terça-feira, 28 de abril de 2009

MUITAS MORADAS



Hoje eu saí com um colega de profissão e o nosso objetivo era apresentar soluções jurídicas para um empresário em situação complicada neste momento delicado do Brasil conectado com a globalização.

No trajeto fugimos do tema do cliente e nos centramos em outro assunto.

Além de advogado ele é bacharel em História e está concluindo o Mestrado. A conversa com este amigo tende a ser agradável em função do bom humor que lhe é peculiar. Ademais é culto e de mente bem arejada.

Falamos de religião. Não das muitas religiões existentes, mas acerca da multiplicidade de comunidades que estão surgindo, notadamente no cristianismo.

Afinal por que tantas ramificações?

A resposta dele foi, no mínimo, curiosa: “Deus tem muitas moradas e cada um escolhe um quarto...”.

Não é assim mesmo? Cada segmento é (ou se julga) uma “agremiação” ataviada para o noivo. Cada noiva se considera no direito de vindicar o noivo. Cada noiva acha que é a ideal. São várias, mas qual a escolhida?

É como se o céu estivesse reservado apenas para um único grupo. Neste caso cada membro poderia escolher uma casa ou, pelo menos, um quarto.

Cada grupo religioso, em busca da morada celestial, julga-se um “sortudo”. As pessoas deste “movimento” tiveram a ventura de ter nascido ou evangelizado ali. Quanta sorte! Ou seria uma bênção sem igual?

Que privilégio divino: fazer parte do povo eleito! Eleição maravilhosa em que bilhões ficam alijados. É como se Deus tivesse concedido esta bênção a alguns em detrimento de muitos.

A ironia do meu amigo residia aí. Deus tendo muitas moradas. Apenas um povo eleito e cada um escolhendo um quarto. Esta escolha do quarto é feita aqui e agora. O crente só precisa estar na agremiação religiosa certa. Apenas este mísero detalhe...

Não é fácil estar a um passo da eternidade? Basta apenas ao ser humano permanecer no grupo em que está. Afinal este grupo é o único eleito! E os demais? Ora e daí?
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Postado originalmente no dia 02/02/2008.
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2 comentários:

Luiz Claudio Santos de Souza Lima disse...

Para desafiar a lógica consciente apurada pelo conhecimento, seu amigo precisou estabelecer novas relações semânticas, necessárias para a leitura de textos religiosos. Há dois sentidos para a palavra.

“Em textos religiosos, como a Bíblia, mas também na literatura existem algumas vezes casos nos quais uma palavra é um nome (no sentido literal) para algum objeto e este objeto é um nome (no sentido metafórico ou no sentido espiritual) para algum outro objeto” (Weingartner).

As conseqüências sociais desse malabarismo dialético, entretanto; não podem ser desprezados historicamente e seu amigo certamente sabe a que me refiro.

Luiz Claudio Santos de Souza Lima disse...

PS.: Mas de algum modo, o que é preciso não esquecer, que essa interpretação vai depender do mente e das intenções. Não se pode negar igualmente que a FÉ contribui para o avanço da humanidade.

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