A questão da homossexualidade toma novos contornos em função dos estudos específicos. Imagina-se que um novo conceito interpretativo está a caminho. Sendo possível definir a opção pessoal do feto para que nasça dentro do regramento conservador o que se faria? Como as religiões interpretariam essa manipulação? O homossexualismo é doença? O texto abaixo faz uma abordagem interessante do tema.
Pais, filhos e gays
A busca de super-homens é uma quimera longa e trágica na história humana
Será possível escolher as preferências sexuais de um filho? Não, não falo de preferências por ruivas, loiras ou morenas. A questão, levantada pela cibernética "Slate", vai mais fundo: será possível mexer na base neurobiológica de uma criatura e "reprogramá-la" para ela gostar do sexo oposto? Talvez.
Conta a "Slate" que longe vão os tempos em que a homossexualidade era encarada como escolha pessoal ou produto do meio. A homossexualidade é um fato natural - como a cor dos olhos, a pigmentação da pele - e estudos recentes apóiam a tese ao mostrarem diferenças visíveis no cérebro de homos e héteros
Parece que os gays têm cérebros muito semelhantes aos das mulheres hétero. E parece que as lésbicas têm cérebros muito semelhantes aos dos homens hétero.Mas os estudos não ficam restritos a esse retrato. Os cientistas dão um passo além e sugerem que importantes influências hormonais, durante e pouco depois da gestação, determinam a constituição neurobiológica do indivíduo. E, se os hormônios desempenham papel principal, abre-se a porta prometida: "reorientar" os hormônios, "reorientar" a preferência sexual do bebê.
A possibilidade recebe aplausos. A Igreja Católica, confrontada com tal cenário, esquece a sua própria doutrina sobre os limites da manipulação médica e apóia decididamente a busca de uma "terapia" capaz de "curar" a "doença" homossexual.
Mais impressionante é a opinião da maioria: questionada sobre a possibilidade de conhecer a orientação sexual do filho por meio de um teste pré-natal, a generalidade não hesitaria em recorrer ao aborto ou à "reprogramação" caso a sexualidade da criança apontasse para o lado "errado". No fundo, quem não salvaria um filho do preconceito social ou da "doença" homossexual?Fatalmente, a questão é desonesta. Aceitar as premissas do debate lançado pela "Slate" - aceitar, no fundo, que, por meio da ciência, é possível reverter a orientação sexual de um ser humano- é aceitar, implicitamente, que a homossexualidade é uma doença. E, aceitando-o, permitir que a medicina a trate exatamente como trata qualquer doença.
A realidade não legitima a fantasia. A síndrome de Down ou a espinha bífida, por exemplo, são doenças no sentido mais básico do termo: elas impedem que um ser humano tenha uma vida plena. Podemos discutir se a medicina deve e pode "manipular" genética ou biologicamente uma vida humana para erradicar esses males. E podemos discutir se esses males legitimam a interrupção da gravidez.
Mas essas discussões são distintas do problema inicial: reconhecer a Down ou a espinha bífida como fatores objetivamente incapacitantes de uma vida normal.
A homossexualidade não é uma doença. Pode ser motivo de preconceito social, dificuldade relacional, neurose pessoal -mas não é impeditiva de um funcionamento pleno do indivíduo nem põe em risco a sua sobrevivência futura.
Nada disso significa, porém, que não exista uma base neurobiológica capaz de explicar a orientação sexual. É possível e até provável. Exatamente como é possível e provável que certas propensões da personalidade humana -para a depressão, para a liderança, para a criatividade- estejam já inscritas na nossa natureza.
Mas isso não autoriza a medicina a procurar o paradigma do Super-Homem, dotado da dosagem certa de humor, capacidade de chefia, talento para a pintura e para o sapateado. A busca de super-homens é uma quimera longa e trágica na história humana.
Resta a questão final: e os pais? Confrontados com a possibilidade de "reprogramarem" a orientação sexual de um filho ou de descartarem-no via "aborto terapêutico", terão os pais o direito de pedir à medicina esse instrumento seletivo e subjetivo.
Aceitar essa possibilidade é aceitar que, no futuro, os pais poderão determinar a vida futura dos filhos. Escolher a orientação sexual; o temperamento; a vocação intelectual; a excelência atlética ou estética.
Não duvido que a maioria, confrontada com tal hipótese, reservasse para a descendência o cruzamento ideal entre Brad Pitt, Albert Einstein e Pelé.Mas um tal gesto seria uma tripla violência: contra a medicina e a sua função especificamente curativa; contra o mistério e a diversidade da vida humana; mas também contra os próprios filhos, condenados a habitar vidas que não lhes pertenceriam, mas que foram desenhadas pela vaidade, soberba e tirania de seus progenitores.
Fonte: (folha)
Pais, filhos e gays
A busca de super-homens é uma quimera longa e trágica na história humana
Será possível escolher as preferências sexuais de um filho? Não, não falo de preferências por ruivas, loiras ou morenas. A questão, levantada pela cibernética "Slate", vai mais fundo: será possível mexer na base neurobiológica de uma criatura e "reprogramá-la" para ela gostar do sexo oposto? Talvez.
Conta a "Slate" que longe vão os tempos em que a homossexualidade era encarada como escolha pessoal ou produto do meio. A homossexualidade é um fato natural - como a cor dos olhos, a pigmentação da pele - e estudos recentes apóiam a tese ao mostrarem diferenças visíveis no cérebro de homos e héteros
Parece que os gays têm cérebros muito semelhantes aos das mulheres hétero. E parece que as lésbicas têm cérebros muito semelhantes aos dos homens hétero.Mas os estudos não ficam restritos a esse retrato. Os cientistas dão um passo além e sugerem que importantes influências hormonais, durante e pouco depois da gestação, determinam a constituição neurobiológica do indivíduo. E, se os hormônios desempenham papel principal, abre-se a porta prometida: "reorientar" os hormônios, "reorientar" a preferência sexual do bebê.
A possibilidade recebe aplausos. A Igreja Católica, confrontada com tal cenário, esquece a sua própria doutrina sobre os limites da manipulação médica e apóia decididamente a busca de uma "terapia" capaz de "curar" a "doença" homossexual.
Mais impressionante é a opinião da maioria: questionada sobre a possibilidade de conhecer a orientação sexual do filho por meio de um teste pré-natal, a generalidade não hesitaria em recorrer ao aborto ou à "reprogramação" caso a sexualidade da criança apontasse para o lado "errado". No fundo, quem não salvaria um filho do preconceito social ou da "doença" homossexual?Fatalmente, a questão é desonesta. Aceitar as premissas do debate lançado pela "Slate" - aceitar, no fundo, que, por meio da ciência, é possível reverter a orientação sexual de um ser humano- é aceitar, implicitamente, que a homossexualidade é uma doença. E, aceitando-o, permitir que a medicina a trate exatamente como trata qualquer doença.
A realidade não legitima a fantasia. A síndrome de Down ou a espinha bífida, por exemplo, são doenças no sentido mais básico do termo: elas impedem que um ser humano tenha uma vida plena. Podemos discutir se a medicina deve e pode "manipular" genética ou biologicamente uma vida humana para erradicar esses males. E podemos discutir se esses males legitimam a interrupção da gravidez.
Mas essas discussões são distintas do problema inicial: reconhecer a Down ou a espinha bífida como fatores objetivamente incapacitantes de uma vida normal.
A homossexualidade não é uma doença. Pode ser motivo de preconceito social, dificuldade relacional, neurose pessoal -mas não é impeditiva de um funcionamento pleno do indivíduo nem põe em risco a sua sobrevivência futura.
Nada disso significa, porém, que não exista uma base neurobiológica capaz de explicar a orientação sexual. É possível e até provável. Exatamente como é possível e provável que certas propensões da personalidade humana -para a depressão, para a liderança, para a criatividade- estejam já inscritas na nossa natureza.
Mas isso não autoriza a medicina a procurar o paradigma do Super-Homem, dotado da dosagem certa de humor, capacidade de chefia, talento para a pintura e para o sapateado. A busca de super-homens é uma quimera longa e trágica na história humana.
Resta a questão final: e os pais? Confrontados com a possibilidade de "reprogramarem" a orientação sexual de um filho ou de descartarem-no via "aborto terapêutico", terão os pais o direito de pedir à medicina esse instrumento seletivo e subjetivo.
Aceitar essa possibilidade é aceitar que, no futuro, os pais poderão determinar a vida futura dos filhos. Escolher a orientação sexual; o temperamento; a vocação intelectual; a excelência atlética ou estética.
Não duvido que a maioria, confrontada com tal hipótese, reservasse para a descendência o cruzamento ideal entre Brad Pitt, Albert Einstein e Pelé.Mas um tal gesto seria uma tripla violência: contra a medicina e a sua função especificamente curativa; contra o mistério e a diversidade da vida humana; mas também contra os próprios filhos, condenados a habitar vidas que não lhes pertenceriam, mas que foram desenhadas pela vaidade, soberba e tirania de seus progenitores.
Fonte: (folha)
Enéias Teles Borges - Editor
Postagem original: 24/06/2008
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3 comentários:
Olá Enéias,
Será que já pararam para pensar que se o homossexualismo tem haver com a conformação do cérebro, e por isso pode ser encarada como uma doença, uma má formação corporal, isso pode ser um fator genético como as demais doenças, transmitidas de geração em geração?
Se o que estou dizendo se confirmar, vão ter muitos pais de homossexuais sendo questionados quanto a sua sexualidade.
Essa discussão ainda vai longe.
Pelo amor da santa!!!! tenham juízo e façam algo de útil para a humanidade!!!!!
Boa!
Temos que aprender sobre a importância da variabilidade. As discussões são importantes para estabelecer os limites da intervenção humana nos casos limítrofes, já que o que a primeira vista pssa parecer uma doença, sob mudança de circunstâncias do meio poderia ser a salvação da humanidade. Por exemplo; portadores de hemácias falciformes teriam vantangem perante uma pandemia de malária. Não acho que os homossexuais estejam nem um pouco próximos a esse limite e que já deveria ser uma discussão encerrada a aceitação ou não de homossexuais na nossa sociedade, já que não podemos simplesmente decidir o destino de um grupo de pessoas que goza das suas faculdades mentais e não representam qualquer risco para o próximo.
Eu fico imaginando como o homossexualismo pode ter sido importante para conter a recente explosão demográfica, a capacidade de substituir os pais biológicos incapazes de criar os seus descendentes ou de educar as crianças que perderam os seus pais.
Como um homossexual poderia fazer mal a alguém pelo simples fato de sê-lo? Porquê tentaria perder o meu tempo combatendo algo que não me afronta?
Quando alguém diz que os homossexuais afrontam a sua moral, fico imaginando que essas pessoas devem estar com muito desejo de fazer o mesmo, porém não conseguem admitir. O melhor remédio para isso? Afasta de mim esse cálice.
Obrigado por compartilhar
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