segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Misturas genéticas

É um tema que me prende a atenção. Até que ponto é possível misturar geneticamente os animais? Qual o produto final disso? É algo que pode ser avaliado à luz da ética? A ciência avançará mais do que tem avançado? O céu seria o limite? Essa mistura genética é um aceleramento de algum tipo de processo evolutivo que viria a existir por si só?

"Alguns exemplos são um tanto bizarros, como a zebra-cavalo (acima), o leão-tigre (abaixo), e o golfinho-baleia. Mas há outros como os quais já estamos bem acostumados, como a mula (híbrido de jumento com égua) e o milho que você compra no supermercado. Explico: praticamente todo o milho produzido no Brasil é híbrido, resultado do cruzamento “artificial” de duas variedades distintas. O milho híbrido é mais produtivo do que qualquer uma das variedades parentais isoladamente. Mas ninguém sabe por quê!"



"O lado ruim é que ele é pouco fértil, o que obriga os produtores a comprar novas sementes a cada safra. Mas a produtividade maior compensa esse custo, obviamente (ou o agricultor não usaria o híbrido)."

"A baixa fertilidade (ou esterilidade) é uma característica dos híbridos. Isso porque, teoricamente, eles nem deveriam existir! Afinal, a definição mais elementar de uma espécie é sua unidade reprodutiva. Em outras palavras: dois bichos podem ser aparentemente muito diferentes (como um chihuahua e um pastor-alemão, ou um pigmeu africano e um jogador de basquete alemão), mas se eles conseguem se reproduzir entre si, então são membros da mesma espécie."

"Ao mesmo tempo, pode-se ter dois animais quase idênticos “por fora”, morfologicamente, mas muito diferentes “por dentro”, geneticamente. Tão diferentes que não conseguem se reproduzir entre si e, por isso, são considerados espécies distintas. Imagine, por exemplo, uma população de aves da Amazônia que foi dividida por um rio, formando duas populações de uma mesma espécie, porém geograficamente isoladas uma da outra. Com o tempo, elas podem se tornar espécies geneticamente distintas, ainda que, por fora, sua aparência permaneça igual."

"Sei que parece confuso … mas é porque é confuso mesmo. Se um dia você quiser causar problemas numa conferência de biologia, é só levantar a mão, pedir o microfone e perguntar: “O que o senhor(a) define como espécie?” Até onde eu sei, há pelo menos umas 10 formas cientificamente corretas de responder isso. Deveria ser a resposta mais simples e universal do mundo da biologia, mas é justamente uma das suas questões mais complicadas. A definição mais simples é dizer que “se produz filhos, é da mesma espécie”. Mas é muito mais complicado do que isso."

"Leões e tigres são obviamente espécies diferentes. Mas se eles conseguem produzir um híbrido leão-tigre, então o que está acontecendo? Acontece que eles são espécies distintas, mais ainda evolutivamente próximas o suficiente para produzir uma cria. Só que uma cria infértil! Aí, então, é preciso acrescentar um adjetivo importante à definição acima: “se produz filhos viáveis (“viable offspring”, em inglês), é da mesma espécie”. Não adianta nada nascer um híbrido se esse híbrido não tiver condições de produzir outros híbridos. Afinal, do ponto de vista evolutivo, um organismo incapaz de deixar descendentes equivale a uma “rua sem saída”. Acaba ali."

"Talvez a forma mais fácil de ver um híbrido seja se olhar no espelho. Uma pesquisa publicada em maio deste ano na revista Science mostrou que 1% do nosso genoma humano foi herdado dos neandertais. O que implica dizer que o Homo sapiens e o Homo neanderthalensis fizeram sexo e produziram bebês, cerca de 80 mil anos atrás no Oriente Médio, segundo as estimativas dos cientistas. Mas, se isso é verdade, então o Homo sapiens e o Homo neanderthalensis eram mesmo espécies diferentes, ou apenas variações (raças ou subespécies) de uma mesma espécie?"


Nota: Parece-me que a expressão que usei no início, "o céu seria o limite?", tem sua razão de ser. Muito do que cremos é decorrente de conclusões místicas e ainda não avaliadas cientficamente. Quem sabe se realmente o céu é o limite?

Enéias Teles Borges - Editor
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2 comentários:

Renato Aragão disse...

Mto bom seu post. Definição de espécie na biologia é de longe, uma das definições mais difíceis de se dar.

Anônimo disse...

Muito bom o post, interessante também!

Continua assim :)

Alchem

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