quarta-feira, 4 de novembro de 2009

O CASO DO MORTO-VIVO


O caso do morto-vivo

O pedreiro Ademir Jorge Gonçalves, 59 anos, foi dado como morto após um acidente na BR-153, em Santo Antonio da Platina (PR), na noite deste domingo (1º). Familiares e amigos reconheceram o corpo no necrotério e o sepultamento foi providenciado como de praxe. O detalhe é que Ademir, conhecido como Tufão, apareceu vivo no próprio velório, às 8h desta segunda-feira (2), feriado de Dia de Finados.

Durante todo o tempo em que foi dado como morto, Tufão estava no restaurante do Auto Posto Platina, que fica ao lado do local do acidente. "Ele passou a noite toda bebendo pinga com os amigos", disse a vendedora Rosa Maria Sampaio, 50 anos, sobrinha de Tufão.

O balconista Josiel Inocêncio da Silva, 23 anos, disse que Tufão soube que estava sendo velado pela família por meio de um amigo. "O rapaz chegou correndo para avisar que estavam querendo sepultar uma pessoa como se fosse ele [Tufão], que ficou assustado na mesma hora. Ele saiu do restaurante para esclarecer a história."

O reconhecimento

Segundo Natanael Honorato, 36 anos, gerente da funerária Rainha das Colinas, a Polícia Civil da cidade acionou o serviço para a retirada do corpo da pista. "Levamos a vítima para o necrotério, onde o legista fez os exames necessários. Já na funerária, um grupo de pessoas apareceu para fazer o reconhecimento do corpo. Alguns ficaram em dúvida, mas outros reconheceram o corpo como sendo de Tufão"

A partir deste momento, segundo Honorato, o velório e o sepultamento da vítima foram providenciados. "Como eu iria imaginar que o corpo não era da vítima? Se a própria família, que conhecia o sujeito, reconheceu o corpo, como que eu, que não conhecia a vítima, iria reconhecer?", disse o gerente da funerária.

De acordo com Rosa, a família ficou dividida quanto ao reconhecimento de Tufão. "Eu e meus dois tios ficamos em dúvida, mas uma outra tia minha e quatro amigos dele [Tufão] reconheceram o corpo, então, o que iríamos fazer? Providenciamos o velório."

Segundo Rosa, o corpo foi liberado por volta das 6h de segunda-feira. "A família já estava no velório, mas a mãe dele [Tufão] olhou o corpo no caixão e achou estranho. Ela olhou, olhou e não conseguia acreditar que aquele era o filho dela. Não demorou muito para o morto aparecer andando no velório. Foi um alívio.

Honorato disse que o reconhecimento do corpo foi feito com muita emoção. "Foi uma choradeira danada. Não tinha como ter dúvida, mas aconteceu. Em dez anos de profissão, nunca vi coisa parecida."

Prejuízo

O gerente da funerária disse que até agora está amargando o prejuízo por organizar o velório do 'morto-vivo'. "A família do Tufão foi quem providenciou o caixão e a cerimônia de sepultamento e velório. Depois de esclarecida a dúvida da identidade do morto, a família saiu do velório e foi para casa. Eu fiquei no prejuízo, porque não recebi pelo serviço."

Honorato disse que a vítima do acidente foi identificada posteriormente e o corpo foi levado para o sepultamento em Joaquim Távora (PR). "Nenhuma das duas famílias pagou pelo trabalho. Nós oferecemos 24 horas de café, leite, chá e lanche, sem falar do caixão e do sepultamento. Tudo isso sai por R$ 1,3 mil, que saiu, até agora, do meu bolso."

Quem também teve prejuízo foi Tufão. Apesar de ter virado celebridade na cidade, o dono do imóvel onde ele morava queimou suas roupas e o colchão da cama onde dormia. "O dono da casa era amigo dele [Tufão] e estava certo de que o morto era meu tio. Ele mesmo também fez o reconhecimento. Com essa certeza, ele resolveu queimar tudo que era do meu tio. Agora, a mãe de meu tio está tendo de providenciar roupas novas."

Apesar de estar com a mesma roupa do corpo de quando foi dado como morto, Tufão está comemorando o fato de ainda estar vivo com os amigos. "No mesmo dia ele voltou ao restaurante para tomar pinga. Já posso dizer que servi pinga para um 'morto-vivo'", disse Inocêncio Silva.

"Agora que ele virou celebridade nas ruas é que não vai parar de beber mesmo. Todo mundo quer falar com ele e é inevitável que acabem pagando uma pinga ou outra para meu tio [Tufão]", disse Rosa.

Reportagem de 04/11/2009 - Glauco Araújo - Do G1 em São Paulo.


Nota do Editor: Não fosse pela existência de uma pessoa morta, ainda que não seja o “Tufão”, poderíamos dizer que estamos diante de uma comédia, quase estilo pastelão. Há acontecimentos no cotidiano que são hilários (não fossem os dramas, às vezes, contidos). O episódio do pedreiro dado como morto, quando na realidade estava vivo e tomando pinga é um “fato comédia”.
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3 comentários:

Sabrina Noureddine disse...

Como já disse o poeta: Comédias da vida privada....
Abs.

Cleiton Heredia disse...

59 anos e enchendo a cara de pinga daquele jeito?

Não sei não, mas acho que este morto-vivo não deve ser tão vivo como pensam.

Ricardo disse...

Esta história é digna do mundo bizarro. (rs)

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