"Infância e a velhice são
fases de passagem de mudanças e transformações.
A criança é um vir a ser e o velho é o que foi,
mas na verdade infância e velhice se cruzam"
É impressionante que quanto mais idade nós
adquirimos mais agimos como se não tivéssemos tal idade.
Parece que quanto mais maduro achamos que estamos, não sabemos
o que é maturidade. É que a vida não é
uma questão de tempo e relógio, as vidas são
mais que o tempo.
Parafraseando Carlos Drummond de Andrade em seu poema Idade Madura:
“Dentro de mim, bem no fundo, há reservas colossais de tempo,
futuro, pós-futuro, pretérito...” E o que seria esse
tempo? É o tempo do relógio? Um tempo de sucessão
de momentos? Ou é o tempo imaginário?
Memória é importantíssima para integridade
pessoal
Estamos invadindo o tempo vivido. Nós conseguimos construir nossa
identidade quando construímos um futuro para dentro do passado.
E sem perspectiva de futuro nosso presente se torna despedaçado.
A imaginação e a experiência de vida tem um papel
importante nesse processo. A experiência importa não tanto
o que aconteceu na infância, no passado, mas como o futuro poderá
ser reconstruído a partir da experiência desse passado. Estamos
sempre reconstruindo nossas trajetórias alternativas de vida. Estamos
constantemente preenchendo lacunas do passado. É assim que constantemente
buscamos o significado da existência no aqui e agora da
vida. Para tanto a memória é importantíssima para
nossa integridade enquanto pessoa.
Semelhanças entre infância e velhice
As fases da vida do ser humano que transita da infância à
velhice, que são fases em que entra em questão a fragilidade
da condição humana, nos faz enxergar o velho e a criança
como seres entre “duas águas marginais”, entre um futuro
e um passado que fazem de seu presente um enigma em si mesmos e para a
sociedade em que vivem. Diante do enigma, todos se perguntam sobre quem
são e como é o mundo onde estão e no qual se encontram.
A infância e a velhice são fases de passagem de mudanças
e transformações. A criança é um vir a
ser e o velho é o que foi, mas na verdade infância e
velhice se cruzam. Porém, crianças e velhos são sujeitos
categorizados socialmente que colocam como exigência um olhar devagar
para observar as diferenças e particularidades. Crianças
e velhos são sujeitos de vivências individuais e coletivas
ao mesmo tempo, que fazem parte de um patrimônio cultural e social,
a um só tempo. São eles também que evidenciam a natureza
das sociedades modernas classificadas de coisas, de pessoas e de tudo
o mais. Para muitos grupos sociais a criança é aquilo que
ainda não é, e o velho, aquilo que consiste uma ameaça
em termos de futuro. Assim, ambos tornam-se vitimas de algo que está
fora deles, fora de um ideal de sociedade. A criança e o velho
são assim vistos como seres sem independência, sem desejos,
sem autonomia, sem vontades, sem capacidades para gerenciar-se.
A modernidade sucateia as vidas humanas. Então o ideal fica sendo
a eterna juventude congelada no tempo. E as pessoas esquecem que o que
importa são as experiências de vida sejam vividas em qualquer
fase, na infância, na adolescência, na juventude, na maturidade,
na vida adulta e na velhice. Diz o poeta Fernando Pessoa “Minha
vida tem só duas datas – a da minha nascença e a da
minha morte. Entre uma e outra cousa todos os dias são meus”.
É preciso ver o envelhecimento numa perspectiva de desenvolvimento.
Estamos sempre nos desenvolvendo”.
Uma reconstrução imaginativa é criada por nossas
atitudes diante das nossas experiências. Por que exploramos potencialidades
do passado. O que importa é como nós refletimos sobre as
experiências vividas. É assim que amadurecemos nossas habilidades.
Os valores são reconstruídos no presente. Fazemos constantemente
contrastes de experiências de eventos. Isso tem implicação
de como nós pensamos o tempo. O tempo de vida não é
uma duração com ritmos pautados para viver. É a experiência
do tempo que passa. Nós somos o tempo. Infância e velhice
se desdobram, se transformam, se reelaboram, possuem força e fragilidade
ao mesmo tempo. Nossa experiência pessoal, nossa história
de vida é um valioso memorial.
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