Existe uma diferença significativa entre “perder” e “deixar de ganhar”. Perdedor é aquele que, tendo a propriedade de algo, por qualquer motivo deixa de ser o dono. Deixar de ganhar é diferente pois ainda não existe a propriedade, que poderia ser conseguida ou não.
Enéias Teles Borges
Postagem original: 02/09/2009
Partindo desta premissa volto ao assunto ateísmo e teísmo. O teísta que crê num deus pessoal entende que possui a salvação em mãos, pois o mérito foi alcançado pelo salvador pessoal que morreu por ele na cruz. O que pode ocorrer a este religioso? Perder aquilo que possui de forma graciosa.
E no que diz respeito ao ateu? Ele não acredita na possibilidade de existência de um deus pessoal e, logo, não acredita na possibilidade de salvação pelos méritos de um ser que deu a vida em seu lugar.
Quem perde e quem deixa de ganhar? Há mesmo o que perder? Existe o “deixar de ganhar”?
Mais uma vez a situação do ateu nos parece mais confortável. Vejamos: no caso da existência de um deus pessoal o que o ateu perde? Nada! Ele apenas deixaria de ganhar o que sequer acreditava existir. Ainda lhe restaria um consolo: sendo esse deus pessoal um ser de extrema justiça poderia, inclusive, levá-lo para o lar eterno. Afinal o ateu cresceu sob o julgo de uma lei moral que ele desconhecia ou cria não existir, correto?
O religioso, porém, vive uma situação complicada. Vejamos: existindo o deus pessoal ele, o religioso, teria que viver à altura da expectativa do deus pessoal, aceitando-o e permitindo que ele realize o “querer e o efetuar” na sua vida de crente. Por outro lado existe a possibilidade de tudo não passar de uma ficção, isto é, não existindo um deus pessoal, certo? O religioso teria imensa decepção ou, caso tenha morrido, jamais ressuscitaria...
Em resumo:
O ateu tem a chance de conviver com o lucro pois nada tem a perder e se ele, o ateu, não for detentor da verdade ainda poderá contar com a justiça e amor do deus que ele não conheceu ou reconheceu. Caso o deus de amor não lhe dê o paraíso o que mudaria para ele, que sempre acreditou na impossibilidade de salvação?
O mesmo não ocorre com o teísta que acredita na existência de um ser pessoal. Ele pode ser salvo ou se perder, junto com muitos, no caso da existência desse ser. E ainda conta com uma agravante: no caso da inexistência desse ser ele morreria e seria “fim” eterno, conforme hoje acredita o ateu.
O ateu está preparado para o fim e aceitará de bom grado o que lhe vier de graça. E o religioso? Está preparado para a decepção? Quem hoje pode dizer que convive com o lucro ou com o prejuízo? O ateu ou o teísta?
Enéias Teles Borges
Postagem original: 02/09/2009
7 comentários:
Só para irritar os leitores religiosos:
Vai ver que, quando Jesus disse que poucos são os que trilham o caminho da salvação, ele tinha em mente os 2% da população que se declaram ateus (rs).
Enéas,desta vez sua chuva caiu no mar.
Ricardo disse que Jesus tinha em mente 2% da população que se declararam ateus. Hoje somos 90%, uma grande parte se diz cristão para não ser diferente (inquisição).Outra grande parte não afirma ser por temer discriminação da outra parte que também é.Necessita coragem para afirmar ser ateu em público, mesmo não tendo que provar nada.
Enéias,
Suas postagens versando sobre este assunto são muito lógicas e coerentes.
Quanto ao lucro ou prejuízo, analiso isto sempre do ponto de vista desta vida presente. Acredito que ambos podem estar no lucro a partir do momento que são plenamente felizes com as escolhas que fizeram para suas vidas.
Nesta vida o que realmente importa é ser feliz e contribuir para a felicidade dos que nos rodeiam.
Quando se tem isto, crer ou não em Deus torna-se apenas um mero detalhe sem importância.
Mas é claro que aqueles teístas interesseiros que estão de olho na vida eterna não podem concordar com este tipo de pensamento, muito menos com o do meu amigo Ricardo (rs).
Tem muito mais ateu que se imagina (pelo menos no que diz respeito a esse deus antropomórfico inconsistente, incongruente e racista).
Enéias,
Conhecendo você pessoalmente como te conheço, entendo o erro ingênuo que você cometeu nesse texto.
Conhecendo o Ricardo pessoalmente, entendo o motivo que o levou a não perceber isso.
Comparando as duas situações com base em lucro e prejuizo, pendendo a favor do ateísmo, sem perceber você foi traído por sua antiga crença. Explico. Quando que um teísta se decepcionaria? Ao descobrir que não existe uma divindade? E como isso aconteceria? No ressoar das trombetas, no findar dos tempos? Existe um lapso de tempo aonde a verdade lhe é revelada, pressupondo que o destino se encerra determinado pelo acaso? Ou seria "Acaso"? Mas sem dúvida isso foi extremamente revelador.
Desta forma, só vejo passível de um fim frustrante o do ateísta,novamente pressupondo que os teístas estejam corretos.
Ok, mas...
Não existindo Deus, nada existirá após a morte, ou seja, teístas viveram uma ilusão de 60,70, 80 anos. Agora, a existência de Deus propõe a eternidade, e toda ela para que os ateístas mergulhem na angústia consciencial ou no julgo impositivo. Por um outro raciocínio, você pode escolher viver 70 anos iludido, e igualmente feliz, ou pode correr o risco da angustia ou desaprovação eterna.
Caso Deus exista, da forma como o Cristianismo afirma, o ateu honesto (ético) que não o aceita por não acreditar em sua existência, não terá chance alguma? O que é Justiça divina? E o que diz Paulo, sugerindo que cada um será julgado conforme a Lei que tem no seu interior?
Diego: no século XVII já sugeriam o que você propôs em seu raciocínio. A famosa aposta do Cristão. O que não contam é que existem ateus corretos que fazem o que é certo, mesmo não tendo um céu a herdar ou um inferno a evitar.
Isso prova, mais uma vez, que a crença tem o seu valor, mas a religião é pior do que lixo...
Abraços.
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