“O amor próprio é um instrumento útil, mas perigoso: amiúde fere a mão que dele se serve e raramente faz bem sem fazer mal” (J.J. Rousseau).
O que entender da expressão amor próprio? Seria a valorização que o indivíduo dá a si mesmo no contexto da subjetividade? Pode ser e vou ficando por aqui para elaborar o texto de hoje.
Recentemente eu ouvi um coordenador de curso dizendo aos alunos de determinada faculdade de Direito que estes deveriam valorizar a escola na qual estudam ou estudaram. Falar mal do educandário seria tecer ponderações negativas contra os próprios discentes e a conseqüência lógica seria que cada um estaria falando mal de si mesmo. É claro que os alunos não deveriam deixar de exigir um bom nível do curso nem a instituição deixar de crescer em excelência de ensino. A grande verdade é que quando nos insurgimos contra algo que nos pertence estamos diminuindo a nós mesmos.
No plano individual é certo que a valorização de si mesmo é ingrediente essencial para que os semelhantes, que estão no entorno, enxerguem a mesma virtuosidade. Como alguém poderia valorizar a quem não se dá valor?
A questão complicadora está na medida das coisas. O que é amor próprio na medida exata? Seria imparcialidade para enxergar virtudes e defeitos? Eis o “x” da questão! Confundir a importância do equilíbrio com o embrenhar no mundo hostil da famigerada auto-ajuda. Aí sim: um instrumento que deveria ser útil passa a ser perigoso!
Como devem ter notado eu voltei ao tema auto-ajuda. A suposta ajuda que a pessoa dá a si mesma tem sido, no mínimo, inconsistente. É como se o indivíduo olhasse no espelho e gostasse de algo e por gostar, do ponto específico que viu, sugerir aquilo como virtude. Seria uma virtude ou exercício de gosto e preferência?
Infere-se, portanto, que o amor próprio requer equilíbrio para a teoria e para a prática. Na teoria a busca da realidade e da consistência. Na prática o pleno exercício das potencialidades (entre elas a capacidade de suplantar os defeitos).
O exercício do amor próprio, parece-me que passa necessariamente pelo respeito pelos outros. É notório que a implementação do amor próprio requer olhar para o próximo e desejar que ele também exerça tal sentimento.
No “frigir dos ovos” a conclusão parece ser a de sempre: a busca superficial, nos compêndios da moderna auto-ajuda, resulta em frustração futura.
“O amor próprio é um instrumento útil, mas perigoso: amiúde fere a mão que dele se serve e raramente faz bem sem fazer mal” (J.J. Rousseau).
Enéias Teles Borges - Autor
Publicação original: 17/07/2008
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Um comentário:
E se o amor próprio for apenas a capacidade de olharmos para dentro do nosso ser e identificarmos o que em nós precisa melhorar para nos tornamos mais e mais humanos?
Seria então um amor não propriamente próprio, mas um amor pela humanidade inteira
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