reavaliar sempre nossas crenças, convicções e conclusões. O processo é dialético: a verdade de hoje pode ser a mentira de amanhã.

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