Imaginem uma dedicada professora que se encontrava observando seus alunos no intervalo das aulas.
De repente começou uma confusão. Os alunos falavam alto, cada um tentava se sobrepor aos demais. Uma confusão enorme.
A educadora notou que não havia discussão entre um grupo e outro (não eram duas facções). Eram todos contra todos. Cada um por si. Isso a surpreendeu.
Gritou e todos pararam. Perguntou: o que se passa? Quero ouvir as explicações!
Os alunos correram em sua direção e aqueles que estavam mais próximos chegaram primeiro. Foi organizada uma fila indiana.
Ela quis saber do primeiro o que sucedia. Observou que cada um dos alunos tinha uma versão diferente para o assunto em tela.
O primeiro falou com tanto brilhantismo que ela quase se convenceu de que ele estava certo, mas resolveu ouvir todos! Questão de justiça!
O segundo foi tão consistente no arrazoado que ela ficou com dúvida entre os pontos asseverados pelos dois primeiros.
Com o terceiro a situação se agravou. E foi ouvindo e se assustando. Todos pareciam estar corretos. Fez questão de colher o depoimento de cada um e no final não conseguiu saber quem estava certo ou errado. Cada cabeça possuía uma versão que parecia ser a correta.
Acalmou os alunos, expôs seu ponto de vista e disse que não reunia condições de fazer justiça. A seu modo cada aluno detinha certa razão ou todos (todos mesmo) estavam equivocados.
Voltando para casa ela se viu a refletir. Como aquilo era possível? Uma questão aparentemente simples e definitiva tinha muitas variantes interpretativas. Isso se passou entre pequenos alunos de uma humilde escola do interior.
Eis que ela se apavorou! Não seria assim na vida?
Quantas vezes ela, uma professora, tinha ouvido todas as versões a respeito de qualquer assunto? Como ela tinha chegado às suas conclusões políticas? E as filosóficas? O que dizer de suas convicções religiosas?
Sentiu-se uma pessoa injusta. Como seria possível afirmar que estava correta em suas convicções pessoais se não tinha ouvido todas as versões?
Lembrou-se que firmara seu pensamento político com base no que ouvira do seu pai e sem contestar. Filosofia? A mesma coisa. Teve ótimos professores, mas que só lhe mostraram um lado da moeda.
E a sua religião? Foi fácil concluir que o que professava era oriundo de uma tradição que lhe fora repassada por seus pais. Em outras palavras: aceitou a versão de quem chegou primeiro. Sem ouvir o segundo, o terceiro...
Que loucura!
Foi assim que a professora começou a fazer justiça no presente, corrigindo o passado. Despiu-se de preconceitos e foi ouvir as versões dos demais.
Questão de justiça! Honestidade! Coerência!
Será que essa ilustração serve para nós? Por que somos assim? Somos resultado de uma visão ampla da vida? Seríamos fruto da tradição que nos chegou em primeiro lugar?
Essas perguntas inquietantes sempre querem nos lembrar: somos convictos ou alienados?
De repente começou uma confusão. Os alunos falavam alto, cada um tentava se sobrepor aos demais. Uma confusão enorme.
A educadora notou que não havia discussão entre um grupo e outro (não eram duas facções). Eram todos contra todos. Cada um por si. Isso a surpreendeu.
Gritou e todos pararam. Perguntou: o que se passa? Quero ouvir as explicações!
Os alunos correram em sua direção e aqueles que estavam mais próximos chegaram primeiro. Foi organizada uma fila indiana.
Ela quis saber do primeiro o que sucedia. Observou que cada um dos alunos tinha uma versão diferente para o assunto em tela.
O primeiro falou com tanto brilhantismo que ela quase se convenceu de que ele estava certo, mas resolveu ouvir todos! Questão de justiça!
O segundo foi tão consistente no arrazoado que ela ficou com dúvida entre os pontos asseverados pelos dois primeiros.
Com o terceiro a situação se agravou. E foi ouvindo e se assustando. Todos pareciam estar corretos. Fez questão de colher o depoimento de cada um e no final não conseguiu saber quem estava certo ou errado. Cada cabeça possuía uma versão que parecia ser a correta.
Acalmou os alunos, expôs seu ponto de vista e disse que não reunia condições de fazer justiça. A seu modo cada aluno detinha certa razão ou todos (todos mesmo) estavam equivocados.
Voltando para casa ela se viu a refletir. Como aquilo era possível? Uma questão aparentemente simples e definitiva tinha muitas variantes interpretativas. Isso se passou entre pequenos alunos de uma humilde escola do interior.
Eis que ela se apavorou! Não seria assim na vida?
Quantas vezes ela, uma professora, tinha ouvido todas as versões a respeito de qualquer assunto? Como ela tinha chegado às suas conclusões políticas? E as filosóficas? O que dizer de suas convicções religiosas?
Sentiu-se uma pessoa injusta. Como seria possível afirmar que estava correta em suas convicções pessoais se não tinha ouvido todas as versões?
Lembrou-se que firmara seu pensamento político com base no que ouvira do seu pai e sem contestar. Filosofia? A mesma coisa. Teve ótimos professores, mas que só lhe mostraram um lado da moeda.
E a sua religião? Foi fácil concluir que o que professava era oriundo de uma tradição que lhe fora repassada por seus pais. Em outras palavras: aceitou a versão de quem chegou primeiro. Sem ouvir o segundo, o terceiro...
Que loucura!
Foi assim que a professora começou a fazer justiça no presente, corrigindo o passado. Despiu-se de preconceitos e foi ouvir as versões dos demais.
Questão de justiça! Honestidade! Coerência!
Será que essa ilustração serve para nós? Por que somos assim? Somos resultado de uma visão ampla da vida? Seríamos fruto da tradição que nos chegou em primeiro lugar?
Essas perguntas inquietantes sempre querem nos lembrar: somos convictos ou alienados?
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Publicação original: 07/03/2008.
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Um comentário:
Prezado xará (Borges), gostei muito do novo visual do seu blog. Ficou clean e interessante. Você poderia me escrever para trocarmos algumas idéias? Desde já, muito obrigado.
michelson.borges@cpb.com.br
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