quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Eu sou eu e alicuri é coco

Há uma frase que ouvi muito quando criança: “eu sou eu e alicuri é coco”. Essa consistia numa maneira de deixar bem claro o que se era. Assim como alicuri é uma palmeira (coco) eu sou eu. Essa afirmativa remonta aos tempos do “fio do bigode”. A palavra bastava e era clara, não deixava qualquer tipo de dúvida.

A sociedade hodierna carece de clareza. Necessita enxergar e precisa oferecer transparência. Não se consegue vislumbrar o que reside no interlocutor. Parece existir uma vontade imensa de esconder o que habita a mente. Por quê?

“Eu sou eu e alicuri é coco”. Ouvi meu avô materno dizer isso, meus tios e meus amigos de infância. Lembro-me que quando jogávamos bolinha de gude a palavra tinha valor. Perdeu? Pagava-se! Não tinha como pagar? Pegava uma bolinha emprestada de algum amigo e honrava. Era um tempo interessante e de saudosa lembrança.

Outro dia eu ouvi de uma pessoa a seguinte frase: “eu cumpro meus compromissos, sou uma pessoa cristã”. E precisa ser cristão para cumprir compromisso? A frase bem que poderia ser outra: “eu cumpro meus compromissos, sou uma pessoa de palavra”!

Paira no ar a impressão de que para se fazer o que é correto é preciso vinculação: “faço o que é certo com quem é certo comigo”. Não seria bom dizer simplesmente que “eu sou eu e alicuri é coco”? Não seria mais estimulante ouvir e dizer: “eu faço o que é certo e ponto final”? Tão certo como o alicuri é coco eu sou uma pessoa correta!

Sabem o que é mais interessante? É que ser correto é algo possível em qualquer ano, mês, dia e hora... Ser correto custa muito ou pouco? Está em discussão o custo ou o caráter?

Sabem o que há melhor e também interessante? É que não precisamos esperar por ajuda ou interesse de outros para agir corretamente. Eis algo que mesmo sendo feito de forma individualizada não será tido como ato egoísta...

Não devemos nos constranger em fazer sempre o que é correto, ainda que sejamos poucos neste mundão.

Alguém, quem sabe, poderá questionar: qual o critério para se saber o que é correto? Repondo: pelo menos atentar para o critério da civilidade e respeito ao próximo. Isso independe de norma. Está arraigado no contexto do bom senso.

Enéias Teles Borges

Postagem original: 06/05/2008
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Um comentário:

Cleiton Heredia disse...

Esta sua postagem é realmente muito oportuna, pois você conseguiu atingir o cerne de um dos maiores problemas do mundo atual: relativismo ético e moral (ser correto apenas com os que me tratam da mesma forma ou quando tiver alguma vantagem por trás).

Veja por exemplo o cara que disse: "eu cumpro meus compromissos, sou uma pessoa cristã". Por que o cristão se considera mais honesto que o ateu? Será que é porque ele tem um céu a ganhar e um inferno a evitar, e o ateu não espera nada depois da morte?

Um cristão mais protestante pode tentar explicar: "Não faço o que é certo por causa da recompensa ou do castigo, mas por amor a Cristo". Então tá! Se um dia este cidadão perder sua fé em Cristo por algum motivo, isto quer dizer que ele não terá mais motivação em fazer o que é certo?

Fazer o certo porque é certo custe o que custar é a maior necessidade deste mundo em que vivemos. O oportunismo desmedido alimentado por pessoas que só sabem buscar seus próprios interesses é uma lepra social de alto teor de contágio que acaba isolando cada indivíduo em si mesmo.

Quem escreveu isto estava certo: "A maior necessidade do mundo é a de homens; homens que não se comprem nem se vendam; homens que no íntimo da alma sejam verdadeiros e honestos; homens que não temam chamar o pecado pelo seu nome exato; homens cuja consciência seja tão fiel ao dever como a bússola o é ao pólo; homens que permaneçam firmes pelo que é reto, ainda que caiam os céus." (A autoria é de Ellen White ou de Albert Eiler?).

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