quinta-feira, 13 de agosto de 2009

FARINHA DO MESMO SACO?

Até os anos 1970 a questão da cultura religiosa no Brasil parecia ter duas fortes vertentes: a católica e a dos "crentes". Naqueles idos era comum a pergunta: você é "crente"? Esta consistia numa forma de diferenciar os protestantes dos católicos. Depois, com um pouco de paciência para explicar, era possível entender que os tais "crentes" eram divididos em outras agremiações: umas conservadoras, outras moderadas e as carismáticas.

Hoje a situação está confusa. Existem católicos conservadores e carismáticos. As seitas e igrejas protestantes foram multiplicadas por mil. Os protestantes conservadores não são mais ortodoxos, os moderados parecem os antigos carismáticos e os carismáticos atuais parecem vendilhões da teologia da prosperidade.

Não é possível criticar o bispo Edir Macedo ou o apóstolo Estevam Hernandes sem ficar com a sensação de que está sendo lançada uma carapuça para o ar e que ela poderá cair e ser sob medida para a cabeça sobre a qual recair.

Parece tudo farinha do mesmo saco!

Cresci num contexto protestante conservador e até parei um pouco de lá frequentar. A teologia da prosperidade já lançou seu manto de charlatanismo naquele antigo reduto sério e conservador. Não faz tempo um dos pastores (dali) sugeriu um teste: que se provasse a bênção divina durante noventa dias, sendo fiel na devolução dos dízimos e na outorga de ofertas. Milagres aconteceriam...

Notem que falo com certo conhecimento de causa. Bacharelei-me em Teologia no seminário dos Adventistas do Sétimo Dia e confesso que fiquei envergonhado com a mensagem vinda do púlpito. Envergonhado? Até nem sei se foi isso ou se já estou caminhando na direção da indiferença. Nem vontade de ir lá tenho mais. Nada existe lá que eu possa achar a não ser a presença dos amigos que seguem firmes naquele centro gigantesco de difusão da cultura religiosa. Nada contra tal processo alienatório, mas o que me incomoda é a passividade em aceitar mudanças que sabidamente são indevidas...

Voltando ao tema: será que tudo que se vê no Brasil e no mundo não é um enorme saco cheio de farinha? Será que hoje o chamamento (ou proselitismo) não é feito na base do toma lá e dá cá? A ordem seria toma lá (para Deus) e dá cá (prosperidade)?

As agremiações da fé colocam tudo à venda, mas deixam claro algo para os fiéis, algo que estes insistem em não ver ou fingir que não enxergam, que é o seguinte: colocar à venda um produto nem sempre significa que este produto esteja pronto para ser entregue. Logo: as bênçãos dos céus estão à venda, mas tais bênçãos, quem sabe, ainda não foram fabricadas pelos muitos deuses que existem neste imenso mundo do estelionato da fé...

Lembram-se daquela frase atribuída ao saudoso Tim Maia: "eu não bebo, não cheiro e não fumo... só minto um pouco..."? Incrível como esta frase parece ser constantemente proferida, de forma parafraseada, por pastores, bispos, apóstolos... Algo como: "não vendo falsas promessas, não uso indevidamente o dinheiro dos fiéis e não me envolvo em outras falcatruas... mas, como sou humano, nem sempre digo a verdade..."
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Autor: Enéias Teles Borges.
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3 comentários:

Ricardo disse...

Ótima postagem.
Realmente é uma vergonha como as doutrinas das igrejas vão se adaptando aos costumes e tradições da sociedade. Quem diria que os adventistas do sétimo dia cairiam na mesma vala dos católicos, ou seja, ceder a pressão da modernidade ao ponto de perverter doutrinas inabalaveis. A aceitação da Trindade, por exemplo, é uma marca nessa tragetória de corrupção que norteia essa nova igreja. Digo nova pois, de adventismo ao molde do que idealizaram seus fundadores essa nova igreja já não tem quase nada.
Na verdade as religiões sempre foram farinha do mesmo saco.

Cleiton Heredia disse...

Dentro das igrejas conservadoras ainda existem uns poucos que não se conformam com as mudanças culturais e doutrinárias, porém estes são perseguidos e dizimados pelos os que detêm o poder.

Sei de pastores que não concordam com a forma que a igreja esta sendo atualmente conduzida, mas estes se calam e se escondem, pois sabem que qualquer manifestação contrária deles será imediatamente punida com disciplina eclesiástica e punição administrativa (demissão).

Por causa disto, grupos sectários têm se rebelado contra seus líderes e formado igrejas paralelas. Eu mesmo há algum tempo atrás, fui um disssidente que se escondeu atrás de um pseudônimo (Irmão X) para poder contar a verdade sobre as mudanças doutrinárias sem sofrer retaliações.

Porém, cansei desta ladainha!

Hoje eu prefiro estar entre os que iludem, mas afirmam serem ilusionistas, do que estar entre os que iludem, mas afirmam serem "homens da Verdade".

Altamirando Macedo disse...

Todas as religiões vão para o mesmo inferno mas arderão em marmores diferentes.A sardinha é a mesma, mas a brasa não.

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