terça-feira, 17 de maio de 2011

David e Golias


Nota de Editor: O texto David e Golias é outra contribuição do amigo Paulo Vasconcelos, publicitário e expert em relógios antigos. Mais uma reflexão para os amigos leitores. Agradeço ao Paulo pela gentileza de nos permitir a publicação.

Por: Paulo Vasconcelos

Enquanto sós, idealizamos um grande amor. Quando ele nos arrebata, apaziguamos. Depois de um tempo chegamos a sentir falta da praticidade da solidão.

Um grande amor não sobrevive ao cotidiano, apenas um pequeno amor resiste às agruras do individualismo.

O grande amor busca a perfeição. Para tanto exige, cobra e até sufoca. Nos consome e nos inebria. Não há espaço para um grande amor no dia-a-dia dos nossos tempos.

O pequeno amor convive com a falta, com a falha e até com a farsa. O grande amor não admite distância, dissabor e desinteresse. Talvez, ou apenas, a redenção. O pequeno amor se abastece da saudade, no contraponto da presença constante.

Ao grande amor reconhecemos como a última peça de um quebra-cabeça. O encaixe perfeito na figura completa das almas entrelaçadas. O pequeno amor deixa sempre o quadro incompleto, mesmo que haja peças sobrando, pois essas simplesmente não encontram o seu lugar na paisagem.

O grande amor faz do sexo uma brincadeira de criança e nos faz dormir como bebês. No pequeno amor a trepada é providencial e nos revigora.

Grandes são as discussões durante o grande amor. Conceitos são propostos na tentativa de fazer com que as idéias se fundam numa só unidade. O pequeno amor não padece desta utopia, nele só se discute as coisas pequenas, tais como o ciúme. O grande amor nem conhece essa palavra, pois, neste sentido, nada e nem ninguém existe a dois passos de distância.

E pequeno é o amor perfumado, limpo e penteado. O contrário do suado, sangrado e maravilhosamente desarrumado grande amor. O grande amor não aceita desaforo, simplesmente por ele ser o próprio desaforo que provoca a incompreensão dos que amam pequeno.

Amar grande é estar condenado ao fracasso, à tristeza e à desilusão. Só depois de se viver um grande amor é que nos obrigamos a amar pequeno, pois este é mais útil, funcional e substituível.

Assim, deixamos para trás o sonho impossível da felicidade completa, para nos atrelar à pequenez da mera sobrevivência dos nossos eternos corações solitários.

Um grande amor é raro, e se descobre onírico.

O pequeno é o que podemos ter, na medida do ordinário.

Enéias Teles Borges - Editor 
Postagem original: 02/12/2008

Um comentário:

Anônimo disse...

Ineressante!!!

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