quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Questão de confiança

A criança chegou diante de um desconhecido e notou em suas mãos um lápis vermelho. O estranho lhe explicou que era um lápis de cera, para colorir desenhos na cor vermelha. Afirmou que essa era a cor de muitas coisas belas, inclusive era a cor do sangue... A criança ficou um pouco assustada. Sangue? Foi para perto do pai.

E o genitor, para tranqüilizar a criança, disse-lhe vários fatos verdadeiros a respeito da cor vermelha e um falso, para que o filho perdesse o medo. Disse que o sangue não era vermelho.

A criança imediatamente ficou calma. Para ela o estranho tinha mentido e o pai falado a verdade...

Questão de confiança!

Quando se conhece e confia em alguém é natural que se aceite, sem contestações, aquilo que é apresentado. Quando não se conhece é difícil confiar e aquilo que é apresentado, verdadeiro ou falso, quase nunca é aceito, pelo menos num primeiro momento.

A nossa vida é norteada pela confiança. No começo confiamos nos nossos pais que tomaram as providências necessárias para a nossa sobrevivência. Atualmente confiamos em muitas pessoas que fazem parte do nosso contexto e, invariavelmente, as temos como referências para o bem. Quando se conhece e se mantém amizade é natural que se confie.

A questão da confiança se estende ao relacionamento conjugal, ao convívio social e especialmente ao ensinamento religioso. É na religião que denotamos mais a confiança. É quase impossível questionar algo que nos foi transmitido pela família e pela igreja.

Questão de confiança!

Caso um estanho nos mostre algo como um lápis vermelho e nos diga verdade que nos assuste é natural que sintamos medo. Corremos na direção daqueles que nos transmitem segurança e esperamos ouvir algo que nos alente. Ouvindo o que nos tire o medo (verdade ou mentira) a tendência é que aceitemos. É mais fácil aceitar algo de quem se conhece do que de um desconhecido. Não está em questão o certo ou o errado.

Questão de confiança!

Por motivos assim é quase impossível penetrar a mente das pessoas que foram doutrinadas desde a infância. Quem recebeu diretrizes básicas na tenra idade, ministradas por pessoas de confiança, dificilmente mudará de rumo. Mudar para que lugar? Para onde? Para os conceitos de um desconhecido?

Notem que o que está em voga não é a verdade ou o erro, mas o que veio de quem é confiável ou não.

Questão de confiança!

As religiões ocidentais, adstritas ao ensinamento bíblico-judaico, tendem à estruturação com base na confiança. Quem ensinou é conhecido? É de confiança? Logo é verdadeiro...

A questão da confiança faz o doutrinado achar que tem a verdade e mais do que isso: tem a única verdade!

Questão de confiança!

Convite à reflexão: por que não abrir a mente um pouco mais e ouvir o que têm a dizer os demais cristãos, os muçulmanos, orientais (...) e ateus?

Questão de confiança?

Enéias Teles Borges
Postagem original: 09/09/2008
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Um comentário:

Cleiton Heredia disse...

A confiança pode estar relacionada a um profundo conhecimento daquele em quem confiamos (conhecimento de causa) ou pode ser fruto de ingenuidade.

No caso da criança a confiança tem como base a ingenuidade (ela considera impossível que seu pai que a ama possa mentir para ela). Conforme vai amadurecendo e perdendo a ingenuidade infantil, começa a avaliar e refletir racionalmente se o objeto de sua confiança é digno de tal.

Porém, mesmo depois de crescer e adquirir certa maturidade, quanto mais forte o vínculo emocional (especialmente o amor) que mantemos com uma pessoa, mais difícil será fazer uma avaliação objetiva do grau de confiança que podemos depositar nela.

Por isto acredito que em questão de confiança o vínculo emocional supera o conhecimento racional. Exemplo: Se eu te contar uma história e depois vier sua esposa e contar a mesma história divergindo em vários fatos, em quem você irá acreditar?

Alguns podem querer racionalizar dizendo que o amor é conseqüência de se conhecer o ser amado. Pode ser, mas somente de forma parcial. Eu posso conhecer tão bem uma pessoa que sei que ela já mentiu alguma vez, porém como dependo emocionalmente dela serei beneplácito e tendenciosamente favorável em minha avaliação da medida de confiança que nela deposito. Inclusive poderei confiar mais nesta pessoa que sei que um dia já mentiu, do que em alguém que conheço muito bem que nunca mentiu, porém não mantenho qualquer vínculo emocional com ela.

É claro que aqui estamos falando de coisas que não se pode provar de forma categórica e por isto, para se sustentarem como verdades, necessitam serem embasadas na confiança. Exemplo: Se minha esposa chegar para mim e disser que a lei da gravidade não existe, por mais que eu a ame, não confiarei em suas afirmações.

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