Quanta arrogância!
Enéias Teles Borges
“Como dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta; e não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu” (Apocalipse 3:17).
Eu estava conversando com um religioso, evangélico praticante e lhe mostrei um arrazoado interessante a respeito de determinada doutrina. Ele é bacharel em teologia e em direito. Sua opinião seria importante, pois era uma consulta que me tinha sido feita por cerca de onze pastores e eu queria dividir a responsabilidade da resposta com alguém. Ele me disse que não queria ver, seria perda de tempo, pois ele (o religioso) sabia que aquele arrazoado em minhas mãos estava errado. Eu lhe perguntei como poderia afirmar isso sem ao menos analisar o conteúdo. Ele respondeu afirmando que como o ponto de vista dele estava certo (e divergia do conteúdo que eu lhe apresentava), qualquer argumento que fugisse à sua forma de crer estaria equivocado. Algo como: “não preciso provar droga para saber que não presta...”
Fiquei estarrecido! Como seria possível uma pessoa, que nada sabia do universo religioso, a não ser aquilo que ouviu do avô, do pai e apenas dos membros do seu contexto, julgar dessa forma? Como alguém que conhece apenas uma versão dos fatos pode julgar como equívoco qualquer opinião divergente daquela herdada da tradição?
Quanta arrogância!
Uma pessoa assim se julga eleição exclusivíssima do seu deus. Num planeta com bilhões de habitantes ele é um felizardo (ou abençoado) que faz parte de um grupo ínfimo que detém a “verdade”. Nasceu no momento certo, no país certo, no estado certo, na cidade certa, no bairro certo, na rua certa, na família certa, na religião certa...
Quanta arrogância!
O seu deus consegue ser bondoso com ele e injusto com os bilhões de miseráveis que não pertencem à comunidade dos fiéis na qual se congrega? Arrogância, cegueira, inocência, convicção, alienação (...)?
Quanta arrogância!
O mesmo livro de Apocalipse, no verso 16 do capítulo 3, antes de propor a assertiva citada no início deste texto, deixa claro que será vomitado da boca aquele que se julga rico e que de nada tem falta. É claro que os teólogos de plantão rapidamente pensarão que esse verso se refere à comunidade remanescente, que precisa de um chacoalhar divino para sair da mornidão e se tornar quente, muito quente... Deixemos de lado o interpretar que tanto estudei durante meu bacharelado de quatro anos. O que saliento é simples: quem crê na bíblia só vê suas repreensões dirigidas a terceiros, nunca a ele mesmo?
Convenhamos: é arrogância demais acreditar que quem pensa diferente, quem teve oportunidade diferente, qualquer um, enfim, que pensa de maneira divergente está no erro. Maior arrogância é se escudar na única fonte que possui. São centenas de conceitos teístas e ateístas. Existem pessoas sinceras que estudam muito e que são zelosas. Como alguém, com visão tão curta, ousa desprezar o universo inteiro de informações e chegar a esse tipo de conclusão: “não preciso ver. Sei que está errado. É diferente do que penso. Como eu estou certo, isso aí tem que estar errado”?
Multidão de arrogantes
O curioso é que em todas as agremiações, da fé cega e da faca amolada, existem pessoas assim, que se julgam exclusivamente (unicamente) corretas. Seria interessante reunir todas elas só para ver uma multidão de arrogantes. Cada um com sua visão. Cada visão diferente uma da outra. Cada um se julgando o portador da única verdade “verdadeira”. E cada um se julgando o eleito de seu deus...
Quanta arrogância!
(Postagem anterior: 13/03/2009)
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Enéias Teles Borges
“Como dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta; e não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu” (Apocalipse 3:17).
Eu estava conversando com um religioso, evangélico praticante e lhe mostrei um arrazoado interessante a respeito de determinada doutrina. Ele é bacharel em teologia e em direito. Sua opinião seria importante, pois era uma consulta que me tinha sido feita por cerca de onze pastores e eu queria dividir a responsabilidade da resposta com alguém. Ele me disse que não queria ver, seria perda de tempo, pois ele (o religioso) sabia que aquele arrazoado em minhas mãos estava errado. Eu lhe perguntei como poderia afirmar isso sem ao menos analisar o conteúdo. Ele respondeu afirmando que como o ponto de vista dele estava certo (e divergia do conteúdo que eu lhe apresentava), qualquer argumento que fugisse à sua forma de crer estaria equivocado. Algo como: “não preciso provar droga para saber que não presta...”
Fiquei estarrecido! Como seria possível uma pessoa, que nada sabia do universo religioso, a não ser aquilo que ouviu do avô, do pai e apenas dos membros do seu contexto, julgar dessa forma? Como alguém que conhece apenas uma versão dos fatos pode julgar como equívoco qualquer opinião divergente daquela herdada da tradição?
Quanta arrogância!
Uma pessoa assim se julga eleição exclusivíssima do seu deus. Num planeta com bilhões de habitantes ele é um felizardo (ou abençoado) que faz parte de um grupo ínfimo que detém a “verdade”. Nasceu no momento certo, no país certo, no estado certo, na cidade certa, no bairro certo, na rua certa, na família certa, na religião certa...
Quanta arrogância!
O seu deus consegue ser bondoso com ele e injusto com os bilhões de miseráveis que não pertencem à comunidade dos fiéis na qual se congrega? Arrogância, cegueira, inocência, convicção, alienação (...)?
Quanta arrogância!
O mesmo livro de Apocalipse, no verso 16 do capítulo 3, antes de propor a assertiva citada no início deste texto, deixa claro que será vomitado da boca aquele que se julga rico e que de nada tem falta. É claro que os teólogos de plantão rapidamente pensarão que esse verso se refere à comunidade remanescente, que precisa de um chacoalhar divino para sair da mornidão e se tornar quente, muito quente... Deixemos de lado o interpretar que tanto estudei durante meu bacharelado de quatro anos. O que saliento é simples: quem crê na bíblia só vê suas repreensões dirigidas a terceiros, nunca a ele mesmo?
Convenhamos: é arrogância demais acreditar que quem pensa diferente, quem teve oportunidade diferente, qualquer um, enfim, que pensa de maneira divergente está no erro. Maior arrogância é se escudar na única fonte que possui. São centenas de conceitos teístas e ateístas. Existem pessoas sinceras que estudam muito e que são zelosas. Como alguém, com visão tão curta, ousa desprezar o universo inteiro de informações e chegar a esse tipo de conclusão: “não preciso ver. Sei que está errado. É diferente do que penso. Como eu estou certo, isso aí tem que estar errado”?
Multidão de arrogantes
O curioso é que em todas as agremiações, da fé cega e da faca amolada, existem pessoas assim, que se julgam exclusivamente (unicamente) corretas. Seria interessante reunir todas elas só para ver uma multidão de arrogantes. Cada um com sua visão. Cada visão diferente uma da outra. Cada um se julgando o portador da única verdade “verdadeira”. E cada um se julgando o eleito de seu deus...
Quanta arrogância!
(Postagem anterior: 13/03/2009)
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2 comentários:
- "Quanto mais ignorante, mais arrogante."
- "A ignorância é atrevida."
- "A ignorância não tem dúvidas."
- "Ao ignorante sempre aborrece o sabedor."
- "O ignorante a todos repreende, e mais fala do que menos entende."
- "Ninguém se considera tão ignorante como o sábio, nem tão sabedor como o ignorante."
- "A ignorância não duvida, porque desconhece que ignora."
- "Não há nada tão decisivo como a ignorância."
- "O ignorante é sempre presunçoso."
- "A ignorância não faz perguntas."
- "O ignorante é pouco tolerante."
- "A ignorância obra monstros."
Estimado amigo
É tão difícil reconhecer a própria ignorância...
Não se sinta ultrajado com o ocorrido, afinal, a pessoa com quem você conversou, deve julgar-se muito superior (sic).
Amigo, gosto muito de seu blog. Venho aqui com frequência, gosto do seu estilo e até te ouço falando quando leio suas considerações.
Um grande abraço,
Frank V. Carvalho
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