segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Bêbado revoltado...


Bêbado revoltado...
Enéias Teles Borges


Eu vinha andando numa das ruas do bairro de Santana, zona norte de São Paulo, à noitinha e reparei que um morador de rua, bêbado como um gambá, pedia cigarro a quem passava perto dele. Por coincidência os três que passaram disseram: “não tenho cigarros, não fumo”. Quando eu passei por ele a resposta que dei foi igual a dos anteriores e ele bradou: “assim não dá! Ninguém tem cigarro. Serei obrigado a deixar de fumar”!

Uma pessoa que passava ao lado comentou comigo: “que absurdo! Ele precisa deixar de beber, também”.

Seria cômico, se não fosse trágico. Um cidadão revoltado porque ninguém lhe dava um cigarro. A revolta era tão grande que, como protesto, ele ia deixar de fumar!

Imaginaram uma situação assim? Pois é: basta vaguear pelas ruas de Sampa para ter inspiração para escrever, inclusive sobre bizarrices. Que mundo é esse? Que cidade é essa?

Comentei o assunto com um colega, num barzinho de esquina. Ele me contou outro pedaço da história.

Esse mesmo bêbado estava fazendo um estoque de cigarros. Pedia para quem passava, mas rejeitava a ponta do cigarro aceso. Não queria acender o seu. Recusava o isqueiro, não queria acender o outro cigarro que ganhara de outro transeunte...

Estava bêbado, mas conservava consciência suficiente para não ser bobo. Imaginem a “figura” lúcida. Que coisa!

Eu poderia ficar muito tempo digitando episódios do meu cotidiano, mas por hora basta.

Postagem original: 01/08/2008.
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