Empurrado por vento forte,
Vindo lá do norte;
Para onde não voltarei.
Tem sido assim na vida de sofridos nortistas e nordestinos que, saindo da miséria da terra natal, aventuram-se no sul do Brasil em busca de outro tipo de norte. Não é fácil! É estonteante.
Quem mais me impressionou ao descrever esta desventura foi Luiz Gonzaga. As músicas dele denotam a paixão pelo norte (e nordeste) e a infeliz necessidade de vir para o sul. É como correr para a morte. E que forma de morte!
A miséria, qual vento fortíssimo, empurra o sofrido brasileiro daquelas terras que até têm alma, mas não oferecem pão. Uma tristeza sem igual!
No sul até pode haver o pão, mas não oferece a poesia do viver tão importante para este nosso povo sofrido, massacrado pela seca e pelo descaso de muitos.
Tem sido assim a vida de muita gente humilde.
O pão vem acompanhado pela dor da distância, do descaso, da indiferença... Mas o que se pode fazer? Conviver com o sofrimento ou aceitar o pão amargo?
Corro para a morte,
Empurrado por vento forte,
Vindo lá do norte;
Para onde não voltarei.
Não há como ficar: morte certa. Não há como voltar: é morte certa. O corpo até resistiria, mas a alma latejante não conseguiria conviver com tanta dor.
Ficar é necessário. A morte não é tão certa, o corpo resiste melhor. É possível conviver com a dor.
A vida deste povo sofrido oferta uma escolha atroz: menos infeliz é aquele que tem a oportunidade de escolher o mal menor. A dor existirá sempre. A escolha é pela menos intensa.
Corro para a morte,
Empurrado por vento forte,
Vindo lá do norte;
Para onde não voltarei.
Nota: O verso que é base do texto foi escrito por mim, quando estudava no Instituto Adventista de Ensino, São Paulo, em regime de internato. Verso de 1980, aula de literatura do Brasil. Migração: atualmente ocorre, quem sabe o inverso. Pessoas retornam ao Norte e Nordeste. A situação por lá está mudando. Estatísticas dão conta desse retorno (nota do dia 15/09/2010).
Enéias Teles Borges
(Postagem original: 03/02/2008)
-
Nenhum comentário:
Postar um comentário