sexta-feira, 29 de abril de 2011

Disse o néscio...

“Disse o néscio no seu coração: Não há Deus...” Salmo 53:1

O verso vai um pouco além, não parando nas reticências, mas eu me sirvo do texto conforme exposto acima para tecer alguns comentários:

1. O verso bíblico, exarado de forma incompleta, é a principal arma dos xiitas da fé para condenar o ateu.

2. Durante séculos esse verso foi usado por criacionistas para demonstrar o “estágio de loucura” daquele que crê na inexistência de Deus.

3. Quem crê na existência de Deus (principalmente o xiita cristão) considera o ateu como desvairado. Nem sente que está sendo ofensivo...

Assisti a um negócio entre dois colecionadores de relógios antigos. No meio da conversa surgiu algo que conduziu ao tema “Deus”. Um dos negociadores fez uma pergunta: “Deus existe?” O outro retrucou: “Você não acredita?” Resposta: “Não estou dizendo que creio ou não, apenas pergunto se Ele existe...”

O curioso é que alguns xiitas de plantão entraram na conversa e um deles disse: “Eu tinha você em alta conta, mas agora não o considero tanto...” Notem que a pessoa não afirmou a inexistência de Deus, apenas fez uma pergunta.

Depois que as pessoas saíram alguém me perguntou o que eu tinha achado da conversa. Eu respondi com outra pergunta: “Você sabia que para acreditar em Deus, primeiro você tem que acreditar no homem?” Assustados alguns me perguntaram: “Como assim?” Respondi: “Toda pessoa que eu conheço (incluindo a mim) nunca viu Deus em pessoa, mas passou a acreditar em decorrência da confiança que teve em alguém”. Continuei: “No meu caso meus pais me fizeram crer e como eu confio neles passei aceitar sem questionar...”

Notaram? Não importa se foi o pai, a mãe, o pastor, o padre, o amigo, Davi, Salomão, Isaías, João... Todos são humanos. Só podemos acreditar com base naquilo que homens disseram e escreveram. Alguns desses homens são conhecidos como profetas. Outros conviveram com Cristo, mas convenhamos: tudo o que chegou até nós veio por homens que disseram que ouviram, viram e receberam por ordem divina (...). Temos que confiar no que disseram ou escreveram, para depois acreditar que Deus existe...

A Bíblia é um bom exemplo. Foi escrita por homens. Homens disseram que ela é inspirada. Homens a interpretaram e interpretam. Homens que falam de homens inspirados ou iluminados. Do começo ao fim são atos e escritos humanos. Os homens atribuíram e atribuem à Bíblia a idéia de que é a palavra de Deus. Notemos que tudo isso foi escrito e dito por homens. Mesmo sendo homens de extrema confiança continuam sendo homens. Os homens disseram que viram, que estiveram no Sinai, que tiveram visões... Verdade? Não entro no mérito. Mas para acreditar que tudo isso seja verdadeiro é necessário confiar nos homens... “Crede em seus profetas e prosperareis..." II Crônicas 20:20.

Para quem queira questionar o arrazoado eu pergunto: como você ficou sabendo da existência de Deus? Não adianta dizer “vejo a Deus nas suas obras...”, porque a pergunta não se dirige ao presente. Pergunto quanto ao passado: como você tomou consciência disso? Responda com coragem: não foi por que alguém (humano) agiu na sua vida? Se você hoje acredita na existência de Deus é porque algum (ou alguns) homem mereceu a sua confiança: pai ou mãe ou amigo...

Não estou tomando posição favorável ou contrária a qualquer dos lados, mas apenas perguntando: notou que para crer na existência de Deus é necessário primeiro acreditar no que o homem diz? ("... Maldito o homem que confia no homem..." Jeremias 17:5).

Atualmente os xiitas estão debatendo com os ateus que resolveram “dar o troco”. Foram (os ateus) durante tantos anos chamados de néscios que resolveram reagir e o fizeram de uma forma que irrita criacionistas. Exemplo? “Deus, um delírio...”

Durante muito tempo foram os ateus chamados de loucos. Eles não teriam o direito de chamar os contrários (teístas) de delirantes?

Enéias Teles Borges
Postagem original: 27/08/2008

2 comentários:

Cleiton Heredia disse...

Você foi sutil, muito sutil...

Premissa 1 - “Crede em seus profetas e prosperareis” II Crônicas 20:20

Premissa 2 - “Maldito o homem que confia no homem” Jeremias 17:5

Esta aí um antagonismo de idéias um tanto quanto complicado.

Alguém poderia retrucar dizendo que as palavras de Josafá relatadas no 2º livro de Crônicas começam com “Crede em Deus e estarei seguros”, e depois é que vem “Crede em seus profetas e prosperareis”. E na seqüência poderia contra argumentar explicando que a confiança no homem que traz maldição é aquele tipo de confiança que substitui Deus pelo homem, pois o verso completo relata: “Assim diz o Senhor: Maldito o homem que confia no homem, faz da carne mortal o seu braço e aparta o seu coração do Senhor”.

Bem, mas estas são explicações e justificativas que não anulam sua argumentação muito bem apresentada, pois no final das contas tudo o que temos, em ambos os casos, são as palavras de homens (Alguém que escreveu Crônicas dizendo que foi Josafá que disse e Jeremias falando que foi o Senhor que disse).

Considero sua argumentação irrefutável: “Quem quiser acreditar em Deus terá que primeiramente crer (confiar, ter fé) no homem”.

A partir desta perspectiva poderemos considerar alguns patriarcas bíblicos, bem como o próprio Israel antigo, como tendo uma grande vantagem em relação aos demais, pois eles viram com seus próprios olhos, ouviram com seus próprios ouvidos e sentiram na própria pele de forma bem real a presença de Deus. Estes sim, se é que tudo realmente aconteceu daquele jeito, não precisaram crer em mais ninguém. Se estivéssemos aos pés do Monte Sinai vendo o monte pegar fogo, sons assustadores vindo do cume juntamente com raios e trovoadas ou se tivéssemos passado entre duas colunas de água por meio do Mar Vermelho, não precisaríamos que ninguém nos dissesse que Deus existe. Certo?

Por outro lado, não podemos desconsiderar aquele que quer responder que acredita em Deus pelas evidências que encontra no universo natural, pois este é um tipo de argumento racional convincente (para alguns) que de certa forma descarta a possibilidade de ter que confiar em terceiros para então se acreditar na existência de um Deus. Porém, sou obrigado a admitir que mesmo assim a confiança no homem não é totalmente descartada, pois aquele que encontra na natureza tais evidências também é um ser humano e terá que confiar nas suas próprias interpretações humanas do mundo natural.

Particularmente, eu creio em Deus a partir de minha interpretação pessoal do Universo, mas não me arrisco a extrapolar esta convicção para a crença de que este Deus precisa ser exatamente como a Bíblia judaico-cristã o descreve. Aquele que quiser assim crer precisará confiar primeiro em outros seres humanos antes de querer acreditar que Deus é exatamente daquele jeito.

Guilherme disse...

Não precisa acreditar nos homens. Basta observar os sinais:

"E estes sinais seguirão aos que crerem: Em meu nome expulsarão os demônios; falarão novas línguas; pegarão nas serpentes; e, se beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará dano algum; e porão as mãos sobre os enfermos, e os curarão."
(Marcos 16:17-18)


Se você procura saber a verdade, então tenha certeza de que conseguirá encontrará-la.
(também está na bíblia... em Mateus 7:8)


Ps: Se Darwin soubesse da existência do código DNA (praticamente um código de programação utilizado por Deus para formar o homem e todos os seres vivos que existem no mundo), aposto que nunca teria publicado aquele livro...

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