quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

A esperança e a verdade

“Viver com esperança é diferente de viver com a verdade” (não sei se existe autor, pensei assim...). Uma frase lapidar! Uma frase a ser meticulosamente estudada, pensada e repensada. O supremo desejo humano é vivenciar a conjugação da esperança com a verdade. Enquanto tal convicção não se materializa (se é que ocorrerá) a humanidade vive qual torcedor fanático: torce para que a esperança que acalenta ao peito tenha como produto final a verdade anelada.

Desde que tomou conhecimento de sua limitação e certeza da morte o homem passou do estado de desespero para a busca. Buscar uma solução para o dilema da morte e desejo da vida eterna. Surgiram as mais variadas teorias. Cada povo em cada época buscou a resposta que queria. Notem: resposta que queria. A resposta que se quer nem sempre coaduna com a resposta que é...

A realidade milenar se mantém presente. Mitos surgiram, mitos se foram. Mitos surgem, mitos se vão. Mitos estão aí e um dia passarão. Enquanto não passam existe a esperança, mas... “Viver com esperança é diferente de viver com a verdade”.

Cada ser, cada família, cada grupo, cada segmento tem a sua “bendita esperança”. Existem muitos que não a têm e por esse motivo são crucificados e chamados de ateus... Os que dizem esperar lançam-se à luta contra os que não esperam. É como se a luta transformasse a esperança em verdade, mas... “Viver com esperança é diferente de viver com a verdade”.

O povo se reúne, o povo se emociona o povo ri o povo chora. Enche-se de esperança e de força. Espera com paciência o grande dia. O dia da verdade. Verdade? A verdade pela qual matam e pela qual morrem. A verdade estruturada na esperança. Esperança que dão, que vendem e que emprestam, mas... “Viver com esperança é diferente de viver com a verdade”.

A esperança está assentada na fé. Fé é fé, nada mais que isso. Fé não é a verdade. Fé é convicção de que a esperança se confirme na verdade. Verdade? Sim, aquela mesma que cada grupo desenvolve e diz ser a única de valor. E por ter fé e nela a esperança espera, mas... “Viver com esperança é diferente de viver com a verdade”.

O que é esperança e o que é verdade? A verdade não é nada mais nada menos do que é.. Simplesmente é... A verdade liberta? Sim. Mas isso não quer dizer que a verdade responda à esperança que mora no peito. A verdade liberta da mentira, independentemente da decepção. Viver com a mentira é como viver numa prisão cuja chave está nas mãos da verdade. A verdade acaba com a mentira. E se a mentira, por coincidir com a esperança, mostrar uma verdade amarga? Por isso que se deve ter sempre em mente que “viver com a esperança é diferente de viver com a verdade”.

Quem se dispuser a viver com a esperança deve entender que a esperança “é a última que morre”... Mas morre! Morre sempre? Para uns poucos quem sabe não morra... São tantas esperanças baseadas “em verdades diferentes” que somente uma terá a tal verdade (ou nenhuma). Isso é notório e precisa ser aceito, não há saída de emergência, não há possibilidade de fuga pois “viver com esperança é diferente de viver com a verdade”.

Seria isso uma regra? Se for existe exceção? Havendo exceção há que se considerar que para a maioria a realidade será assim: “Viver com esperança é diferente de viver com a verdade”.

Enéias Teles Borges
Postagem original: 18/08/2008.
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3 comentários:

Cleiton Heredia disse...

Brilhante!

Este assunto tem ocupado minha mente nos últimos dias. Sempre proclamei abertamente a verdade custe o que custar e doa a quem doer, porém ultimamente tenho me questionado sobre a utilidade prática de tal postura.

O que adianta conhecer uma verdade que não traz consigo qualquer esperança para a nossa breve e momentânea vida? Existe algum benefício ou recompensa intrínseca em conhecer a verdade simplesmente por ser ela a verdade?

O exemplo que dei em minha postagem (explosão do sol) pode parecer um tanto quanto distante, mas imaginemos que estamos diante de alguém (quem sabe um filho, um cônjuge ou outro alguém muito querido) que só terá um ano de vida. Vamos dizer-lhe a verdade, quando esta verdade só servirá para roubar-lhe a única coisa boa que lhe resta: a esperança?

Para que serve a verdade quando esta nada pode fazer a não ser nos tirar a alegria de viver, o entusiasmo, a paz, e a ESPERANÇA?

O que é preferível: amargar uma vida toda com uma verdade cruel e perturbadora ou desfrutar de uma plenitude de vida com uma "mentira" (ou ausência da verdade) repleta de esperança?

Acho que começo a entender porque alguns se apegam tanto a uma religião qualquer que traga consigo uma maravilhosa esperança, e relutam tanto em aceitar a possibilidade da verdade não ser exatamente como acreditam.

Não tenho qualquer conceito fechado sobre este assunto, mas apenas muitas interrogações: Por que tirar Deus (a esperança) das pessoas quando não temos nada melhor para oferecer em troca?

Ricardo disse...

O Cleiton está confundindo tudo.

A verdade é uma conquista sua e não tem nada haver com dizer para um moribundo o quanto lhe resta de vida, pois esse tempo de sobrevida é uma verdade dele e não sua e cabe a ele descobri-la, obviamente se ele quiser. A você cabe desfrutar ao máxima a companhia do ente querido sabendo da verdade a respeito da sua breve morte.

Cleiton Heredia disse...

“O Cleiton está confundindo tudo.”

Ricardo,

Eu é que estou confundindo tudo ou você é que não está entendendo nada quanto à essência da discussão em pauta?

Meu amigo, as conjecturas por mim levantadas quanto a um mundo moribundo ou um conhecido querido nas mesmas condições, foram apresentadas somente como um elemento reflexivo com a finalidade de destacar as implicações propostas no texto do Enéias que relaciona a esperança com a verdade.

O que está em discussão na postagem dele (A Esperança e a Verdade) e na minha (A Liberdade e a Verdade) não é um simples reconhecimento dos fatos ou a forma como estes impactam diferentemente as vidas das pessoas, mas sim o que é mais imprescindível para as nossas breves e miseráveis vidas neste planeta: Conhecer a verdade, mesmo que esta nos arrase e impeça de desfrutar com qualidade (liberdade/esperança) aquilo que resta de nossa existência, ou simplesmente priorizar o viver pleno cheio de esperança sem se preocupar muito com a busca pela verdade absoluta.

Perceba que tudo não passa de pretexto argumentativo para nos levar a refletir em torno da existência ou não de Deus ou na realidade ou não da vida com um propósito definido.

O Enéias muito acertadamente disse que “Viver com esperança é diferente de viver com a verdade”. Por isto entendo que o cerne desta discussão é quanto a melhor forma de se “viver”: com esperança ou com a verdade?

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