quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Sobre a ética e a moralidade...

Uma missão difícil eu creio que está concluída. Foi a de mostrar às minhas filhas que a boa ética e sã moral independem de religiosidade ou, melhor dizendo, da cultura religiosa. O contexto no qual cresceram e estudaram tem imensa dificuldade para mostrar que é possível ser ateu e ainda assim ser ético e ter moralidade. Assim como existem pessoas boas é más nos centros de fé o mesmo ocorre nos âmbitos daqueles que creem na inexistência de qualquer divindade. Isto que dizer que elas, sendo teístas ou ateístas, estão obrigadas a enxergar esta vertente pura da ética e da moralidade.

Devo admitir que foi uma tarefa árdua. Cresci aprendendo que ser religioso é ser ético e não ter deus no coração é ser louco. Não é um provérbio bem difundido aquele que assevera ser néscio o que afirma não existir deus? Por suposta loucura há um encaixe: o ateu não é ético, logo o ateu conspira contra a moralidade. Algo como um mundo sem limites às mazelas da carne – promovido pelos loucos ateus. Não é isso que, enfim, fica transparente no discurso dos pseudo-religiosos?

Concluo, portanto, que a missão está cumprida e não é de hoje. Até considero minhas filhas como privilegiadas por não terem ouvido desde a infância “que eram filhas da luz” e que fora do contexto de fé no qual cresceram só existem os “filhos e filhas das trevas”.

Neste sábado tecemos comentários acerca da dissociação que há entre ética e religiosidade. Existem éticos em todos os lugares e isso independe de sexo, cor, religião e afins. Eu as ouvi falando longamente sobre isso. Foi gratificante não ver nelas os assustadores indícios da crença espúria: aquela que sugere que só o religioso é bom e, em contrapartida, o não religioso carece de freios morais.

Sinto-me aliviado pois sempre sofri pressão dos “meus iguais” que seguem habitando no centro de cultura religiosa. Quantas vezes eu ouvi algo como “é preciso manter suas crianças sempre na igreja para que aprendam o que é certo e saibam se afastar do que não é justo”. Ou assim: “você tem se ausentado da igreja. Você é adulto, mas sua atitude é prejudicial às suas filhas que necessitam frequentar a igreja...”

Não foi fácil ao longo dos 19 anos de uma filha acrescidos dos 16 anos paralelos da outra. Como é importante ver que entenderam que a ética e a moralidade são qualidades que precisam ser bem desenvolvidas e que para tal não são necessários o incentivo e o chicote dos centros de difusão da fé cega e da faca amolada.

Elas compreendem, é claro, que o ambiente dos centros de cultura religiosa é bom. Repleto de pessoas bem intencionadas, mas que carecem de uma visão mais clara e respeitosa acerca das demais pessoas de outras religiões e das que sequer têm religião - por serem atéias.

Sinto-me, no mês em que completei 47 anos, realizado no que concerne a este ponto importante, independentemente de religiosidade ou ausência dela: deve-se fazer o certo simplesmente porque é certo. Eis o que se pode dizer de ética e de moralidade. Eis o que me deixa com a convicção de que minhas filhas entenderam...

Fonte: [Cultura e Religiosidade].

Enéias Teles Borges
Postagem original: 05/10/2009

2 comentários:

Altamirando Macedo disse...

Enéias,
Tenho um casal de filhos universitários e nunca os levei em igreja alguma.Não corri risco algum, repetindo o mesmo erro imputado por meus avós às crianças da família, verdadeira lavagem cerebral.
Hoje eles podem escolher em que acreditar sem necessidade de indução. Acho que deveria ser proibido a permanência de crianças em igrejas, assim como é em bares, boates e casas de jogos. O mal é o mesmo.Você procura a ética e a moralidade na igreja?

Cleiton Heredia disse...

Os religiosos necessitam desesperadaamente se apegar no antagonismo entre os filhos da luz (os que estão do lado do deus que eles acreditam ser o verdadeiro) e os filhos das trevas (todos os demais que não crêem neste deus exatamente como eles acreditam), pois o livro que consideram inspirado (a Bíblia) ensina isto.

Aliás, só fato de alguém declarar-se do lado de Deus parece fazer com que os religiosos vejam os erros éticos e morais desta pessoa de forma um pouco diferente que veriam em um pagão ou ateu.

Quer exemplos? Como os religiosos vêem estes personagens?

- Noé que se embriagou e deu vexame
- Abraão que mentiu e teve um filho com a empregada
- Jacó que enganou o próprio pai
- Filhos de Jacó que sacanearam com o irmão arrogante
- Davi que aduterou e assassinou
- Povo de Israel que praticou genocídio em nome de Deus

Todos estes são chamados filhos da luz apesar de seus erros serem considerados características dos filhos das trevas.

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