A insatisfação do ser humano pode ser mensurada e de forma individualizada? Cada pessoa pode verificar se é ou não realizada com o que efetivamente é ou deixa de ser? É comum ouvir um indivíduo analisar um outro e sentir vontade de estar no lugar daquele. O rico que vê na riqueza um fardo pode, muito bem, almejar o sossego do pobre. Sossego? É isso mesmo. A tendência normal de cada um é dimensionar em alto grau o seu problema e minimizar o dos outros. O que temos? Eternos insatisfeitos, que se esquecendo das virtudes do viver, concentram-se nas vicissitudes da vida e ficam sempre desejando ter a vida de outra pessoa.
Há que se entender bem: como os defeitos dos outros são minimizados e as virtudes aumentadas a impressão que fica, numa observação turva, é que os outros sempre têm uma vida melhor que a nossa. Afinal tendemos a quantificar as coisas e projetar, em nossa vida, o que é ruim para cima e o que é bom para baixo.
Machado de Assis, gigante da literatura brasileira, chamou isso, poeticamente de circulo vicioso e concebeu um poema assim:
Circulo Vicioso
Bailando no ar, gemia inquieto vagalume:
- Quem me dera que eu fosse aquela loura estrela.
Que arde no eterno azul, como uma eterna vela!
Mas a estrela, fitando a lua, com ciúme:
- Pudesse eu copiar-te o transparente lume,
Que, da grega coluna à gótica janela,
Contemplou, suspirosa, a fronte amada e bela...
Mas a lua, fitando o sol com azedume:
- Mísera! Tivesse eu aquela enorme, aquela
Claridade imortal, que toda a luz resume!
Mas o sol, inclinando a rútila capela:
- Pesa-me esta brilhante auréola de nume...
Enfara-me esta azul e desmedida umbela...
Por que não nasci eu um simples vagalume?
-
Há que se entender bem: como os defeitos dos outros são minimizados e as virtudes aumentadas a impressão que fica, numa observação turva, é que os outros sempre têm uma vida melhor que a nossa. Afinal tendemos a quantificar as coisas e projetar, em nossa vida, o que é ruim para cima e o que é bom para baixo.
Machado de Assis, gigante da literatura brasileira, chamou isso, poeticamente de circulo vicioso e concebeu um poema assim:
Circulo Vicioso
Bailando no ar, gemia inquieto vagalume:
- Quem me dera que eu fosse aquela loura estrela.
Que arde no eterno azul, como uma eterna vela!
Mas a estrela, fitando a lua, com ciúme:
- Pudesse eu copiar-te o transparente lume,
Que, da grega coluna à gótica janela,
Contemplou, suspirosa, a fronte amada e bela...
Mas a lua, fitando o sol com azedume:
- Mísera! Tivesse eu aquela enorme, aquela
Claridade imortal, que toda a luz resume!
Mas o sol, inclinando a rútila capela:
- Pesa-me esta brilhante auréola de nume...
Enfara-me esta azul e desmedida umbela...
Por que não nasci eu um simples vagalume?
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Postagem original: 20/05/2008.
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Um comentário:
rlwwoGrande parte desta insatisfação é criada, provocada e potencializada pela mídia que sabe muito bem que pessoas insatisfeitas são consumidores em potencial.
Isto acontece por exemplo com os telefones celulares. O cidadão tem um bom aparelho, mas de repente vê no comercial da TV um melhor. Imediatamente ele começa a se sentir insatisfeito com o seu aparelho só porque descobriu que existe um mais moderno.
O problema está no aparelho? Não! Ele não tinha qualquer defeito. Sempre foi um bom aparelho. Seu único defeito era não ser tão novo quanto aquele outro recém lançado.
Por outro lado, o fabricante de celulares não lançou o novo porque o modelo anterior não presta, mas simplesmente porque precisam faturar em cima dos eternos otários insatisfeitos.
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