
Neste mês de maio eu tive o privilégio de fazer a apresentação de um casal. Em outras palavras: fazer a cerimônia de casamento de duas pessoas cristãs, mas que não são da mesma agremiação religiosa. Não é a primeira vez que exerço esse maravilhoso ofício e certamente não será a última. Acontece que as organizações cristãs têm a característica de só oficiar casamento quando os pretendentes são da mesma “fé”, isto é: do mesmo ente proselitista.
No caso em voga não importa o amor entre os noivos, o caráter de cada um, do histórico irrepreensível dos futuros esposos ao longo da vida. Mais importante para as igrejas e seitas é que se esteja sob a mesma praxe doutrinária. E a essência do casamento é menos importante?
Tenho ouvido de algumas pessoas, ao longo dos meus 45 anos de vida, frases mais ou menos assim: “prefiro que meu (minha) filho (filha) fique solteiro (solteira) a casar com alguém que não seja da minha igreja...” Notem que a preferência principal não é pela felicidade, pela consolidação do amor, mas pela junção de pessoas que pertençam ao mesmo ente dogmático.
Não condeno tal atitude, mas faço ressalvas. Até ouso perguntar: o que você prefere para um querido seu, um casamento com alguém da sua igreja, num primeiro plano, ou que esse seu amado se case com alguém de boa índole? É lógico que a resposta não pode ser: “prefiro as duas coisas”! E quem não prefere?
Ocorre, meus amigos, que a estatística está aí para comprovar que nas igrejas cristãs o número de mulheres está superando ao de homens. De sorte que será impossível que todas as excelentes donzelas se casem com pessoas da mesma profissão de fé.
É hora de preparar instrutores para curso de “descasados” (solteirões, viúvos e similares). Curso para casados (nesse contexto) é moleza!
Outro curso fundamental: “como ser solteirona no século XXI”?
Adianta essa conversa de que Deus proverá? Proverá forças para que a donzela consiga viver só? Convém esperar que o mesmo Deus que multiplicou os pães e peixes multiplique homens bons para todas as mulheres solteiras?
Outro detalhe que tem sido deixado ao largo: como uma mãe que está casada, teve lua-de-mel e uma boa vida conjugal, terá experiência (e coerência) para dizer para a filha: “é melhor ficar solteira do que casar com alguém de outra igreja?”
E se a filha perguntar: “mãe, como é ser solteirona?”. É fácil preferir algo para uma filha sem se colocar no lugar dela...
Faço um convite à reflexão: qual a essência do casamento para você? O casamento com pessoas da mesma instituição é garantia de sucesso? Casamento entre pessoas cristãs, mas de grupos diferentes, é certeza de infelicidade?
Tenho a convicção de que o casal que apresentei, numa linda cerimônia de casamento, tem todos os ingredientes para ser feliz. Especialmente porque o amor foi colocado acima do “instituto proselitista da fé ortodoxa”.
Quando o amor mútuo se põe em evidência, coisas de menor importância saem de cena. Pessoas que se amam com certeza caminharão juntas rumo à convergência, inclusive a da fé. Essa convergência não significa que um passará a adotar a fé do outro. Poderá ser que essa convergência seja a aceitação e respeito às concepções religiosas que cada um tenha...
Por hora eu continuarei exercendo esse privilégio, caso seja convidado, de fazer outros cerimoniais. É fundamental que os noivos tenham em mente a essência do casamento e estejam dispostos a amar um ao outro, a despeito das diferentes formas de exercer o livre arbítrio religioso.
Nota: importante que não pairem dúvidas! Notem que o texto está preso a casamento de cristão com cristão. Exemplificando: batista com metodista, adventista com presbiteriano, etc. As igrejas, em geral, só fazem o casamento se os dois forem rigorosamente da mesma denominação.
Enéias Teles Borges
Postagem original: 26/05/2008
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