quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Acreditar ou pensar?


A teologia explora a capacidade do homem para acreditar e a filosofia incentiva a qualidade humana para pensar. Acreditar é mais fácil do que pensar. Logo existem mais crentes que pensadores.

A frase acima lhe parece razoável?

Não sei se o poder religioso e a pressão sobre o livre pensar, conduziram pessoas à religião. Também não sei se a ausência de pressão religiosa e liberdade de pensamento empurraram indivíduos rumo à reflexão e análise imparcial (?) da realidade.

Fato é que o universo de pessoas dispostas a crer está aumentando de forma considerável. Eu diria que absurdamente!

A onda de seres dispostos a acreditar num arrazoado que transmite paz e esperança está avançando em direção à terra firme com força avassaladora e o radicalismo e a intolerância tendem a ficar em evidência.

No contexto dos que “acreditam” e o fazem, na maioria dos casos presos à superficialidade ou, quando muito, à tradição, o ateu foi transformado em alvo preferencial. Os que crêem na inexistência de Deus estão proibidos de pensar? Existe um ditame: caso pensem, que pelo menos creiam, acreditem e não questionem. Simplesmente aceitem, pois “está na cara” que o correto é simplesmente acreditar. Alguns desandam a asseverar o seguinte: “não sei como conseguem não crer, afinal crer é mais fácil e lógico”.

Mais fácil e lógico para quem? Para aquele que quer acreditar embalado pelo estandarte da fé? Claro...

Sinto uma tendência à intolerância nos meios religiosos. Como se o ateu fosse uma praga pensante.

Curvo-me, como agnóstico teísta, ao respeito. Sugiro que em primeiro lugar se deva pensar. E caso se queira acreditar, depois de ter exercitado o pensamento, que mal há nisso?

O que é imperdoável para aquele que crê é achar que os ateus não enxergam o “óbvio”. Não seria mais justo reconsiderar o que, em tese, seria o óbvio?

Enéias Teles Borges
Postagem original: 13/04/2008

5 comentários:

Cleiton Heredia disse...

Muito embora sua argumentação tenha enfatizado a polarização excludente que muitos fazem entre o "acreditar" e o "pensar", para mim os dois estão tão intimamente relacionados que ser-me-ia impossível admitir a possibilidade de um sem o outro:

Se a crença não for fruto do pensamento, ela é tola;

Se o pensamento não admitir em algum momento a possibilidade da crença, ele é deveras pretensioso, pois não reconhece as limitações que a ele são impostas pela própria natureza humana.

Por este motivo, tanto os teólogos como os filósofos, deveriam ser sábios o suficiente na exploração máxima do pensamento, mas humildes o suficiente no reconhecimento de suas limitações.

Existe também um outro ponto a considerar: Em se tratando de Criacionismo ou Ateísmo, o pensamento racional e lógico pode consubstanciar tanto um quanto o outro, mas também se há de reconhecer que ambos, em algum momento, precisarão se valer da crença em algo impossível de se precisar pelo puro empirismo científico.

Sua conclusão foi muito perspicaz e sensata:

"Curvo-me, como criacionista, ao respeito. Sugiro que em primeiro lugar se deva pensar. E caso se queira acreditar, depois de ter exercitado o pensamento, que mal há nisso?"

É isso aí!

Ricardo Cluk de Castro disse...

Ótima essa sua reflexão, mas o que mais me chamou a atenção foi quando você utilizou a expressão "queira acreditar" no final do texto.

Quer dizer que depois de muito pensar você opta por acreditar ou não? Eu acho que o acreditar está intimamente ligado ao resultado do pensamento. Não a querer nesse caso. Como disse o apostolo Paulo: "a verdadeira fé tem como base o conhecimento".

Ou seja. você não pode optar por acreditar nisso ou naquilo, mas você tem que se deixar convencer pela razão, caso contrário, para que se dar ao trabalho de pensar?

Cleiton Heredia disse...

Ricardo,

Acredito que o "querer acreditar" mencionado pelo Enéias está correto, principalmente no contexto em que foi inserido, ou seja, "Criacionismo x Ateísmo".

Muito embora o "acreditar" esteja intimamente ligado à ação racional e lógica do pensamento, existem limitações de conhecimento, e é neste momento que entra em questão o querer ou não acreditar.

Permita-me exemplificar: Dois pesquisadores decidem estudar a complexa sequência do DNA. O primeiro, após muito pensar, não consegue conceber a possibilidade de toda aquela precisa estrutura ter se originado do acaso, e então "decide crer" que tudo se originou com um Projeto Inteligente. O outro, também após muito pensar, reconhece a mesma complexidade, mas admite a possibilidade de tudo ser fruto do acaso, pois "decide crer" que tudo originou-se de uma evolução adaptativa ao longo de bilhões de anos.

Como nenhum deles tem como provar sua tese, a decisão de querer acreditar em uma possibilidade ou em outra é válida, mas não obrigatória. Não obrigatória porque existe ainda a opção do agnosticismo.

Ricardo Cluk de Castro disse...

Cleiton,

Eu entendo o seu ponto de vista, mas veja bem. No caso que você citou, o evolucionista se permite questionar pela razão, tanto é verdade que a cada dia uma nova teoria ou descoberta suplanta a anterior e assim a razão do evolucionista vai sendo moldada pelo conhecimento. Já o criacionista bate o martelo na questão da ação de Deus, e não pode aceitar o naturalismo das coisas. Um evolucionista pode até deixar de crer nessa teoria e se tornar um criacionista sem trauma algum, desde que convencido pelo conhecimento, contudo, um criacionista dificilmente mudará seu ponto de vista sem antes sofrer muito por causa do conflito mental que essa mudança causará tudo porque a mente religiosa tem muita dificuldade em se deixar levar unicamente pela razão.
Um evolucionista não crê simplesmente em sua teoria, na verdade ele está sempre em busca de respostas. Um criacionista, pelo contrário, simplesmente crê em sua teoria, e costuma fugir de qualquer coisa que venha questionar sua fé.

Sabrina Noureddine disse...

Essa é uma questão excelente para tratar em um mundo como o nosso, precisamos a cada dia estarmos mais solidários com os problemas que afligem a mãe terra e ao mesmo tempo assistimos diariamente a um número maior de intolerantes, sejam eles religiosos, nacionalistas, ecologistas, imigrantes, etc.

Tenho alguns amigos formados em Filosofia que hoje são ateus, mas eram católicos e evangélicos fervorosos...

Sou católica de criação, espiritualista por opção e casada com um muçulmano xiita, respeito é a resposta para qualquer convivência harmoniosa...

As pessoas são diferentes e quem pode assegurar quem está com a razão?

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