terça-feira, 30 de novembro de 2010

A onipresença e a reverência

Por onipresença entende-se que seja estar de forma concomitante em todos os lugares. Tem como sinônima a palavra ubiqüidade que sugere ser uma faculdade divina e, logo, fora do exercício do ser humano.

A reverência é um substantivo feminino que designa veneração pelo que se considera sagrado, respeito profundo por alguém ou algo em função das virtudes e mais: consideração e/ou deferência.

Essas duas palavras fazem parte do vocabulário zeloso das organizações religiosas. Deus é onipresente e a reverência deve ser virtuosamente praticada em ambientes destinados à adoração ao Deus poderoso.

Exortações existem quando as palavras são consideradas em ambientes freqüentados ou não pelos devotos. É comum ouvir as pessoas perguntando a si mesmas ou aos outros: “Deus está aqui? Aqui é um lugar para um devoto permanecer?” Pois é: quando o lugar não é de bom conceito moral ou em desconformidade com os “princípios” religiosos deve ser evitado.

A questão: Deus estaria naquele lugar? Ao que nos parece estaria sim, pois é atributo da Divindade estar em todos os lugares ao mesmo tempo. O que deveria ser perguntado: “Deus se alegra ao ver as pessoas naqueles locais?” Notem: o que está em pauta não é presença divina (inquestionável), mas a presença humana num contexto inapropriado.

Os religiosos quando condenam ou não recomendam shows ou ida às casas de espetáculos o fazem por convicção. Entendem que em praças de eventos barulhentos e desrespeitosos o fiel não deve ir e que Deus a despeito do exercício da onipresença não fica satisfeito com a atitude da sua criatura.

Eis porque muitos religiosos se insurgem contra a ida das pessoas a certos lugares como estádios de futebol, cinemas, teatros, espetáculos de músicas populares e afins. O argumento: Deus não fica satisfeito com a presença dos seus filhos em locais no qual não existe respeito ou que seja freqüentado por pessoas “do mundo”. O ambiente não é bom e ponto final!

Analisando pelo ponto de vista da reverência e da onipresença emerge a realidade que fica transparente, tendo como pressuposto o raciocínio do religioso. Deus está presente, não porque o lugar é bom, mas simplesmente porque ele é onipresente. Logo a presença de Deus nem sempre é a justificativa principal para se estar ou não num determinado ambiente.

Vejamos:

Deus estaria em estádios de futebol, casas de shows, cinemas, bordéis e afins? Ao que nos parece sim, pois ele é onipresente. Ele ficaria satisfeito com a presença dos fiéis em lugares assim? Pelo raciocínio do religioso certamente que não.

Deus estaria presente num local que mesmo tendo sido elaborado com fito religioso a irreverência campeia? Claro, afinal Deus é onipresente. Estaria satisfeito com a presença dos fiéis ali?

Breve relato:

Desde 1979 eu freqüento, no final de semana, um templo religioso. De muita tradição e respeito, mas que de alguns anos para cá passou por um processo de degeneração no que tange à reverência. Esse templo está (palavras não apenas minhas) entre os mais irreverentes, quando comparado com muitos outros.

O apogeu da irreverência se manifesta no final do culto, depois do sermão e durante o hino de conclusão e a bênção final. As pessoas começam a sair do templo, promovendo uma algaravia sem fim e perturbadora. É como se o local estivesse prestes a pegar fogo e todos quisessem sair logo. Correm para outra atividade (fora do templo). A pressa justificaria o desrespeito?

Pergunta-se: Deus estaria naquele lugar? Sim, claro. Ele é onipresente. Mais: diante da irreverência clara e indiscutível ele fica satisfeito com a presença dos seus filhos naquele lugar? Perguntem aos fiéis. Aos mesmos que mensuram outros ambientes “do mundo”...

Alguém, quem sabe, poderia dizer que a comparação do templo com locais mundanos é injusta. Será? Qual lugar entristeceria mais o Criador: (1) o lugar criado pelo homem para diversão, loucuras e afins ou (2) um templo construído para a adoração, mas que convive com a irreverência visível?

Injusto para qual dos lados?

Enéias Teles Borges
Postagem original: 30/11/2010
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Um comentário:

Cleiton Heredia disse...

Esta questão quanto à qual lugar é permitido a um devoto religioso frequentar e qual não é, não passa de um assunto meramente comportamental e essencialmente cultural.

Conheço alguns segmentos cristãos que promovem festas, bailes e até baladas para seus jovens. Eles entendem que é melhor que seus jovens se divirtam dentro de um ambiente "controlado e reservado", do que vê-los procurando estas diversões em ambientes ameaçados (ou invadidos) pelas bebidas alcoólicas, drogas e outros vícios perniciosos.

É triste ver outros segmentos mais tradicionais condenando os mais liberais e até se ufanando de sua conduta mais "santa", enquanto seus jovens pulam a cerca para se divertirem do outro lado, sem eles notarem ou terem condições de evitar.

Porém, como tudo não passa de questões comportamentais e culturais, e como estas estão em constante mudança à medida que o mundo avança, a tendência é uma adaptação/adequação dos grupos às novas tendências.

O próprio conceito de reverência para a atual geração não é o mesmo das gerações anteriores, e é por isto que aquilo que alguns mais velhos chamam de irreverência é entendidos pelos jovens como um tradicionalismo chato e sem sentido.

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