
Num periódico eu li, com grande simpatia, o pronunciamento de um ateu acerca da esperança. Ele disse algo mais ou menos assim: “não posso tirar a esperança de alguém a menos que eu tenha algo melhor para colocar em seu lugar”. Trocando em miúdos ele insinuava que não acreditava na existência de Deus e, portanto, não cria nas convicções dos cristãos. Mas o que ele teria para colocar no lugar daquela esperança? As pessoas estariam preparadas para verdade na qual ele acreditava?
Veio, de imediato à minha mente, uma frase muito usada nesse contexto de fé, crença e descrença: “a ignorância, muitas vezes, é fator de felicidade”. Essa ignorância, da qual trato, precisa melhor ser entendida: por não se saber de determinada verdade ruim é possível ser feliz ou, ao menos, não ficar triste.
Imaginemos uma criança portadora de uma doença mortal que lhe ceifará a vida em poucos dias. Ela não sabe. Precisa saber? Não seria oportuno minimizar-lhe a dor deixando que não saiba da morte iminente? Tirando-lhe a esperança o que seria colocado no lugar? É nesse sentido que me refiro a esperança como fator de felicidade.
A grande realidade é que, nesse assunto de religião (fé e crenças), nós não passamos de crianças. Será que aquilo em que cremos é real? E se não for real é justo ou salutar trazer isso à tona, minando esperanças? No caso em tela a ignorância não deveria ser promovida? Tirando do crente a sua fé o que será posto no lugar? Até que ponto a verdade que corroi deve ser colocada no pedestal em substituição à suposta mentira que alenta?
Não restam dúvidas quanto à utilidade social da fé. Imaginem essa massa deixando de crer. O que viria depois? Imagino (hipótese) que depois da desilusão, decorrente da desesperança, viria o caos. Sem a esperança de uma vida eterna e com a convicção de que a vida atual é efêmera, como reagiria a grande nação mundial da fé? É caso para se pensar e pensar muito! A crença promove resultados formidáveis e que são impossíveis de ser mantidos, a não ser pelo exercício permanente da própria crença. É um tremendo freio social! É uma fantástica máquina criadora (de alienação?) que mantém o povo contrito e longe da guerra. Sem a religião haveria desordem? É provável que sim.
O que está em discussão não é se a religião é um espelho da verdade, mas a sua importância independentemente de ser veraz ou não. Não nos impressiona o fato de que uma suposta mentira coletiva seria o estandarte da paz?
Tenho refletido sobre isso e não é de hoje. Eu diria que o marco inicial foi em 1983, no segundo ano da Faculdade de Teologia. De lá para cá eu comecei a separar “religião” de “cultura religiosa”. “convicção” de “alienação”.
Mas eu respeito o que adiante explano:
Nós humanos precisamos do calor da esperança, pois a vida é dura. Precisamos do fogo abrasador que essa fé nos dá, pois a vida é dura. Precisamos da coragem que a fé nos traz, pois a vida é dura. Precisamos não questionar essa crença, pois poderia nos trazer desilusão, tirando-nos a esperança e sem esperança a vida é dura.
Eis o ponto máximo da questão: nada temos para colocar no lugar da esperança, escudada na verdade ou na mentira.
Nós precisamos dessa esperança, pois a vida é dura!
Enéias Teles Borges
Postagem original: 23/06/2008