É admirável como a confiança nos faz baixar a guarda, quando o assunto é filosófico/teológico. Às vezes paro e penso: "como fiquei tanto tempo pensando assim?" Resposta: "pensei assim porque confiei e, logo, não questionei". A vida religiosa é pautada pela confiança. O filho confia nos pais e aceita, por verdadeiro, o doutrinamento aplicado. Mais adiante vêm os professores, amigos, líderes religiosos e nada de desconfiança.
Como quebrar a barreira, parar e pensar? Muitas vezes dependemos de um choque, um "milagre", uma reflexão promovida por alguém que já deu um passo adiante. O fato é que depois de passar muitos anos exercitando a confiança eu me dei conta que conhecia (se é que eu conhecia) apenas uma entre milhares de versões. É claro que não estudei todas - seria impossível, mas eu me aprofundei em várias.
Bastaram poucas versões diferentes para que caisse por terra aquela que eu abracei, involuntariamente, desde o berço. Rapidamente migrei da confiança para a desconfiança.
Resultado:
Não precisei saber de tudo, para concluir que o pouco que herdei, está, no mínimo, eivado de superficialidade. Nem precisei enxergar o tudo, para perceber que o pouco que eu possuía não dava nem mesmo para adoçar a limonada...
Antes tarde do que nunca.
Enéias Teles Borges
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Um comentário:
Enéias,
A trajetória do seu pensamento é admirável. Poucos tem a coragem de sequer questionar as bases das próprias crenças, quanto mais admitir para si e para o mundo que mudou de idéia sobre um tema com tamanha influência em suas vidas sociais.
O que tem me soado invariável em histórias como a sua é que, em maior ou menor grau, ao iniciar o processo de questionamento sadio e desapaixonado, todos mudaram seus pontos de vista e sentem-se mais maduros e TOLERANTES.
Uma pena que o orgulho faça com que muitos, ao ler tal testemunho, tendam a pensar que "também já fizeram isso" ao invés de pensar "preciso continuar fazendo".
Abraços.
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