Imaginemos a seguinte situação, ocorrida em séculos passados, numa época em que a comunicação era precária. Ao final pergunte a você mesmo: eu diria a verdade?
Um barco com várias pessoas, homens e mulheres, naufragou e os sobreviventes conseguiram chegar a uma terra próxima. Era uma ilha de razoável tamanho e com água potável. Nela seria possível sobreviver, mas as pessoas prefeririam o resgate. Muito tempo se passou e o resgate não veio.
À medida que o tempo passava algumas pessoas morreram e outras nasceram. Surgiu uma comunidade provisória. Havia atritos e alguns deles eram violentos.
Os mais antigos, com medo de uma revolta geral e que nela os mais fortes subjugassem os mais fracos, tomaram uma decisão em conselho: iriam infundir medo na comunidade. Implementariam uma esperança. O medo e a esperança serviriam para conter a violência.
Começaram a doutrinar os mais novos dizendo que um dia todos seriam resgatados e que iriam para uma terra maravilhosa. Lá não faltaria alimento e todos viveriam para sempre. Mas só os bons iriam. E mais: nem a morte impediria a ida dos bons para aquele lugar maravilhoso. As pessoas do bem seriam sepultadas num lindo cemitério e aqueles do mal seriam queimados numa fogueira.
Como saber quem era bom e quem era mau? Os antigos criaram uma norma geral e os casos que não estivessem relacionados nas regras seriam julgados pelo sábio.
Quem era o sábio? Era o escolhido. Escolhido por quem? Cada sábio ao envelhecer escolheria um discípulo. Um dia o discípulo e o sábio iriam para o outro lado da ilha (proibido para as demais pessoas) e lá o sábio iria para a terra maravilhosa e o discípulo voltaria - para ser o novo sábio.
Com o passar dos anos e a morte dos mais antigos a geração presente passou a crer em tudo aquilo que foi ensinado. A paz foi instalada. Ninguém queria perder a terra maravilhosa. Os que iam envelhecendo esperavam, pelo menos, que fossem enterrados no lindo cemitério. Ninguém queria ser queimado. Todos queriam o eterno lar.
Foi assim que os sábios conseguiram deter o caos. Medo e esperança! Imaginem se não fosse assim. Seria uma luta sem igual. O mais forte destruindo o mais fraco e o mais fraco se unindo com outros para a guerra contra o mais forte. O estado de guerra seria eterno. Isso mesmo, “eterno” enquanto durasse pois essa situação de animosidade acabaria aniquilando com a vida humana na ilha.
Já leu algo assim? É claro. Muitas vezes, não é?
Vamos ampliar o leque?
Imagine que você esteja naquela ilha e faça parte da geração presente. De tão exemplar que é acabou sendo escolhido para ser o discípulo, seria o futuro líder. O sábio estava velho. Era chegada a hora da viagem para o outro lado da ilha. Você está ansioso pois sabe o peso da responsabilidade.
Um dia o sábio lhe diz: “é hoje é agora”!
Chegando no outro lado da ilha o sábio lhe conta a verdade. Não existe terra maravilhosa. Essa tradição secular foi criada para promover e sustentar a paz na ilha. Ele diz algo perturbador: “agora cabe a você manter a paz ou promover a guerra. Tudo depende do que dirá ao povo quando retornar”.
O sábio morre e você o enterra e, por fim, toma o caminho de volta à comunidade.
Que situação! Ter que decidir por um caminho ou outro: dizer a verdade e esperar pelo caos ou continuar com a tradição e escolher o novo discípulo – futuro sábio.
Quando você chega de volta à comunidade as pessoas o esperam com festa e alegria e perguntam: “como foi que o sábio seguiu para a terra maravilhosa?”
Você é o novo sábio. As pessoas olham para você com respeito.
E aí? O que diria?
Vamos refletir?
E se tudo em nossa volta fosse uma obra de engenharia humana para preservação da espécie? Notou que sempre temos algo a temer e ao mesmo tempo algo bom a esperar? Qual a nossa verdade? Será que se a verdade for diferente dessa que cremos a sua divulgação seria o melhor caminho?
Você gosta de pensar nessas coisas? Eu não apenas gosto: eu preciso pensar dessa forma. É assim que procuro verificar a cada dia se eu sou um CONVICTO ou um ALIENADO...
Enéias Teles Borges
Um barco com várias pessoas, homens e mulheres, naufragou e os sobreviventes conseguiram chegar a uma terra próxima. Era uma ilha de razoável tamanho e com água potável. Nela seria possível sobreviver, mas as pessoas prefeririam o resgate. Muito tempo se passou e o resgate não veio.
À medida que o tempo passava algumas pessoas morreram e outras nasceram. Surgiu uma comunidade provisória. Havia atritos e alguns deles eram violentos.
Os mais antigos, com medo de uma revolta geral e que nela os mais fortes subjugassem os mais fracos, tomaram uma decisão em conselho: iriam infundir medo na comunidade. Implementariam uma esperança. O medo e a esperança serviriam para conter a violência.
Começaram a doutrinar os mais novos dizendo que um dia todos seriam resgatados e que iriam para uma terra maravilhosa. Lá não faltaria alimento e todos viveriam para sempre. Mas só os bons iriam. E mais: nem a morte impediria a ida dos bons para aquele lugar maravilhoso. As pessoas do bem seriam sepultadas num lindo cemitério e aqueles do mal seriam queimados numa fogueira.
Como saber quem era bom e quem era mau? Os antigos criaram uma norma geral e os casos que não estivessem relacionados nas regras seriam julgados pelo sábio.
Quem era o sábio? Era o escolhido. Escolhido por quem? Cada sábio ao envelhecer escolheria um discípulo. Um dia o discípulo e o sábio iriam para o outro lado da ilha (proibido para as demais pessoas) e lá o sábio iria para a terra maravilhosa e o discípulo voltaria - para ser o novo sábio.
Com o passar dos anos e a morte dos mais antigos a geração presente passou a crer em tudo aquilo que foi ensinado. A paz foi instalada. Ninguém queria perder a terra maravilhosa. Os que iam envelhecendo esperavam, pelo menos, que fossem enterrados no lindo cemitério. Ninguém queria ser queimado. Todos queriam o eterno lar.
Foi assim que os sábios conseguiram deter o caos. Medo e esperança! Imaginem se não fosse assim. Seria uma luta sem igual. O mais forte destruindo o mais fraco e o mais fraco se unindo com outros para a guerra contra o mais forte. O estado de guerra seria eterno. Isso mesmo, “eterno” enquanto durasse pois essa situação de animosidade acabaria aniquilando com a vida humana na ilha.
Já leu algo assim? É claro. Muitas vezes, não é?
Vamos ampliar o leque?
Imagine que você esteja naquela ilha e faça parte da geração presente. De tão exemplar que é acabou sendo escolhido para ser o discípulo, seria o futuro líder. O sábio estava velho. Era chegada a hora da viagem para o outro lado da ilha. Você está ansioso pois sabe o peso da responsabilidade.
Um dia o sábio lhe diz: “é hoje é agora”!
Chegando no outro lado da ilha o sábio lhe conta a verdade. Não existe terra maravilhosa. Essa tradição secular foi criada para promover e sustentar a paz na ilha. Ele diz algo perturbador: “agora cabe a você manter a paz ou promover a guerra. Tudo depende do que dirá ao povo quando retornar”.
O sábio morre e você o enterra e, por fim, toma o caminho de volta à comunidade.
Que situação! Ter que decidir por um caminho ou outro: dizer a verdade e esperar pelo caos ou continuar com a tradição e escolher o novo discípulo – futuro sábio.
Quando você chega de volta à comunidade as pessoas o esperam com festa e alegria e perguntam: “como foi que o sábio seguiu para a terra maravilhosa?”
Você é o novo sábio. As pessoas olham para você com respeito.
E aí? O que diria?
Vamos refletir?
E se tudo em nossa volta fosse uma obra de engenharia humana para preservação da espécie? Notou que sempre temos algo a temer e ao mesmo tempo algo bom a esperar? Qual a nossa verdade? Será que se a verdade for diferente dessa que cremos a sua divulgação seria o melhor caminho?
Você gosta de pensar nessas coisas? Eu não apenas gosto: eu preciso pensar dessa forma. É assim que procuro verificar a cada dia se eu sou um CONVICTO ou um ALIENADO...
Enéias Teles Borges
Postagem original: 29/08/2008
5 comentários:
Bem, como detesto mentiras, enganação e manipulação, se eu fosse o novo sábio e tivesse plena certeza de que o sábio anterior me contou toda a verdade, não hesitaria em contá-la para todos na ilha.
Porém, tomaria a precaução de não destruir a esperança, pois ninguém pode garantir que o resgate nunca acontecerá. E quem quer que divulgasse somente isto, estaria tão errado quanto aquele que mentia dizendo que com certeza ele ocorreria.
O perigo de violência dos fortes sobre os mais fracos poderia ser contornado com leis civis que garantisse o direito de todos e punisse os transgressores com justiça. Para estas leis serem cumpridas deveria ser criado uma "força" com poder de garantir o direito e impor as punições.
Mas, se conhecemos bem o ser humano, não demoraria muito para aqueles que estivessem no poder começassem a mentir, enganar e manipular. O fraco seria explorado pelo mais forte, só que tudo dentro da maior legalidade (violência "justificável").
Por outro lado, o mesmo teria acontecido com a perpetuação da mentira dos sábios. Um dia surgiria um sábio corrupto que concentraria o poder e exploraria tanto os fracos como os fortes, criando mais mentiras manipulativas relacionadas à mentira original.
Pessoas boas e más, enganadoras e enganadas, manipuladores e manipulados, sempre existirão independente daquilo que acreditem ser a verdade.
Qual é a solução?
Ensinar o homem que ele precisa fazer o que é certo porque é o certo. E não por falsas promessas e ameaças que nada mais fazem do que camuflar o mau caráter dos interesseiros e medrosos.
E quem define o que é certo?
É neste ponto que eu acredito que todas as religiões e filosofias humanas bem intencionadas convergem:
A REGRA ÁUREA - Fazer para o seu semelhante aquilo que você quer que lhe façam, e não fazer aquilo que você não deseja que lhe façam.
Imaginem se todos pensassem assim como seria este mundo.
Você está pedindo para imaginar. O bom da imaginação é que ela nos possibilita criar qualquer cenário sem a necessidade validá-lo, então, vamos lá.
O que você pede me lembra alguns filmes que já vi (A Ilha, Lost, etc) e algo que vivenciamos, já que estamos "ilhados" num contexto social que preconiza valores morais, religiosos, civis, políticos e etc, os quais vêm sendo passados de geração em geração e aceitos por (quase) todos sem o questionamento necessário.
A questão proposta passa por aquele velho dilema: "verdade amarga X doce mentira". Eu não sei por que "EUzinho" teria sido o escolhido para ser o novo líder. Não me sinto vocacionado para ser um Messias, profeta, escolhido de Deus, Arauto da Verdade Suprema ou algo que o valha. Meu maior compromisso é com a minha própria existência. Decidir o que fazer com a minha própria vida não é tarefa fácil; ocupar-me com a vida dos outros, então, está fora de cogitação no momento. Eu certamente recusaria esse papel de líder e mestre, como o fez "Krishnamurti" e diria a todos que estão enganados quanto a mim. Não sou nem serei o líder que eles esperam e desejam e não tenho nenhuma verdade especial a revelar. O cargo está vago e, portanto, assuma-o aquele que se sentir qualificado para o posto.
Esse tipo de coisa que passa de geração em geração por tradição oral (e às vezes por tradição escrita de origem duvidosa) é sempre passível de contestação. Talvez a questão exija uma terceira possibilidade. Eu trocaria "verdade e mentira" por "ideal e real". O ideal parece ser o resgate, o real é que estamos todos numa ilha por tempo indeterminado. Entre o ideal e o real existe o "possível", o caminho do meio. Então, o que é possível fazer para viver nessa ilha? Como preservar a harmonia? Como tirar proveito da união? Como ser feliz nesse cenário? A esperança de um resgate não é em si má. Torna-se perniciosa no momento em que nos impede de agir no presente tornando-nos arquitetos de nosso próprio destino. Eu diria a eles a minha verdade, que seria mais ou menos assim: "Estamos numa ilha. Essa ilha é o nosso lar. O resgate pode vir e pode não vir e cada um é livre para fazer as próprias escolhas. Quem quiser crer que creia. Quem não se satisfazer com a minha verdade que busque a sua".
Não tenho certezas. Não sei se estarei vivo amanhã. Não sei estarei empregado daqui a seis meses. Nem por isso deixo de viver e de trabalhar. Só os religiosos têm certezas. Quanto mais fanático, mais convicto.
Certo é que aquele que crê sempre encontrará razões ou pretextos para continuar crendo. A crença não se alimenta de provas, sequer exige evidências. Basta-lhe a fé. Quanto mais fé melhor. Em outras palavras, o valor da fé é inversamente proporcional à abundância de evidências. Quanto mais obscura for a noite da ignorância, mais fulgurante será a chama da fé.
Enfim, se estivesse nessa ilha (se é que não estou nela) eu trataria de me cuidar para não ficar neurótico. Faria algumas caminhadas, escalaria as montanhas, correria na praia e tentaria me manter o mais distante possível de qualquer maluco com ares de "salvador da pátria".
Não seria muito fácil ser iual ao Cleiton, pois penso que a mentira é sui generis ou seja, tem caracteristicas próprias.
Existe mentirinha? Aquela usada para preservação da integridade, seja ela própria ou coletiva.
Ser ou não um sábio, como é feita esta esclha? É feita alienatória-mente, ou é pré-estabelecida?
Como disse o Cleiton o ser humano não é muito fácil com certeza daria um jeito de manipular ou deturpar a sapiciência da mentira.
A violência, estará sob o comando do sábio pois, ele usará da manipulação do medo, para conter os fortes e os fracos. Afinal de contas quem não tem medo de ser castigado?
A dúvida nem sempre é reconheci-da, como algo importante para ser discutida. É mais fácil ignorá-la.
Como muitas vezes é benéfica a mentirinha da conviniência.
A pergunta é de que lado queremos ficar?
Vou dizer a verdade: que interessante seu blog, Enéias!
Pa-ra-béns!
Os temas são inquietantes;
você maneja muito bem a palavra escrita;
os comentários têm se tornado cada vez mais curiosos, transformando-se, praticamente, em novos textos sobre o mesmo tema.
Mas, além de tudo isso, o que achei muito interessante neste tópico, em especial, foi o posicionamento do Ebenézer. Que realista e "revolucionário"!... Visualizando-o dentro do comentário que fez, dá até a impressão de que está em pé, falando ao povo da ilha: "Gente, salve-se quem puder! A leitura do mundo que os cerca e o poder de escolha está apenas nas mãos de vocês... Pensem, escolham. Estou tentando fazer o mesmo e cuidar de mim..."
Amei!
Um abraço!
Edleuza.
É muito interessante para não dizer hilário o fato de agnósticos, ateus e ideologias afins falarem que os que creem não tem bases para sustentar sua fé, e que quanto mais fé mais "fanáticos", não seria esse um comentário todo-preconceituoso e absolutista - ah, o absolutismo é uma verdade de crentes né, desculpe. O senhor, autor do blog, e seus adeptos não estão dispostos a procurarem o que dizem querer - a verdade, pelo contrário já tem sua verdade e querem compartilhá-la com outros, sem espaço a diálogos - vocês se tornam na verdade o que querem combater nos "bitolados, fanáticos, e alienados crentes".
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